Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Mais Ainda Aforismos De Orestes

“A música tocada ao vivo é como uma fruta madura.  LP em vinil é o suco natural da fruta.  CD é o suco artificial da fruta.  MP3 é a fruta em comprimidos”.

“Religião é muito importante para a comprovação do placebo”.

“Depilo virilha feminina”.

“Cargo político deveria ser trabalho voluntário”.

“Policial, delegado, advogado, político ou juiz que forem contra a regulamentação do uso da maconha, se não forem corruptos e ganharem muito dinheiro em cima da proibição, são muito burros para não perceberem a realidade a respeito do tema”.

“Se existe amor sem sexo, então está perdoado o sexo sem amor”.

“Para administradoras de cartões de créditos e banqueiros, não existe ‘filantropia’.  Só existe ‘fila doentia’”.

“A política brasileira é uma tragédia, com efeitos de comédia e disfarçada de romântica”.

“Se a lua é fonte de inspiração para o romantismo, o sol é fonte de inspiração para a esquizofrenia”.

“Deus é brasileiro sim.  Por isso que o mundo é dominado pelo demônio que é multinacional”.

“Prostituição, drogas e corrupção são entidades onipresentes.  Estão nas faculdades, nas famílias, nas igrejas, nas instituições etc.”.

“Se o incesto for realizado com interesse mútuo, deve ser liberado e até incentivado”.

“A desgraça indígena começou na chegada da colonização”.

“Para o cargo de Ministro da Economia, deveria ser contratado algum professor da rede pública municipal que seja pai de família”.

“Quando os computadores começarem a sua auto produção sem interferência humana, será o início de nossa extinção”.

“O Santo Sudário é real sim.  Ele é um magnífico trabalho artístico de um grande artista que preferiu ficar anônimo”.

“Os extraterrestres já estão entre nós.  Hebe Camargo e Sílvio Santos são alguns deles”.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Especial English Dogs

Neste sábado (dia 28 de maio), o programa Vertical Classic Rock estará realizando um especial com a banda English Dogs, onde explorará músicas de toda a carreira do grupo, apresentando um panorama geral deste grande expoente do punk rock/hard core internacional.
O grupo inglês de hard core/crossover em sua formação clássica
Formada no ano de 1981, a banda inglesa de hard core English Dogs, teve em sua primeira formação os músicos Ade Bailey nos vocais, Graham Gizz Butt na guitarra, Jon Murray na segunda guitarra, Wattie Watson no contrabaixo e AndrewPinchPinching na bateria.  Já no ano seguinte gravam suas duas primeiras demo tapes, que lhes garantiram credibilidade para saírem em excursão pela Alemanha e Inglaterra abrindo shows do Discharge e do GBH no ano seguinte.  Também neste ano gravam o primeiro disco, um EP chamado “Mad Punx And English Dogs”.  Em 1984 sai o primeiro LPInvasion Of The Porky Men”, que tem um título com referência direta à polícia.  No mesmo ano lançam outro EP com o nome de “To The Ends Of The Earth” e apresentam uma forte influência de heavy metal no som.  Na verdade, o grupo abraça a filosofia de um movimento que havia sido criado no meio musical underground.  O “Crossover” tinha como ideal principal a união de todas as tribos em prol de um bem comum, que era a luta contra todo sistema de governo.  Os shows começaram a ser frequentados por todo tipo de simpatizante com as idéias propostas.  Punks, hippies, junkies, skatistas, skinheads, headbangers e outros, estavam entre o público que era simplesmente proibido de brigar e tinham a obrigação de praticarem a tolerância entre si.  Em 1985 gravam o disco “Forward Into Battle” que reforçou a sonoridade com a fusão de punk e metal.  Uma curiosidade é que o movimento foi criado na Inglaterra, mas foi nos Estados Unidos da América que grandes bandas aderiram à causa.  Alguns nomes que assumiram foram Stormtroopers Of Death (ou simplesmente S.O.D.), Suicidal Tendencies, Anthrax, Dirty Rotten Imbecils (ou D.R.I.), Voivod, Living Colour entre outros menos conhecidos.  Em 1986 sai mais um EPMetalmorphosis”.  No ano de 1987 gravam o disco conceitual “Where The Legend Began”, que tem suas letras abordando o universo de “Senhor Dos Anéis” do escritor J. R. R. Tolkien.  Após esse trabalho o grupo se desfaz.  Em 1994 a banda retorna com nova formação e grava o disco “Bow To None”, que retorna com a sonoridade hard core.  Desde então, o grupo nunca mais voltará a tocar crossover, mantendo sua sonoridade fiel à suas raízes punks, mas logo após, novamente o English Dogs interrompe suas atividades.  O guitarrista Graham Gizz Butt monta o grupo de tecknoProdigy” em 1996, com o qual faz bastante sucesso.  Três anos depois Gizz deixa o Prodigy e remonta novamente o English Dogs, gravando o álbum ao vivo na Finlândia “I’ve Got A Gun”.  No ano de 2007 o grupo tem quase todos da formação original reunidos, com a exceção do baterista, que passa a ser Stu.  No ano posterior gravam o disco “Tales From The Asylum” e continua em atividade até hoje fazendo shows.
            O programa Vertical Classic Rock é produzido, dirigido e apresentado por Mário Orestes e vai ao ar todo sábado das 14:00 as 16:00 (horário Manaus) na web radio Vertical – O Portal Rock da Amazônia.  Pode ser escutado no site da rádio www.radiovertical.com.  Qualquer informação sobre o programa, bem como resenhas de discos, de filmes, entrevistas com bandas e divulgação de shows e festivais, podem ser acompanhadas no blog http://verticalclassicrock.blogspot.com/.

domingo, 22 de maio de 2011

Uma Conversa Sobre Naturismo

Jorge Bandeira contando a história do Naturismo
Orestes falando sobre Naturismo e Meio Ambiente
       O texto abaixo é de autoria do amigo Jorge Bandeira.       


   O Graúna marcou presença na Faculdade Martha Falcão, localizada no bairro Adrianópolis em Manaus, no dia 21 de maio. Jorge Bandeira e Mário Orestes, que inclusive é ex-aluno da faculdade, falaram sobre os mais diversos aspectos que envolvem o naturismo. Uma seleta platéia ouviu atenta as explicações sobre nossa filosofia naturista, um histórico feito pelo Bandeira sobre o Naturismo no mundo, no Brasil e no Amazonas. Orestes exibiu um excelente material em power point, onde dissetou sobre os conceitos inerentes ao Naturismo e ao Meio Ambiente. Antes das palestras foi exibido  documentário Naked World (Mundo Nu), sobre o trabalho do fotógrafo estadunidense Spencer Tunick. Ao final da palestra abriu-se os debates, que foram muitos e proveitosos, onde a plateia interviu querendo saber mais sobre a prática do naturismo. Estiveram presentes, do Graúna, além dos palestrantes: Grace e Iran. Montamos também um stand com documentos diversos de nossa natuteca, e também distribuímos nosso calendário de bolso aos participantes. O Graúna agradece à Faculdade Martha Falcão e a seu Departamento de Comunicação, especialmente a querida Angelita, aos professores Abrahim e Claúdia. Ficou disso tudo, deste ótimo encontro, outro convite para retornarmos em setembro à Martha Falcão, onde vamos participar de uma programação mais ampla, incluindo um ciclo cinematográfico. O bom também e que esta atividade foi registrada pelo Darlan (fotos e filmagem), o que vai render mais um DVD de registro naturista para nosso acervo de divulgação de nossas atividades naturistas e ambientais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Participação Na 1ª Feira Tecnológica E Científica Do Ensino Fundamental

                O Texto abaixo eu escrevi para o blog dos voluntários do Greenpeace.  Procurei usar uma linguagem bem jovial e nada muito técnico.

Voluntários passando as informações para os estudantes
            Localizada num bairro da periferia da cidade de Manaus, a Escola Municipal Raimundo Botinelli, convidou o Greenpeace para participar da 1ª Feira Tecnológica e Científica do Ensino Fundamental na data do dia 11 de maio. O nosso grupo de voluntários foi lá e participou com toda categoria de quem está no terceiro setor para promover a defesa do meio ambiente de forma pacifista.

A espaçosa quadra poliesportiva coberta estava repleta de stands de várias ONGs e Instituições diversas. Tudo combinado em stands padronizados, mas conseguimos um diferencial com nossa chamativa barraca. Não tinha como não olhar pra estrutura verde composta de lindos banners informativos e de voluntários também esverdeados. Os voluntários presentes: Mário Orestes, Claudia Maria, Rafael Ladislau, Simone Leal, Bruno Leão, Ronaldo Guilherme e Carlos Alberto, quase não tiveram folga com a quantidade de alunos, professores e visitantes presentes constantemente no stand e que se informavam a respeito de aquecimento global, queimadas na Amazônia, dos perigos da energia nuclear e as inúmeras viabilidades das fontes de energias renováveis. Tudo passado de forma didática, esclarecida e bastante divertida. Os prospectos sobre os temas tratados quase se esgotaram, mas satisfizeram a todos no tocante a informação.
A barraca do Greenpeace com presença constante de visitantes
     Com um notebook, o grupo disponibilizou para o público participação na cyberação da petição contra a construção de Angra 3. Muitos estudantes, nunca haviam tido contato nenhum com o Greenpeace. Outros mais, nem sabiam da existência da ONG. O mais gratificante mesmo foi a oportunidade de levar a essas pessoas, não apenas a informação da existência do Greenpeace, mas sim, a conscientização de que temos de tomar um posicionamento a respeito de todas essas questões ambientais que afetam nossas vidas diretamente. Sempre frisando também a importância de uma visão sustentável nos recursos de forma a deixá-los disponíveis para as futuras gerações. Tudo era absorvido pelos atenciosos alunos.
         Em 4 horas de atividade, as expectativas foram superadas. Contatos trocados com professores para outras atividades semelhantes, material quase todo distribuído, algumas participações na petição online e 120 visitas registradas em nosso stand. Sensação de dever cumprido e estímulo renovado para continuarmos levando nossa mensagem verde para aqueles que serão parte do futuro de nosso país. Que venham outras escolas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Participação Em Palestra


FACULDADE MARTHA FALCÃO/GRUPO AMAZÔNICO UNIÃO NATURISTA
“Sábado Acadêmico”
DIA 21 DE MAIO DE 2011.
HORA:   08:00h
LOCAL: FACULDADE MARTHA FALCÃO
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA:  18 ANOS.
TEMA
HISTÓRIA DO NATURISMO
NATURISMO NO BRASIL
NATURISMO NO AMAZONAS
NATURISMO E MEIO AMBIENTE
Palestrantes: Jorge Bandeira / Mário Orestes
“Conheça o Naturismo e sua História”

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Postagens Não Serão Mais Diárias

Uma das primeiras coisas feitas no dia era a postagem no blog.  Por várias horas me dedicava a preparar a postagem para o dia seguinte.  Claro que algumas eram apenas meros textículos comunicativos ou apenas legenda de algum vídeo do You Tube.  Porém há aqueles escritos que demandavam mesmo horas.  Algumas postagens, como foi o caso do conto “A Tragédia Hematófaga”, demandavam semanas de trabalho, até porque a escrita não me é um “ganha pão” a ponte de eu me dar o luxo de poder tirar, todos os dias, várias horas para essa arte prazerosa.
O que quero dizer?  Não esperem mais postagens diárias.  Desta forma, a satisfação me chegará com mais espontaneidade.  Parágrafos e mais parágrafos poderiam esclarecer mais meus sentimentos junto com toda e qualquer justificativa, mas pouparei algum leitor do desabafo e contando ou não com compreensão, a decisão está tomada.  Passamos para outro estágio do inferno, com toda referência a Dante Alighieri.

domingo, 8 de maio de 2011

Ghost In The Shell - Trailer


Depois de resenhar “Ghost In The Shell”, faço questão de colocar aqui o trailer.  Quem não conhece, dê uma conferida.  É uma animação muito bem feita, com um roteiro excelente que faz referência direta a “Blade Runner” e o que é melhor, com a sensualidade da protagonista principal semi nua em quase todo o filme.  Pra vocês terem idéia, foi uma das influências à série “Matrix”.

sábado, 7 de maio de 2011

Rejeitados Pelo Diabo

Lançado no ano de 2005, “Rejeitados Pelo Diabo” (The Devil’s Rejects) é a continuação do filme “A Casa Dos 1000 Mortos” (House Of 1000 Corpses).  Ambos dirigidos e escritos pelo músico, escritor e produtor Rob Zombie.  Sendo que “Rejeitados” é inquestionavelmente superior a seu antecessor.  A produção de 109 minutos tem ares de trash movie com baixo orçamento e apelativo na violência, mas a direção fiel ganha muita qualidade com a excelente atuação do elenco, os diálogos fortes e a ótima trilha sonora.
O poster do filme de Rob Zombie
O roteiro mostra uma família de psicopatas atuando em pleno ano de 1978, formada por Baby Firefly (a deliciosa esposa de Rob, Sheri Moon), Otis Driftwood (interpretado por Bill Moseley) e Capitão Spaulding (Sid Haig).  Também contam com a ajuda de Charlie Altamont (Ken Foree), mas posteriormente são traídos por ele.  A perversidade dos loucos faz dentre suas vítimas, ainda do primeiro filme, o irmão do xerife John Quincy (vivido por William Forsythe), que agora busca vingança pelas próprias mãos numa perseguição que corta cidadelas do oeste norte americano.  Ainda há a participação do competente Danny Trejo (sempre presente nesses tipos de filmes) como Rondo.
A insanidade dos protagonistas chega a ser perturbadora a ponto de colocarem a classificação do filme para maiores de 18 anos.  Algumas de suas vítimas mostram essa perturbação, em se verem inseridas nos jogos doentios e carniceiros do grupo de malucos que, apesar de psicopatas, são calculistas em suas ações e planejam tudo antes de partirem pra prática.
Quanto à trilha sonora, Zombie casa a mesma com as imagens de modo magnífico, denotando uma maestria única, talvez pelo fato dele ser músico e ter claramente sido influenciado por parte das clássicas bandas e canções que compõem a lista.  Terry Reid, The Allman Brothers Band, Otis Rush, Joe Walsh e The James Gang são apenas alguns nomes dentre os 29 presentes.  Mas é na cena final do filme onde a dramática sequência em câmera lenta encaixa maravilhosamente com a linda “Free Bird” do Lynyrd Skynyrd.  Vale até repetir a cena para apreciação mais caprichada.
A última cena emocionante
Num filme recheado de estrelas dos anos 70 e 80, não poderiam faltar referências a outras obras e nomes marcantes na arte.  Elvis Presley, Groucho Marx, Cheap Tricky e Johnny Cash são algumas facilmente identificadas.
Rejeitados Pelo Diabo” é o tipo de filme que prende a atenção do começo ao fim e promove satisfação naqueles que gostam de ver uma dose cavalar de ultra violência em cenas, sem cair no clichê de meros assassinatos causados por um serial killer.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Melhor História Em Quadrinhos Já Feita

A explicação para a afirmação de que Watchmen é a melhor história em quadrinhos já produzida até agora, cabe à inovação revolucionário que esta causou ao ser lançada, influenciando cinema, animes, games e outras histórias em quadrinhos.  Escrita brilhantemente por Alan Moore, desenhada por Dave Gibbons e colorida por John Higgins, esta obra prima foi lançada originalmente pela DC Comics de 1986 a 1987 em 12 edições mensais.  Posteriormente a série foi lançada encadernada em volume único.
The Watchmen na boa versão cinematográfica
A inovação já começava no formato.  Seu sucesso imediato ajudou a popularizar o chamado “formato americano”, popularizando também as “graphic novels”, sendo estas direcionadas para um público mais adulto, diferentemente do consumidor usual (até então) de histórias em quadrinhos.  A justificativa está na abordagem do tema.  Uma sátira direta aos quadrinhos de super heróis.  Exatamente o que vigorava e dominava o mercado americano da época.  Watchmen é um grupo de heróis, fantasiados aposentados, que decide retornar à cena para investigar o assassinato de um dos membros do grupo.  Porém, o caráter violento, irônico e sociopata de alguns, mostra-os mais como anti heróis.
Para montar a saga, Moore formou seus personagens baseados em heróis já existentes, mas agregando elementos de vários outros personagens, conseguindo assim, originalidade com referências diretas, sem problemas com direitos autorais.
A deliciosa Espectral
Em pleno clima de guerra fria da década de 80 (o enredo da história ocorre, mais precisamente no ano de 1985), o grupo de heróis encontrava-se aposentado, até mesmo pela pressão que sofreram com um decreto de lei que obrigava qualquer justiceiro mascarado ou fantasiado a se registrar no governo para serem supervisionados em suas ações.  Sendo que destes, apenas dois continuaram em atividade autorizada.  São eles: o Comediante, vivido pelo violento Edward Blake, que passou a atuar para o governo como uma espécie de justiceiro de aluguel e Dr. Manhattan, físico nuclear Jonathan Osterman, que após um acidente de trabalho é desintegrado, mas consegue reagrupar o seu organismo ganhando o poder do controle da matéria e dos átomos, podendo inclusive viajar no tempo, no espaço, multiplicar ou transmutar o seu corpo (na verdade, Dr. Manhattan é o único que possui super poderes equivalendo-se a um Deus).  Um deles ficou atuando na ilegalidade.  Rorschach (Walter Kovacs) um excelente detetive, violento, pessimista e totalmente anti social vive como fugitivo da polícia por ainda combater o crime mascarado (tornando-se um terror para os criminosos), sem a obrigação de se registrar ao governo.  Os demais se aposentaram.  Ozymandias, assume sua identidade verdadeira de Adrian Veidt.  É um milionário egocêntrico considerado o homem mais inteligente do mundo.  Sua inteligência é tanta que se tornou um mestre em artes marciais e esportes, chegando a ponto de se esquivar de tiros por conseguir calcular a velocidade das balas em suas trajetórias.  O Coruja, com o alter ego de Dan Dreiberg, também milionário, mas com uma vida bem mais modesta que Veidt.  É especialista em alta tecnologia e abusava de artefatos dessa natureza para o combate ao crime.  E Espectral vivida por Laurie Juspeczyk, uma gostosa vigilante ex esposa de Dr. Manhattan.
A trama começa a se desenrolar quando Comediante é assassinado e Rorschach passa a investigar o crime, com a certeza de que a morte é apenas o começo de uma espécie de vingança para com o grupo.  O que enriquece a história é o fato dela ser entrecortada com episódios biográficos de cada personagem, sendo que cada biografia mostra aventuras e referências diversas.  As referências são tantas que variam de passagens da Bíblia a Jimi Hendrix, Nietzsche e Bob Dylan.  É preciso várias leituras de Watchmen para se começar a compreender toda a linearidade e a perceber as inúmeras referências existentes na série que estão expostas tanto no texto, quanto nos desenhos.
No ano de 2009 a história deu origem a uma super produção cinematográfica homônima muito boa e bastante fiel à HQ.
Sucesso unânime de público e crítica, Watchmen ganhou vários prêmios e consta como melhor literatura até mesmo dentre listagens de romances, sendo em alguns casos, a única história em quadrinhos a alcançar essa proeza.  Existem sites inteiros dedicados à obra que já foi inclusive tese de mestrado e até hoje é estudada por escritores e roteiristas do mundo todo.  Uma verdadeira lição de história bem escrita.
Quem não leu, deve ler para ter um mínimo de entendimento sobre a complexidade e importância das histórias em quadrinhos no gigantesco universo das artes em geral.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Tragédia Hematófaga

Faltam poucos anos pra minha aposentadoria.  Portanto, um caso como este me servirá apenas como cumprimento de rotina e não deverá ser algo de periculosidade relevante.  Sua natureza, na verdade é bem comum nesse tempo de aliciações, comércio sexual e trabalho escravo.  Sumiço de pessoas.  O estranho é que as ocorrências parecem suceder num teatro, de uns tempos pra cá.  Outra curiosidade é que dificilmente se trata de aliciação com fins sexuais, devido a todas as vítimas terem idades incompatíveis e serem de ambos os sexos.  Único padrão é que todas estavam desacompanhadas ao saírem de casa, algumas como destino certo do teatro.  Outro detalhe importante a ser levado em consideração é que os sumiços passaram a se dar somente com a estréia de uma peça nova.  O teatro é idôneo.  Porém, seu proprietário o alugou com bastante ingenuidade pra essa companhia de nômades que chegou pouco tempo na cidade.  A companhia faz questão de ministrar toda a produção de manutenção da casa durante a exibição do espetáculo.  Desde portaria, segurança, bomboniere até faxina.  Absolutamente nenhuma pessoa, que não faça parte da equipe, presta serviço no prédio durante a peça.  Mas como os tributos são sempre pagos adiantados e nenhuma irregularidade foi constatada, com a exceção desses desaparecimentos no entorno, os produtores agem dentro da legalidade.
A peça está em cartaz um pouco menos de um mês e treze pessoas já desapareceram desde então.  Tanto produtores quanto atores são anônimos, mas todos teem ficha limpa, perante os sistemas checados.  A ligação é que toda a equipe é composta de cinquenta pessoas solitárias que não possuem residência fixa, família e viajam de cidade em cidade sobrevivendo unicamente da arte aplicada.  Contudo, não podemos fazer nenhum tipo de acusação, porque não há comprovação de que os sumiços se devem por culpa de algo ou de alguém.  As pistas que temos, é que alguns dos desaparecidos tinham a audiência da peça como último compromisso agendado.  Como fui designado para o caso, a peça teatral certamente é o meu foco principal de investigação.
Conforme o folder de divulgação, é uma tragédia em um só ato que faz uma crítica moderna à nossa sociedade de consumo.  Parece ser uma boa peça.  A crítica local discorreu alguns comentários positivos.  Como tenho muitos vetores para análise, a maioria não vinculados diretamente ao espetáculo, provavelmente terei de assistir várias vezes.  Não necessariamente assistir à peça, mas certamente estar presente várias vezes.  Preciso verificar o máximo de detalhes e comportamentos dos envolvidos.  Com um pouco de sorte, posso conseguir alguma informação segura.
Na primeira noite da semana eu estava lá na fila da bilheteria.  Vestido sempre a paisana, fumava meu cigarro e com aparência ingênua observava tudo e todos como um mero cidadão que só busca um pouco de distração na programação artística da cidade notívaga.  Com minha caneta câmera no bolso de minha camisa, fiz uma rápida filmagem.  Enquanto aguardava minha vez de comprar o ingresso, procurei melhores ângulos pra fazer imagem das pessoas na fila, da bilheteria e dos funcionários na entrada.  Com calma eu analisaria as imagens.  Com essa técnica sempre consigo detectar alguma coisa não percebível no momento.
Já havia entrado no teatro algumas vezes, apesar de não ser frequentador assíduo ou fã desse tipo de arte.  Então já tinha uma visão pré estabelecida do local.  Sentei numa das últimas filas com o intuito de ter uma vista geral do ambiente.  Claro que a iluminação seria penumbra na platéia para valorizar o espetáculo, mas seria possível a realização de algumas imagens boas.
Tocou o sino uma vez.  Faltavam apenas cinco minutos para o início da peça.  Não seria casa cheia, mas havia um bom número de pessoas presentes, a ponto de dificultar a contagem.  Diferente de cinema, o público do teatro sabe que não pode se atrasar.  Atrapalha a concentração dos atores em cena a entrada de atrasados.  Por isso que alguns teatros simplesmente fecham a porta quando se inicia o ato.  Certamente isso se daria ali.  Um funcionário com uma lanterninha posicionado na parte inferior, por trás das últimas filas, supervisionava o público que se alojava em suas poltronas.  Curiosamente não havia ingressos a venda para os camarotes.  Destes, somente um estava sendo ocupado por três homens bem vestidos que simplesmente olhavam todos na platéia.  Sutilmente posicionei minha caneta câmera de modo a fazer imagens destes homens.
Dois toques no sino.  A peça ia começar em alguns segundos.  Vários presentes começaram a desligar o aparelho celular ou a colocar no vibra call.  Logicamente que o meu só é usado neste módulo discreto.
Apagam-se as luzes na platéia, abrem-se as cortinas, o espetáculo começou.
No palco um cenário barato com tapumes pintados com prédios, casas, placas, hidrantes, lixeiras e outros detalhes urbanos expressam uma rua qualquer.  Dois postes de madeira localizados cada um numa lateral, iluminam a cena.
Vinte e quatro atores, de ambos os sexos, compõem o elenco.  Todos vestidos diferentemente de modo a cada um representar um membro distinto da sociedade.  Um padre, um mendigo, uma estudante, um policial, uma gari.  Enfim, havia de tudo.  Alguns caminhavam lentamente de um lado a outro como transeuntes, outros simplesmente conversavam parados com naturalidade.  Uma simples rotina urbana.
Começam as falas.
O mendigo diz ao léu:
- Não suporto mais esse mundo.  Miséria, frio, fome, sede.  Tudo de ruim tenho em abundância.  Enquanto a abundância de outros é de dinheiro, luxo e luxúria.
A gari que estava varrendo o chão, próxima do homem, escutou o lamento e indagou:
- O que pretendes fazer, pobre homem?  Todos nós temos nossas desgraças.
- Minha vida não vale nada para a maioria e muito menos para mim.  Findarei ela. – disse o mendigo enfático.
O policial escutou o diálogo e se aproximou dizendo:
- Não fará isso, meu senhor.  Como profissional da lei impedirei qualquer ato suspeito teu.
Assim continuou o diálogo, posteriormente com outros personagens entrando no colóquio.
Os três homens no camarote estranhamente não olhavam o espetáculo.  Em vez disso direcionavam suas atenções para a platéia de uma maneira muito suspeita.  Aparentavam estarem ali apenas para apreciar o público.  Um deles sacou uma máquina fotográfica e tirou algumas fotos do público em geral de modo a captar a imagem de todos.  Inclusive, tive de ser cauteloso para não demonstrar que estava observando-os.
Postei meus óculos especiais, que é um dos artefatos usados em meu trabalho.  As lentes aparentam normalidade, mas elas não teem graus e na parte interna, tem a metade de cada uma delas espelhadas de modo a me servirem como retrovisores.  Com isso, sem precisar me virar, pude observar a silhueta do homem da lanterninha que estava posicionado na parte inferior do salão, em pé, apenas observando o público.  Ninguém mais dentre a equipe presente.
Com cerca de uma hora de espetáculo os atores, em seu diálogo, chegam ao consenso de que se existe um culpado pelas questões levantadas pelo mendigo no início da peça, deve-se à classe dominante que manipula as leis, a opinião pública em prol de seus interesses de concentração de renda.  Reconhecido este consenso, um canhão de luz foca o centro do cenário, rufam tambores e dentre os tapumes com as imagens de prédios, entra em cena uma personagem nova.  Uma mulher trajando um lindo vestido social com uma maquiagem dourada escondendo sua verdadeira face.  Seus cabelos também dourados e sua postura arrogante impõem destaque.  E sua fala é em forte tom:
- Meros mortais, eu sou a elite que incomodada com seus reclames, vim demonstrar o quão sou poderosa sobre vocês.  Não podem fazer nada contra meu reinado que já vem de séculos e se fortalece a cada dia nesse mundo.
Começa uma batalha de argumentos entre da senhora Elite impondo seu imperialismo com os demais personagens representantes da sociedade.  Uma previsível plasticidade da diferença entre as classes sociais, aqui explorada de forma personificada sem vulgaridade ou apelo emocional.
O trio no camarote agora apresenta algo de diferente.  Eles parecem estáticos.
Atinei que eles miram alguém dentre o público.
Não está lotado então é fácil perceber que eles atentam para um jovem que cochila em sua poltrona.  Está certo que a peça não apresenta muita ação e como estamos em fim de horário comercial em dia útil, provavelmente o jovem está cansado por ter vindo de alguma sala de aula ou labuta de trabalho.  Mas é estranho como ele chama a atenção dos homens do camarote que agora se concentram exclusivamente no rapaz.  Chegando a fotografar o sonolento.
Um operário como personagem grita para os demais no palco:
- Vamos mudar a situação!  Juntando nossas forças, poderemos dominar a Elite e tomar de volta toda a riqueza que ela extraiu de nós e de nossos antepassados durante todo esse tempo.
O alerta parece surtir efeito dominó e gera euforia nos outros.  O policial adianta-se aumentando a aflição:
- Darei o apoio militar.  Com armas ficaremos potentes para tel domínio.
Todos cercam a senhora Elite que não demonstra resistência nenhuma do complô social.  Alguns a seguram pelos braços como se precisassem impedir alguma tentativa de fuga.
No meio do palco, surge erguendo-se de um alçapão no chão uma espécie de caixão com várias mangueiras conectadas a ele.  Os personagens ensandecidos gritando palavras e frases de ordem aleatoriamente, conduzem a senhora Elite para o caixão sem nenhum tipo de reação aparente.  Colocam-na dentro do caixão e fecham-no.
Mesmo com o alvoroço em palco, o jovem continua cochilando na poltrona e os três homens no camarote ainda o observam, mas sem tanto interesse como antes.
- Beberemos toda a essência da burguesia.  Absorveremos de volta toda riqueza nos tirada por pura ganância. – grita a personagem estudante.
Cada um em palco apanha uma das mangueiras e leva a boca.  Como se tratam de mangueiras transparentes, é possível ver um líquido vermelho percorrer o tubo e ser ingerido por cada um.  Eles passam a beber com gana o líquido como um alimento aquoso.  Talvez seja um suco de groselha ou algo assim.
Um manto cobre a parte inferior do caixão até o chão, então certamente a personagem da senhora Elite já não se encontra mais na mórbida caixa.
Após fartarem-se com cada gota sorvida, a gari emiti uma fala erguendo um punho fechado para o alto:
- Satisfeitos com nossas conquistas, estamos fortificados.  Reinaremos plenamente e jamais deixaremos que volte a haver diferenças sociais.  Eliminaremos a fome e todo ser humano na face da Terra terá a sua parte que lhe é de direito.
Todos os demais erguem os punhos fechados para o ar e gritam euforicamente vários “vivas”, “bravos” e outras palavras de confirmação.  As cortinas se fecham e todos aplaudem.
Fim de espetáculo.
As luzes se acendem e várias pessoas aplaudem de pé os atores que voltam ao palco para cumprimentarem o público.  Vários deles ainda limpando os beiços pela bebida ingerida.  Senhora Elite também vem receber os aplausos.  Após alguns breves minutos, eles se recolhem para os bastidores.  As pessoas começam a se recolher em direção à saída do teatro.
Dou uma olhada geral em todos e não percebo nada de anormal.  O rapaz que cochilava, agora parece estar em sono pesado, mas o homem da lanterninha já está posicionado na lateral da fileira de cadeiras onde o dorminhoco se aconchegou.  Certamente o funcionário está apenas esperando todos saírem para assessorar o rapaz.
No hall principal que dá acesso à entrada e saída, tudo tranqüilo.  Alguns funcionários acompanham a o tráfego das pessoas, dando agradecimentos sutis, ora dizendo um “obrigado” ou um “volte sempre”, ora apenas movendo a cabeça como reverência.  Uma funcionária trajada de faxineira aguarda a saída de todos com uma vassoura para realizar a limpeza do local.
Na área externa, dou uma parada estratégica na frente do teatro.  Tiro meu celular e finjo estar verificando alguma informação nele, enquanto realizo algumas fotos com minha caneta câmera.  Algumas pessoas comentam a peça que acabaram de assistir, outras falam de assuntos cotidianos, uns simplesmente não falam nada e acendem cigarros, puxam celulares ou chaves de carro.  Acendo um cigarro pra ganhar mais tempo.  Após uns vinte minutos, todos já se retiraram e as portas do estabelecimento são fechadas.
Atravesso a rua, caminho mais uns dez metros e entro em meu carro.  Lá dentro, aguardo a saída dos funcionários pra ver se há algo fora do normal.  O insulfilm protege minha vigília que é mais uma etapa de meu trabalho.  Meia hora se passa até que os funcionários começam a sair.  Alguns entram em seus carros que se encontravam estacionados por ali, outros pegam táxis e alguns poucos saem a pé.  Todos aparentam destinos distintos e o único fato um tanto estranho é a atitude de não haver nenhum tipo de diálogo entre eles.  Nenhuma despedida e nenhum “boa noite” sequer.  Seria o cansaço do final de expediente?  Não sei, mas creio que isso não é nada de muita significância.
Ligo meu carro e vou pro meu apartamento, passar as imagens para meu computador, fazer back up num CD, tomar um banho, comer algo e finalmente descansar.
No dia seguinte ligo o computador e começo a olhar todas as fotos com bastante calma.  Em cada uma, dedico vários minutos e analiso tudo.  O ambiente com seus componentes, as pessoas no que estão fazendo e em como estão fazendo, suas expressões faciais, suas peculiaridades.  Tudo é verificado.  Como detetive experiente que consegue farejar o crime no ar, sinto que há alguma coisa de inquietante nos funcionários envolvidos na produção da peça.  Algum segredo latente que fica evidente em seus semblantes.  Pode até parecer paranóia de minha parte, mas pra mim eles ainda guardam algum segredo.  E esses homens no camarote provavelmente são o epicentro desta incógnita.  Parece que confabulam uma perversidade macabra.
Ao anoitecer chego cedo para o espetáculo.  Estaciono meu carro uns vinte metros de distância e sempre no outro lado da rua.  Tiro umas poucas fotos da frente do teatro pra registrar o movimento inicial, saio do carro quando ninguém olha em minha direção e me dirijo para a fila da bilheteria.  Como ainda é cedo, poucas pessoas compram ingressos.  Na bilheteria um homem de certa idade.  A moça da noite anterior deve ter faltado ao serviço.
Com o bilhete na mão me dirijo para o hall de entrada, mas a catraca ainda não foi liberada, devido ao horário.  Isso me foi calculado pra que eu verifique todos aqui no hall, antes mesmo de entrar no saguão principal do teatro.  O rapaz que está atendendo na bomboniere do hall não é o mesmo da noite anterior.  Tenho certeza que ele parece um dos que estava em cena e que teve poucas falas.  Porque um dos atores não participaria da peça para servir de atendente na bomboniere?  Uma boa pergunta.
Casais, estudantes universitários, amigos solteiros e outros estereótipos começam a se amontoar no hall, olhando os cartazes de peças enquadrados nas paredes enquanto a entrada não é liberada.  Uma moça com trajes de faxineira sai de um dos banheiros carregando utensílios de higiene.  Reconheço-a imediatamente.  É a mesma que interpretou na noite passada o papel da senhora Elite.  Certamente que a maquiagem e o figurino fazem grande diferença e agora ninguém, com a minha exceção, chega a percebê-la.  Isso é muito estranho.  Porque a atriz de suma importância na peça estaria agora como faxineira do local, sendo que a peça ainda será encenada nessa noite?  Um detalhe é que ela não demonstra insatisfação por estar exercendo agora um cargo com bem menos glamour do que o da noite anterior.  Isso merece foto.
Finalmente chega a hora de entrar.  A catraca é liberada e por outro funcionário totalmente diferente do que estava de prontidão na entrada na noite anterior.  Este parece ser um dos homens bens vestidos que estavam no camarote.  Um rápido movimento na caneta no bolso e eu garanto uma foto deste homem.
Sento-me novamente numa das últimas cadeiras dentre as últimas fileiras e faço minhas fotos.  Agora quem está com a função de orientador com a lanterninha é uma mulher.  Também uma das que estava em cena.  Será que mudaram todo o elenco?  Porque fariam isso?  Pelo menos terei muito mais fotos pra estudar nas próximas horas.  O caso está ficando intrigante mesmo.
Toca-se o sino.  Em breve começará o ato.
Já temos as pessoas no camarote.  Como suspeitei, outras três diferentes da noite anterior.  Agora temos uma mulher dentre os três.  Todos eles eram atores na peça.  Como esperado, muito bem trajados e com a atenção totalmente voltada para as pessoas na platéia.  Vez ou outra cochicham algo entre si e parecem estar em análise constante às pessoas presentes.  Também tirando fotografias da platéia.
Dois toques no sino.  O espetáculo começará.
Apagam-se as luzes e abrem-se as cortinas.
No palco o mesmo cenário, a mesma iluminação e os mesmos personagens, mas como previsto, outros atores.  Todos mudados, nenhum repetido.  Um ato muito corajoso o de mudar todos o elenco de um dia para o outro.  Agora entendo o porque do nome dos atores não serem divulgados dentre o material de propaganda.  Eles já tinham a mudança como planejado.  A questão é “porque?”.  Começam as falas e o texto é o mesmo.  Muito estranho isso tudo.
E os três elementos no camarote mantendo suas atenções voltadas para o público.  Como se pra eles não existisse espetáculo.  Parece mais que o espetáculo é a própria platéia.  Tudo soa como um enigma bastante instigante, prestes a se mostrar como um sinistro quebra cabeças.
Ponho novamente meus óculos com a parte interna das lentes espelhadas e lá está a mulher da lanterninha a postos, como uma sentinela, apenas observando as pessoas sentadas.  Uma verdadeira divindade tomando conta de seus cordeiros no rebanho pronto pra ser abatido.
Posso bolar um disfarce e me infiltrar entre essas pessoas pra uma investigação mais apurada e personalizada.  Talvez um supervisor sanitário.  Isso não me é difícil e já o fiz por várias ocasiões diferentes.  Sempre tem um resultado positivo e com os aparatos tecnológicos disponíveis hoje, praticamente nunca sou reconhecido.  Na verdade estou na grande vantagem sobre eles, porque eu sei da existência deles e eles não sabem da minha.  Agora mesmo estou totalmente diferente de ontem.  Mudei o estilo de figurino e o penteado.  Amanhã também mudarei isso tudo e ainda acrescentarei uma maquiagem.  Num outro dia já poderei mudar a cor de meu cabelo ou colocar um bigode postiço.  Enfim, procuro estar invisível quantas vezes me for necessário.
Chegou a hora da entrada da senhora Elite.  Como esperado, outra atriz.  Esta bem mais baixa que a anterior, mas com as mesmas vestes e a mesma maquiagem.  Os personagens os mesmos, mas os atores não.  Que maluquice.
Antes do término meu celular toca no vibra call.  Verifico no identificador de chamadas que se trata do Comandante Geral.  Ele só me liga caso esteja precisando urgentemente de mim ou no caso de precisar me passar imediatamente relevantes informações sobre o caso em que trabalho no momento.  Retiro-me para o toalete a fim de retornar a ligação.  Uma interrupção necessária em meu serviço.
Não reparei se perceberam em minha saída, mas com certeza, no mínimo, a mulher da lanterninha notou.
Entro no toalete masculino e posiciono-me frente a um sanitário urinário, como se eu fosse mesmo praticar o ato.  Puxo o celular e disco para o número da última chamada recebida.  O toque chama duas vezes e ao atenderem digo conciso:
- Pronto, chefe.  O que houve?
- Temos outro desaparecido.  Provavelmente pertencente a seu caso, pois foi exatamente na mesma região dos demais desaparecidos.  Mesmo lugar de execução do seu caso. – disse ele.
- Quando foi o sumiço? – Pergunto.
Meu chefe responde instantaneamente:
- Exatamente vinte e quatro horas atrás.  A mãe da vítima que veio relatar o sumiço.  É um rapaz de vinte e cinco anos de idade, branco, cabelos louros encaracolados, marcas de espinhas na cara, barba por fazer e porte atlético.  A mãe é categórica em dizer que o filho não bebe, não tem vícios, não costuma dormir fora de casa e o que é mais interessante... ...Gosta de cinema e teatro.  A mãe também diz que ele pode ter saído do trabalho e se dirigido diretamente para assistir algum filme num cinema ou peça em teatro.  Isso é o que ele gosta de fazer como lazer.
Rapidamente eu ligo a descrição dada com o rapaz dorminhoco da noite anterior.  Neste momento em que percebo que não lembro de tê-lo visto sair do teatro em nenhum momento.
Como pude ser relapso quanto a isto?  Talvez se eu tivesse interferido no sono deste rapaz, ele não teria sumido.  Talvez ele já esteja até mesmo morto.
Passei alguns breves segundos refletindo sobre minha falha e antes que meu raciocínio funcionasse para uma resposta a meu chefe, senti uma forte pancada em minha nuca.
Apaguei numa escuridão com estrelas de dor.
Não sei quanto tempo eu passei inconsciente porque acordei dopado e certamente estive drogado por muitas horas.  Meus olhos abriram.  Eu escutava tudo a meu redor, mas não podia me mexer nem sequer movimentar minha boca pra falar algo.  Não estava amarrado, mas totalmente paralisado.  Minha cabeça ainda dói muito.  Acertaram-me pra valer.
O ambiente é escuro, estou jogado num colchão fedido a barata e mofo.  A luz do ambiente se acende e entram no cômodo dois homens.  Reconheço ambos.  Dois integrantes da equipe teatral.  Um deles envolve meu rosto com uma das mãos e olha bem nos meus olhos.  O segundo por trás deste pergunta:
- Como está ele?
O homem me analisando responde:
- Está bem.  Acordou, mas não será preciso outra dose pra mantê-lo imobilizado.
- Então vamos levá-lo ao bebedouro.  Está na hora de saciar a sede de nossos amigos. – falou seu parceiro.
Eles me carregam como um fardo e enquanto faziam o transporte conversam:
- E pra amanhã, já temos o que beber?  Amanhã será nossa vez de beber.
- Claro!  Você sabe que temos de ter sempre um escolhido por noite.  Parece que pra amanhã teremos uma ruivinha que está desacompanhada na platéia.
Ambos sorriem de modo bem macabro.
Sou levado pra uma espécie de porão onde há um tipo de plataforma com um sistema de suspensão.  Um outro homem da equipe aguardava no lugar e disse para os que me carregavam:
- Bem na hora.  Ela já está descendo.
A plataforma desceu e nela estava deitada a senhora Elite que se levantou sem nada dizer, assim que alcançou a altura de uma cama.  Levantou-se e retirou-se pela porta por onde eu fui trazido.  Os homens me colocam deitado na plataforma, exatamente dentro de uma marcação gráfica de um corpo onde minha anatomia é categoricamente alinhada e acionam um mecanismo que começa a levantar meu leito.  Antes de perdê-los de minha vista ainda escuto-os falar:
- Parece que esse daí era o policial que estava nos investigando.
- Então é por isso que nossa viagem foi antecipada pra amanhã.  Agora esse desgraçado só vai investigar no inferno.
Ambos riem gargalhando e meu campo de visão passa a vislumbrar outra coisa.  Vejo-me no interior de uma espécie de caixão.  Exatamente aquele que fica no palco.  Agora já começo a entender tudo.  De algumas frestas minúsculas, percebo que estou em cena.  Vejo a platéia mirando a caixa onde estou inserido.  Mas eles não me enxergam em minha letargia quase inconsciente.
De repente sinto dores me meu corpo.  Com o canto dos olhos noto várias grossas agulhas penetrando minha pele em vários pontos de meu corpo.  A dor é enorme, mas não tenho como gritar, me mover ou mesmo gemer.  Não posso reagir de nenhuma maneira.
Escuto a fala da atriz que interpreta a estudante no palco:
- Beberemos toda a essência da burguesia.  Absorveremos de volta toda riqueza nos tirada por pura ganância.
Consigo ver ainda alguns personagens colocando as mangueiras em suas bocas.  O que vejo em seguida me é de um pavor alucinante.  Eles começam a beber o líquido vermelho que agora compreendo ser o meu sangue.  Sinto o formigar em várias partes de meu corpo e esse combustível da vida agora me sendo tirado aos poucos.  Tento me mover, mas não consigo nada.
Um frio congelante começa a tomar todo meu organismo e antes que eu feche meus olhos pra sempre, escuto as palmas incessantes do público e várias vozes gritando “bravo”.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ciclo Completo

Casulo escuro
Rompido num furo.
Pela primeira vez enxergando a luz
Amamentando o seio, a vida conduz.
Dormir, cagar e comer.
Muito bom este viver.
Começando a exploração com o engatinhar
Demandando emoção com o andar.
Bate fome é só chorar,
Chama o nome pra brincar.
Cabelo cresce pelo corpo
Espinha nasce, deixa torto.
Escola enche o saco
Garota seca o saco.
Chegando maior idade
Entrando pra faculdade.
Patrão enche o saco
Esposa seca o saco.
Tola é a vida
Esposa engravida.
Trabalhar e mal comer
Muito ruim é o viver.
Rotina e câncer certeiro
Mal se vê o herdeiro.
Calvície e barriga acentuada
Aposentadoria mesmo que nada.
Pele engelhada, barba branca.
Coração para, pulso estanca.
Pela última vez enxergando a luz
Finada tez a morte conduz.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Pedra No Sapato

Outro lugar que fornecia espaço para as bandas de rock local se apresentarem, com pouca estrutura, mas também sem nenhuma frescura.  Foi o bar chamado curiosamente de “Pedra No Sapato”.  A infame trinca “sexo, drogas e rock and roll” vigorava.  Com isso, ninguém saia insatisfeito.  A diversão era tamanha que o amanhecer era certo.  Mesmo com as portas do bar fechado na madrugada, a devassidão continuava em seu interior de modo prive para alguns poucos sortudos que aventuravam a permanência sem compromissos.
Final da década de 80.  O clima de fraternidade imperava entre os rockeiros da cena de Manaus.  As drogas tinham boa qualidade e eram compartilhadas sem nenhum tipo de limitação.  Ainda não vivíamos o temor da AIDS e a incômoda cultura da camisinha.  Não tínhamos computadores e nem celulares.  Ninguém ainda trabalhava.  Apenas estudávamos e éramos todos sustentados pelos pais.  Éramos felizes e não sabíamos.  Nesta felicidade coletiva, conhecemos um bar que se localizava na fronteira dos bairros Ajuricaba, Campos Elísios e Redenção.  Aberto por um paulistano (se não me engano o nome do “figura” era César) que estava de passagem pela cidade, o “Pedra No Sapato” ficava numa espécie de shopping center pequeno num galpão, marginalizado pela sua localização entre os bairros de periferia.  Ocupava um grande espaço que cortava todo o galpão, tendo assim entrada por dois lados distintos.  Como a banda Anestesia ensaiava na casa, do então baixista, Klinger A.S.M.A., bem como minha banda punkPústula Cerebral”, fomos atraídos pelo som hi-fi do rock.  O bar abria no início da noite, justamente quando terminava o ensaio das bandas e estávamos todos sedentos por uma cerveja gelada.  No começo apenas aceitávamos a trilha sonora e trocávamos poucas palavras com o proprietário do local, mas após o primeiro baseado compartilhado, tudo mudou.  Começamos a interferir no som ambiente, satisfazendo o próprio dono do bar e não demorou pra surgir a idéia de colocarmos bandas ao vivo no local.  Não havia palco.  A estrutura de aparelhagem era posta no calçadão, após a parte interna do bar, em seguida vinha uma escadaria de concreto com uns 10 degraus e logo depois um outro calçadão onde eram postas as mesas e cadeiras.  Anestesia, Pústula Cerebral, Sabotage e Anezy foram alguns nomes que tocaram no Pedra.  Não havia cachê, a aparelhagem era ruim e nem sequer autorização pra música ao vivo, era pensado.  Mas a diversão de todos era garantida.  O banheiro era usado pra sexo e consumo de ilícitos, por ventura de modo coletivo.
Nos bairros do entorno reinava uma galera de marginais que sempre entrava em atrito com os rockeiros que freqüentavam o bar.  Numa certa madrugada, eu e mais três colegas, fumávamos um baseado numa das ruas perpendiculares ao bar.  Antes do término apareceu a tal galera.  Irvana (única mulher presente na situação) correu em disparada por estar alucinada e pensar tratar-se de polícia.  Eu, Lúcio (vulgo “Nóia) e mais um terceiro que não recordo, ficamos.  Eram quatro moleques.  Também éramos moleques, a diferença era que eles estavam armados com terçados, facas e até uma enxada.  Ficaram a trocar insultos conosco até que um deles se invocou comigo.  Eu tinha o cabelo comprido até os ombros.  O infeliz, já tinha uma rincha antiga com Ehud (na época apenas vocalista da banda Anestesia, hoje atual vocalista da Sarcásticos).  O cara devia estar muito alucinado, pois me confundiu com Ehud por também ter cabelos compridos até os ombros.  Mas essa era a única semelhança entre nós dois.
- Ei, vamo acertar aquele lance? – disse o desgraçado.
- Não tenho o que acertar contigo, não. – respondi a ele.
O cara insistiu:
- É tu mesmo, filho da puta!
E já foi investindo com uma enxada em minha direção.  O que me salvou foi um poste de madeira.  Me coloquei entre o poste e um muro, me salvando do golpe.  Os demais também partiram pra cima de nós com as armas sedentas por sangue.  Não tínhamos outra escapatória, senão correr.  Estávamos em menor número e totalmente desarmados.
Os vadios correram atrás de nós.  Quando chegamos na calçada com as mesas do bar (apenas algumas estavam ocupadas), gritei:
- Precisamos de ajuda, pessoal! – olhei pra trás e vi os caras chegando com suas armas brancas e quebrando mesas, cadeira, garrafas e tudo mais.  Ao voltar-me pra frente, até os que estavam no bar, haviam corrido.  Tive de fugir também.  Não queria ser um mártir do undergroundAlexandre (vulgo “Marabá) assistiu toda a cena da rua encostado em seu Opala.  Após promoverem a quebradeira, os imbecis foram embora.  Voltamos ao local e constatamos o prejuízo.  Com esse ocorrido, nunca mais haveria mais bandas ao vivo no bar.
O tempo passou e continuamos frequentando o bar.  Porém, já não havia mais o glamour da música ao vivo.  Não demorou muito pro dono fechar o estabelecimento e ir embora de Manaus.  Com existência de apenas alguns meses o Pedra No Sapato, marcou a memória de muita gente e deixou saudades da luxúria e dos excessos que cultivamos por muitas noites em finais de semana.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Especial Siouxsie And The Banshees Tranferido

Por problemas técnicos no equipamento do estúdio da Rádio Vertical.  Não podemos levar ao ar o programa Vertical Classic Rock deste sábado passado (dia 30), que apresentaria o especial Siouxsie and The Banshees.  Logo, o mesmo especial foi transferido para o dia 14 de maio, mesmo horário (14:00 – horário Manaus).
Agradecemos a compreensão.

domingo, 1 de maio de 2011

Deskarados - Aqui No Mato Tem Ska

Irreverentes, Veneno Da Madruga, Tucumanos, Flash, Several, Tulipa Negra, Sutíferas Navis, Espantalho, Anestesia, Junke Crude, Soda Billy, Homicide e outros nomes, são algumas das surpresas que o cenário musical manauara já apresentou durante algumas décadas.  Dentre essas surpresas, há uma que encontra-se em um longo hiato, mas já agitou bastante as noites de Manaus e ainda promete retornar a qualquer momento com um segundo disco.  Estamos falando da DeskaradosReagge, ska e rock pop com muito alto astral, é a principal receita que abriga o primeiro CD lançado no ano de 2001 com o título de “Aqui No Mato Tem Ska”.
O alto astral da Deskarados estampado até na capa do CD
O disco abre com uma ótima instrumental curtinha que tem uma introdução com o áudio de membros da banda andando de skate pelas ruas de Manaus.  Chegam a citar a mitológica Praça do Congresso.  Em segunda faixa está “Projeto De Vida”.  Um bom ska que o guitarrista/vocalista Rato fez em homenagem a seu pai, deixando isso bem claro na letra.  A terceira faixa é “Mão De Obra Barata”, um hit que chegou a tocar nas rádios.  Reagge com levada ska que tem ótima letra e um refrão muito convidativo para o canto.  A quarta “Menino De Rua” é um reagge um tanto deprê com uma letra bem realista no tocante ao mundo errante dos menores abandonados.  Em quinto lugar está “Os Caras São Do Ska” que é um reagge bem pra frente e dançante.  Em seguida o alto astral toma conta com outro grande hit da banda.  “Meu Bem Amado” também tem refrão cantante e levada ska totalmente contagiante.  Uma pérola de nossa música que remete a Jorge Amado.  Na sequência “Tudo Como Era Antes” traz um reagge romântico com pitadas de pop rock que também chegou a tocar em rádios na época do lançamento.  Pena que o jabá impera e essas maravilhas estão esquecidas nos arquivos dos meios de comunicação.  A próxima faixa “Você É Só Cão” volta ao ska agitado com uma letra bem direta ao machismo.  “Náufrago Da Esperança” emenda num reagge com excelentes arranjos e grande letra libertária que possui várias referências.  Música emblemática de qualidade inquestionável.  “Retrato Falado” é a próxima e volta a divertir o ouvinte com ska rápido.  Também com boa letra de mais outro monte de referências.  No meado da canção há uma quebrada meio samba, mas o ska volta com um solo de sax e a música termina num reagge roots.  Pra fechar a bolachinha com chave de ouro vem a perfeita “Macuco Jonathan”.  A introdução é uma plasticidade cênica da letra que segue, contando uma história lúdica.  Um reagge de levada slow até um pouco mais da metade, quando acelera para um ânimo de despedida.
A linda capa compensa a ausência de um encarte mais detalhado com as letras e créditos dignos.  Coisas da música manauara.  A produção como um todo está boa, mas não perfeita.  Contudo, os arranjos da Deskarados são muito bons, as composições de bom gosto e o registro histórico, pois até então havia sido o primeiro disco de reagge e ska do Amazonas.  Procure copiar de alguém “Aqui No Mato Tem Ska”, porque dificilmente esse disco se encontrara pra venda.