Por volta dos anos 2001 e 2003, um local fervilhava nas noites dos finais de semana em Manaus. O Ecos Bar estava localizado num conjunto residencial, literalmente no fim do bairro Parque 10 de Novembro, e foi por um bom tempo o point de reunião dos rockeiros e apresentação de bandas mais atuante da cidade.
Sei de pessoas que começavam a frequentar o local desde quarta-feira até o sábado. Para os que moravam no mesmo bairro, todos os dias davam uma passada pelo bar pra marcar presença e verificar se havia algum conhecido ou algum “bônus” notívago. Porém, como eu estudava a noite e não moro perto do local, somente as sextas-feiras que eu aparecia. Contudo, numa peregrinação um tanto peculiar. Saia da faculdade por volta das 22:00 e ia direto pra casa do meu amigo Marcelo Mota que mora num conjunto residencial na avenida Constantino Nery. Algumas vezes nem chegava a entrar no apartamento dele. Esperava sentado na frente do conjunto e quando este aparecia, juntávamos nosso dinheiro e ligávamos imediatamente pra nossa junkie delivery. Aguardávamos um pouco até sermos servidos e caminhávamos felizes para o Ecos. Não que evitávamos os ônibus coletivos, mas nas caminhadas, parávamos em meio do caminho e usávamos a primeira dose de nossa “diversão”. Primeira dose na mente, já tínhamos incentivo para caminharmos tranquilos e satisfeitos. Quando chegávamos no local, já estava pura euforia. As cadeiras lotadas, mesas de bilhar idem, mas não tínhamos interesse em sentar ou jogar. Primeira providência era cerveja pra Marcelo e água tônica pra mim. Segunda providência, era a segunda dose junkie. Como o local não era grande, boa parte do público ficava em pé mesmo na frente do bar, pela calçada e até mesmo na calçada oposta ao bar e nas ruas do entorno se divertindo de todas as maneiras imagináveis. Era uma espécie de junkie food coletivo urbano e noturno. Moradores não colocavam as caras nas janelas pra verem o que se passava frente às suas casas e como era uma parte escondida do bairro, todos ficavam bem a vontade. Até casal transando encostado em poste com lâmpada queimada cheguei a ver numa dessas noites. No espaço estipulado como palco, bandas como Platinados, Underflow, Chá de Flores, Zona Tribal, João Pestana, Espantalho, Charlie Perfume e muitas outras chegaram a tocar estimulando o teor alcoólico de todos.
Numa dessas, do nada apareceu um comboio de carros da polícia. Pararam frente ao bar. Alguns policiais se dirigiram para o interior do local e a maioria se espalhou entre os jovens na rua em busca de drogas e menores de idade. Eram tantos carros de polícia e tantos militares que o fedor de corrupção infestou o ambiente. Por eu ser o típico estudante universitário, Marcelo deixava todo o carregamento de nossa diversão comigo. Por ser grande fã de Sun Tzu e Maquiavel, sei manter a calma nesses momentos. Fui abordado por um policial que queria ver o conteúdo de minha mochila. Imediatamente mostrei-me prestativo. Cheguei a conversar educadamente algum assunto que não recordo com o policial. Ao ver vários livros, caderno e apostilas diversas, ele logo perdeu o interesse em mim. Mal sabia o porco, que meus bolsos continham o suficiente pra me enquadrar como traficante. Por algum tempo essas revistas se tornaram rotina, mas depois cessaram deixando a garotada em paz.
Por falta de investimento dos proprietários, o Ecos bar deixou de promover os shows de rock que lotavam a casa. Como o público do pagode era tão numeroso quanto o rockeiro, mas bem mais comportado, este passou a ser o foco de público e o Ecos bar nunca mais voltou a ser o mesmo. O local ainda está em funcionamento, mas não abriga mais a casta rocker. De qualquer forma, a memória está marcada e certamente que muitos sorrisos se abrem ao ativarem suas lembranças de mais um local, que foi por um tempo, fundamental para a alegria de muita gente que viveu aquilo.
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