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Serpente em nankin e pincel. |
Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.
Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.
Como pode um filme longa metragem não ter diálogos, quase não ter coadjuvantes, ter a maioria de suas cenas em apenas uma locação e mesmo assim ainda ser um filme extremamente cativante, prendendo o seu espectador do começo ao fim, numa tensão cheia de deixas para plot twist? Pois bem, este filme é No One Will Save You (“Ninguém Vai Te Salvar” no Brasil), produção hollywoodiana lançada no ano de 2023 escrita e dirigida por Brian Duffield e estrelada por Kaitlyn Dever. Ficção científica que aborda o suspense da abdução com um pequeno toque de terror e de drama familiar, a película entrega muito mais do que promete, visto provocar inquietação com o seu final aberto para especulações do público e de produtores para continuações.
O “quase não ter coadjuvantes” no parágrafo anterior, não é exagero! Durante os seus 93 minutos de execução, No One Will Save You foca na personagem principal Brynn, que mora sozinha em uma enorme casa de bairro bucólico de cidade pequena do interior norte americano. Somente quando a personagem se desloca até um estabelecimento na comunidade, é que temos coadjuvantes em cena, ainda assim, de participações com pouca plasticidade e que somam apenas à história particular da protagonista, sem efeitos significativos ao elemento ficcional da trama. História particular esta, que explica o isolamento de Brynn, pois fica claro na reação dos citados coadjuvantes e nas reminiscências inseridas durante o decorrer do filme, que há sim, um mal entendido, com o falecimento de sua melhor amiga, Maude, que tem culpa do óbito aferida a si pela família desta.
Já a ausência de diálogos é um elemento de forte tempero no suspense do roteiro. Não é um filme mudo! Os sons ambientes, inserções musicais pontuais, onomatopeias, gemidos, barulhos diversos, estão todos lá, mas dosados equilibradamente com o silêncio, que aqui se faz muito notável numa presença densa que antecipa muito bem todo o terror vivido por Brynn a cada cena. Pode-se até arriscar na afirmação de que esta característica somou grande parte da identidade estética deste filme, já que isto é muito bem explorado pela direção de arte da obra.
A interpretação de Kaitlyn Dever vale observação. Sua experiência como atriz jovem se resume a séries de televisão e papéis coadjuvantes em filmes de pouca projeção. Porém sua entrega para viver a personagem em seu drama, não deixa nada a desejar para grandes estrelas de Hollywood. O fato dela ser enquadrada em quase todas as cenas, sem textos, com foco exclusivamente em sua atuação, lhe exigiu dedicação numa encarnação convincente levando o produto final a ser indicado em vários prêmios.
Sem dar muitos spoilers, em concordância com as sinopses existentes online, Brynn consegue resistir bem a invasão de sua casa, provocando até baixa entre os alienígenas, mas estes além de suas tecnologias e suas visitas surpresas, também possuem poderes telecinéticos, o que torna o embate bem mais difícil. Para piorar mais ainda, o problema não é uma situação isolada, como revelado no final do longa.
De forma funcional, a sutileza é um detalhe importante em No One Will Save You, mostrando porque o silêncio da solidão pode ser tão aterrorizante ao ponto de tirar o sono e incentivar a acender as luzes. Vale muito assistir!
Abaixo reproduzo uma resenha que encontrei na internet de meu segundo livro, o comic book O Desejo Eterno. A qualidade do texto me impressionou ao ponto de eu reproduzí-lo aqui. Uma pena que não colocaram os créditos de quem escreveu a resenha que originalmente está postada neste link (https://proximolivro.net/o-desejo-eterno-mario-orestes-silva/262415).
Carne cortada na faca afiada
Gemido saído da boca calada
Líquido rubro viscoso escorrendo
Calafrio anuncia corpo morrendo
Liga de afetos sofreu ruptura
Mudar radical nossa cultura
Osso quebrado exposta fratura
Na boca sensação de amargura
Em frente postado o algoz
Armado o insano ser feroz
Agonia no corpo pela hemorragia
Destino sem trégua na covardia
Sede reflete falência do corpo
Não falta muito para estar morto
Sorriso sarcástico encara o choro
Lágrima perde o gosto de soro
Fome já nem se sente mais
Sonho agora é apenas ter paz
Situação feita na falta de sorte
Finda a vinda chegada a morte
Muito antes de se tornar uma rock star e ícone punk da contra cultura de Nova York (e porque não dizer “do mundo”?), ela já era performancer, poetiza, escritora, artista plástica, desenhista, pensadora reflexiva e Mulher. Sim! Mulher com M maiúsculo, porque a carismática Patti Smith, nascida em 1946, cedo foi obrigada pelo destino a pular sua adolescência e tornar-se adulta, mediante a vida de uma família pobre que demandava ajuda à mãe, para cuidar de casa e um casal de irmãos mais novos. Boa parte dessa experiência dolorosa e enriquecedora, seguiu-se durante décadas e a acompanha até hoje em sua terceira idade, onde ela ainda continua se apresentando profissionalmente mundo à fora, conforme pode ser constatado em “Só Garotos”, autobiografia comovente desta artista completa, humilde e questionadora. Tudo descrito na primeira pessoa, sem ajuda de ghostwritter, com proficiência de quem está segura em seu ofício.
Ao
contrário do que se possa imaginar, esta obra não esta
específicamente focada em sua música. Nas páginas que senguem-se
numa escrita natural de quem domina muito bem as palavras, tornando a
leitura prazerosa e expectante, acompanha-se primordialmente as
dores, os tropeços, acertos e felicidades de alguém muito bem
vivida e com gosto da formatura de seu legado. O ápice desta obra é
a explícita homenagem àquele que em vida foi seu companheiro e o
grande amor de sua vida, o fotógrafo e também artista
plástico/performático Robert Mapplethorpe, infelizmente
falecido precocemente no final do ano de 1986 pela síndrome da imuno
deficiência adquirida (AIDS). Não apenas homenagem,
mas também registro histórico do trabalho deste ser humano
cativante e do companherismo dedica a Patti. Podemos até arriscar
dizer que, se não fosse por ele, a madrinha do punk não
seria quem é hoje, devido ao enorme incentivo, motivação e
parceria que este dedicou à ela. Mais do que justo este tributo
apresentado desde a capa do livro, pegando praticamente toda
narrativa (mesmo no tempo em que ambos estiveram separados)
até às fotos ilustrativas e às últimas páginas.
Evidente que ela fala de seus discos, de suas músicas, componentes da banda, ensaios e composições do primeiro e emblemático “Horses” lançado no longínquo 1975 até os esboços do que viria a ser o álbum de sua volta à atividade musical “Dream of Life”, lançado em 1988 (dois anos depois da morte de Mapplethorpe). Mas também se descreve suas poesias, suas fotos, seus desenhos, suas exposições e seu pensamento inquietante. Destaques que valem a atenção, estão em seu amor declarado à arte de Bob Dylan, sua morada (com Robert, evidentemente) temporária no famoso Chelsea Hotel, onde se envolveram ativamente com a prolífica cena cultural do entorno e a sua devoção ao movimento beatnik. Nomes como Jim Morrison, Andy Warhol, Janis Joplin, Jackson Pollock, Arthur Rimbaud, Allen Ginsberg, Jean Genet, William Burroughs, William Blake, Charles Baudelaire, Brian Jones e dezenas de outras celebridades passeiam coadjuvantemente por todo texto da brochura, tornando a composição muito bem frequentada.
Em seu leito de morte, Robert recebeu de Patti Smith a promessa, de que ela escreveria a história deles. “Só Garotos” cumpriu sua palavra e não há dúvidas de que, onde quer que ele esteja, Mapplethorpe se orgulhou do resultado final.
Editora Companhia das Letras; tradução de Alexandre Barbosa de Souza; 272 páginas; São Paulo; 2010.
"Não sabemos o gosto da comida, se não experimentarmos o prato. Logo, é normal, termos em nossas vidas, experiências que não valeram a pena, com a única validade de já sabermos o que não queremos repetir.”
"Endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina deveriam ser sintetizadas em uma única cápsula de modo a ser distribuída gratuitamente no Sistema Único de Saúde. Assim, certamente teríamos o fim da depressão. Isso só não é realizado, porque diminuiria significativamente os lucros da indústria farmacêutica."
"Envelhecer com boa qualidade de vida, é uma dádiva que deveria ser exemplificada pragmaticamente. Envelhecer com uma mínima qualidade de vida, deveria ser exemplificada apenas de modo ilustrativo, de forma a não se repetir nunca."
"Diferenças sociais deveriam ser proibidas."
"Em vez de cadeias, os presos de justiça tinham que ser punidos como cobaias vivas para a ciência."
"O altruísmo como obrigatoriedade tendo o respaldo sempre do parecer técnico e científico. Eis a sociedade perfeita, por enquanto utópica para a humanidade."
"Se o planeta Marte já foi habitado com água abundante, rica fauna e flora num passado muito longínquo, temos um alerta de como o planeta Terra ficará daqui a longo prazo, caso continuemos a nos destruir progressivamente. As mudanças climáticas vigentes são prenúncio disso."
"É muito mais fácil trabalhar e conviver com fauna e flora, do que com humanos. Plantas e animais nunca irão lhe trair ou lhe fazer mal algum. Já os humanos, podem lhe aprontar qualquer mazela a qualquer momento, seja no trabalho, na faculdade, na escola, na família, nas ruas, em qualquer lugar e a qualquer hora."
- Conseguimos! Ele perdeu a paciência e mostrou o pinto para as câmeras. A arapuca que nós tramamos funcionou!
- Era só uma questão de tempo pra ele perder a paciência!
- Lógico! Nenhum ser humano resistiria muito tempo, ser chamado de vagabundo, drogado, imprestável, marginal e um bando de outras coisas ruins por dias e dias e dias, de manhã, de tarde e de noite! Ele ainda aguentou foi muito! Toda refeição da mamãe, além dele ajudar a preparar, ainda sentava pra comer com ela, mas a tua ideia de sentar na mesa junto e me chamar pelo WhatsApp, pra eu comer junto, foi genial! Café da manhã, almoço e janta com nós na mesa, detratando indiretamente ele todo dia, fez efeito! Mamãe na ingenuidade dela, nem percebeu essa nossa trama!
- E agora? O que a gente faz?
- Vamos pegar essa imagem dele perdendo a paciência e vamos entrar com um pedido de Medida de Proteção contra o otário! A imagem apenas ilustrará nossos argumentos caluniosos sobre ele. Ele vai ter que sair daqui imediatamente e não poderá se aproximar de mim, por menos de trezentos metros. Três meses de duração a Medida. Depois vocês duas usam a mesma imagem para entrarem com Medida Protetiva também. Como podemos renovar constantemente as Medidas, faremos isso, pra que ele nunca mais possa voltar para casa. Assim, nos livramos dele pra sempre!
- Mas ele vai para onde? Ele não tem para onde ir! Ficará largado na rua com a roupa do corpo e sem acesso a nada dele!
- Problema dele! Que se foda!
- Ele pode procurar alguém da família pra pedir, ao menos, abrigo.
- Tu acha mesmo que alguém vai dar abrigo pra ele, depois que a gente fez a caveira dele, com aquele print do empréstimo que ele fez da mamãe e nós dissemos que foi roubo?
-
Mas se investigarem, vão ver que os R$ 80,00 que ele pegou
emprestado, não é nada, frente aos outros valores robustos que nós
pegamos das contas da mamãe! Só
eu peguei mais de R$ 1.000,00. Tu pegou R$ 700,00, que eu sei!
-
Tu é muito burra! Claro que ninguém vai investigar! Ele
já está estigmatizado pelas drogas!
- Burra é tu! Burra e gorda!
- Tu também tá gorda!
- Parem com isso! Todas nós estamos gordas e a inteligência de vocês é mesmo questionável, mas agora nós temos que nos unir!
- Tem também o papo que nós inventamos que ele rouba mantimentos daqui pra trocar por droga! Ninguém tolera isso!
- E ele não tem emprego, não trabalha e não tem condições de contradizer nós três juntas!
- Ele que é burro! Até que ele fazia um monte de bicos e ainda ganhava dinheiro, mas largou os trabalhos dele, pra ficar cuidando da mamãe vinte e quatro horas por dia! Perdeu até a namorada, o idiota! Trocar uma garota nova, bonita, inteligente, talentosa, estudiosa pela mãe. Não é babaca esse cara?
- Tu vai ver como ninguém da família vai ajudar ele!
- E se ele se matar? O doido tem depressão e usa drogas!
- Tomara que ele faça mesmo isso! Vai atestar nossa versão da história!
- Mas a mamãe vai sentir muita falta dele! Vai ficar chorando no quarto dela todo dia.
- Ele fica grudado o tempo todo na velha, dizendo que está protegendo ela de quedas em casa. Tirando ele daqui, fica mais fácil dela sofrer quedas, assim, ela se vai logo, deixando a casa pra gente.
- Eu já faço a minha parte nisso, trazendo pra mamãe tomar, aquele monte de iogurte vencido, que iam jogar fora lá do trabalho! De vez em quando eu trago!
- A mamãe está demente e só pode fazer aquilo que a gente quiser! Já fizemos ela assinar a guarda, passando a cautela dela e das contas dela pra nós! Ela nem sabe o que assinou!
- Beleza! Agora a gente vê o que dá pra gente rachar do dinheiro das duas pensões dela e deixar um pouco pra ela.
- Deixar porra nenhuma! Agora é tudo nosso! De vez em quando a gente deixa só um trocadinho na carteira da mamãe, pra não dizer que deixamos ela sem nenhum dinheiro.
- É! Com esse dinheiro fácil que a gente ganhou, fica mole pra gente ficar mantendo tudo na casa, de forma que não falte nada pra mamãe. Vamos chamar o Ministério Público, que trará assistente social e psicóloga, atestando que não deixamos faltar nada pra velha! Mais a Medida Protetiva, o estigma das drogas e o testemunho dos parentes, fica tudo a nosso favor! Com a Lei do nosso lado, o plano está com sucesso garantido!
- Finalmente a casa será só nossa! Com a cautela da mamãe, não precisamos nem dar alguma satisfação para ela sobre qualquer mudança que e agente queira fazer na casa!
- Antes disso eu já fazia o que queria, sem dar nenhuma satisfação. Lembra do aparelho de ar condicionado antigo da mamãe? Nem precisei falar pra ela o que eu fiz com o aparelho! As reformas na casa idem! Quando mamãe via, já tinha um peão trabalhando aqui e eu nunca precisei, nem mesmo, pedir autorização dela! Agora então, que ela tá com alzheimer, é que eu não vou dar mesmo nenhum tipo de satisfação pra ela!
- Mamãe tá inválida e sob nossa cautela! A gente faz o que quiser com a casa e com as pensões dela, que somam mais de R$ 7.000,00, sem precisar dar nenhum tipo de satisfação pra ninguém! Agora a casa é nossa! Mamãe não manda mais porra nenhuma e a gente faz o que quiser aqui!
- Sempre quis dinheiro mole! Por isso que não fico nem um ano em um emprego. Trabalhar pra quê, se a gente pode ficar mamando as pensões da velha? Ei, falando em grana, me passa logo uma parte aí, pra eu cobrir o custo que eu tive fazendo aquela macumbra em cima dele! Teve até sacrifício de bode! Foi coisa pesada! Por isso que ninguém acredita mais nele! Tá todo mundo envolvido, sem saber!
- Mas tem gente na família que não acredita em macumba!
- Independente de um ou outro não acreditar, a merda foi feita e como tá todo mundo envolvido, a maioria já garante!
-
Porra, tu mandou matar mesmo bicho, pra fazer a macumba? Tu é doida
mesmo!
- Eu não! Foi a macumbeira, que garantiu ficar mais
forte a porcaria desse jeito! Mas foi caro e eu quero, pelo
menos, uma parte boa do
dinheiro como reembolso!
- Depois a gente vê isso! E agora?
- Agora deixa comigo que eu faço a parte burocrática com o Ministério Público! Depois eu vou só orientando a participação de vocês!
- Beleza! Então acabou, né?
- Acabou! Nós vencemos e ele será cancelado!
No programa disponível no link abaixo, o professor e músico Lúcio Anunciação divulga o meu livro Fúria e Subversão - História do Punk Rock/HC em Manaus, além de discorrer sobre generalidades do rock, ilustrando o Dia Mundial do Rock.
Veja o programa no link: https://www.youtube.com/live/T6ByNrByLF0