Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

sexta-feira, 27 de março de 2015

De Repente Outro

Os dois irmãos gostavam de explorar a floresta enquanto os pais preparavam o almoço na cabana de veraneio. Estavam acostumados a fazer isso toda temporada de férias que passavam em contato direto com a natureza. A floresta Amazônica em sua exuberante biodiversidade, sempre lhes mostrava algo novo ou, no mínimo, curioso para os dois adolescentes acostumados apenas com a teoria das aulas de ciências na escola em que estudavam.
Não se afastar, era a regra básica que a mãe repetia em cada caminhada que eles começavam. Já sabiam que a ordem maternal seria repetida a ponto de nem darem muita atenção para o seu intuito de alerta. Aquela área não era muito distante da cidade de Presidente Figueiredo, então não oferecia grande risco em encontrar uma onça patrulhando em busca de alimento. Esses grandes felinos se afastavam cada vez mais, evitando contatos com seres humanos, conforme as cidades expandiam seus perímetros. O máximo que encontrariam seria uma cobra ou algum outro animal peçonhento que eles saberiam manter distância.
Resolveram sair da trilha, adentrando um pouco na mata fechada, por pura curiosidade juvenil. Renato, o mais velho com quatorze anos, sempre ia na frente, desbravando a mata com um cajado improvisado, menor que o cajado de Renan, equivalente ao tamanho de alguém da sua idade de doze anos.
O terreno ficara tortuoso e complexo fazendo os garotos reduzirem a velocidade da exploração.
Esperto, Renato não tinha medo de perderem-se, porque orientava-se pela posição do sol, que não era muito visível, pela densidade da copa da floresta, mas a iluminação revelava a localização, quase que exata, do astro mor orientador.
Com cerca de dez minutos de exploração mata adentro, visualizaram o que parecia a entrada de uma caverna. O mato entrelaçado e teias de aranha no percurso, indicavam que a entrada, que media por volta de dois metros de circunferência, não era utilizada. Porém, a escuridão em seu interior aguçava ainda mais a curiosidade dos rapazes que ficaram excitados com a descoberta.
O cajado executaria perfeitamente a tarefa de abrir passagem para os exploradores mirins que começaram a adentrar no fascinante desconhecido, que era gradativamente iluminado pela lanterna portátil de Renan, que nunca esquecia de trazê-la consigo.
Após ultrapassarem a entrada camuflada da gruta, o interior mostrou-se mais receptível, por ter um piso plano, apesar de estar coberto de fezes de morcegos e apresentar um odor pútrido do metano proveniente de matéria orgânica em decomposição. Caminharam por uns três minutos, naquela ambiente sombrio e resolveram voltar, logo que perderam a claridade da luz externa. O interior era convidativo para continuarem adentrando, mas sabiam que já tinham ido longe demais e não queriam abusar do desconhecido encantador.
No retorno perceberam que o cenário parecia totalmente diferente do trajeto que haviam traçado na entrada. Definitivamente as características eram de outra gruta. O piso já estava rochoso e a temperatura caíra bruscamente. Porém, o detalhe que deixou ambos pasmos, era que não estavam mais visualizando a claridade da luz solar, mesmo na medida em que avançavam para a já visível saída.
Assim que chegaram na saída, ficaram estarrecidos com o que encontraram no lado externo da caverna, que parecia outra. Era um outro local, totalmente diferente daquele em que estavam. No lugar da floresta, agora existia uma savana com árvores de médio e pequeno porte, num capinzal que sumia de vista em um gigantesco vale. Mas o que mais chocou os meninos, era que agora estava noite.
Impossível ter anoitecido tão rapidamente, visto que ainda era manhã quando deixaram a cabana para se aventurarem na mata. A exploração, até aquele determinado momento, não havia demorado mais que quarenta minutos. Nada explicaria aquele anoitecer imediato. Também não chegaram a entrar em bifurcações, dentro da caverna. Logo, não entendiam como haviam saído em outro lugar totalmente diferente.
Se entreolharam perplexos e imediatamente Renan começou a lagrimar soluçando.
Para tentar acalmar o irmão, meio que sem saber como, Renato abraçou-o. Chegaram a se apalpar pra perceberem se estariam sonhando, mas o que estavam presenciando era horrivelmente real.
Antes que tomassem alguma atitude, escutaram vozes.
Desesperadamente procuraram na escuridão a localização dos sons que haviam escutado e conseguiram enxergar à distância, a silueta e várias pessoas que caminhavam em suas direções.
Focaram a lanterna, gesticularam os braços e gritaram por socorro, agora já bastante aliviados por terem sido notados. Chegaram a correr um pouco pra encontrarem logo seus salvadores, mas suas surpresas estavam apenas começando.
Os dez homens que os encontraram eram nativos com vestes diferente de qualquer indígena amazônida e portavam armas que pareciam uma mescla de lança com espada. Eles falavam uma língua estranha, incompreensível e eram totalmente hostis.
Assim como eles, os nativos também estavam surpresos com os estranhos descobertos e apontaram suas armas, fazendo-os prisioneiros.
Pegaram em suas roupas, em seus calçados, puxaram seus cabelos, mas o que mais chamava a atenção dos selvagens, era a lanterna que fora imediatamente tomada de Renan, trocada de mão em mão e ostentada como um artefato divino.
Neste contato de reconhecimento, Renato sentiu medo ao notar que esses estranhos não possuíam pelos em nenhuma parte de seus corpos, seus dentes pareciam apenas uma peça óssea única, não tinham lábios, suas orelhas eram pequenas como uvas, tinham uma pele que parecia espessa como crosta e o que era mais impressionante, todos possuíam apenas quatro dedos em suas mãos e pés. O polegar e mais três adjuntos.
Nesta altura dos acontecimentos, ambos os rapazes choravam e se abraçavam, mas foram separados e começaram a ser conduzidos, cercados pelos estranhos que conversavam entre si num bizarro linguajar.
Em meio a confusão, Renato percebera que apesar de noite, a escuridão não era total e no instinto de olhar pro céu procurando orientação, viu o que lhe arregalou os olhos.
Não havia uma lua no céu, mas sim, três. Três luas distintas entre si em forma, tamanho e distância. Definitivamente, eles estavam em um planeta estranho.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Dias da Meia Noite

O selo Vertigo lançou no ano de 2013, pela editora Panini a edição de luxo encadernada ”Dias da Meia Noite” do mestre Neil Gaiman, no qual a bonita apresentação gráfica de um formato americano com capa dura e miolo em papel couchê, chega a ser superada pelo conteúdo de importância histórica, devido se tratar de, nada mais, nada menos, que as primeiras histórias em quadrinhos deste grande nome autoral no cenário global.
São exatas seis histórias feitas, cada uma, em parceria com um artista diferente, que permeiam entre os extremos de teor gótico profundo ao humor negro inesperado. Cada HQ é antecedida por uma lauda escrita pelo próprio Gaiman, onde este discorre seu parecer pessoal da obra precedida. Em algumas ele dá seu ponto de vista particular sobre o tema. As vezes chega a ser detalhista quanto ao processo de criação e concepção, e mesmo o trabalho com o nome de quem ilustra o texto.
A bela capa da luxuosa edição com raridades de Neil Gaiman
Abrindo o álbum, já uma clássica desenterrada de arquivos esquecidos. “Jack in the Green” havia sido criada 1985 e só foi lançada em 1999, devido ao fato dele (Neil Gaiman) ter se envolvido com vários outros projetos. A obra em si, conta uma experiência do Monstro do Pântano vivida no século XVI. É desenhada por Stephen Bissette e John Totleben. Em seguida vem uma extensa, com mais de 40 páginas, que foi lançada na revista Monstro do Pântano Anual. “Irmão” traz uma entidade fantasmagórica, inócua e circense com desenhos de Richard Piers Rayner, Mike Hoffman e Kim DeMulder. Detalhe que esta história tem uma rápida aparição de Batman e outra do personagem que nomeia a revista. A terceira posição fica por conta de uma curtinha, também do querido monstro pantanoso. “Contos de Deuses Peludos” é o único feito de Gaiman em parceria com Mike Mignola (mesmo ilustrador de Hellboy) e traz Alec Holland como um conselheiro supremo de outro imaturo ser vegetal. Na sequência está “Hold Me”, que em sua tradução ficou nomeada apenas como “Abraço”. A história tem a beleza inconfundível da arte de Dave McKean, que também ilustra a capa do álbum, como já é costume em muito feito por Gaiman. O enredo é com John Constantine empenhado em desvendar o caso de estranhos assassinatos. A penúltima é uma ótima surpresa. “O Teatro da Meia Noite de Sandman” é um crossover com os personagens Sandman (Morpheus, o Senhor dos Sonhos) e Sandman (justiceiro de máscara de oxigênio que coloca seus oponentes pra dormirem, usando uma pistola de gás). Os desenhos são de Teddy Kristiansen e o texto foi escrito em parceria com Matt Wagner. Fechando com chave de ouro, vem mais uma excelente surpresa. “Bem Vindo de Volta à Casa dos Mistérios” também é curtinha e expõe um lado obscuro de Gaiman, por ser no estilo de humor. A parceira nesta feita é com, ninguém menos que, Sergio Aragonés (mesmo ilustrador do errante Groo). As páginas foram pensadas como abertura e fechamento de uma edição especial da revista “House of Mystery”, a qual influenciou bastante o estilo único de Gaiman.
Além de um texto de apresentação do álbum, logicamente escrito pelo autor mor, o comic book encerra com resenhas curtas de cada artista envolvido no livro, inclusive os coloristas, poupados nesta modesta resenha.
Não apenas um belo exemplar pra compor estantes, por sua beleza gráfica, “Dias da Meia Noite” é indiscutivelmente um álbum de luxo que coleta trabalhos históricos do premiado legado de Neil Gaiman, e pode ser usado como bom modelo exemplar deste grande mestre da literatura dos quadrinhos.

quinta-feira, 12 de março de 2015

A Censura do G-plus

Na postagem desta semana trago algo diferente. Denuncio publicamente o abuso de censura por parte da administração da rede social do G-mail, o G-plus, que por sua Política de Conduta para postagens, simplesmente não permite qualquer referência ao nu artístico. Sendo assim, vetada a existência de arte para com o corpo humano nu, sendo pintura, desenho, fotografia ou qualquer outra expressão artística, negada para este meio.
A descoberta eu fiz na tentativa de postar uma foto pin up, como outras que já havia postado, que colhi na internet. Qual foi minha surpresa ao ver que a imagem simplesmente não aparecia e demonstrava no local de sua exibição aquelas logos padrões de arquivos não carregados. Exclui a postagem e voltei a postar na tentativa de consertar o carregamento e percebi que por mais que eu o fizesse, a imagem não era exposta em hipótese nenhuma. Reportei o caso abrindo um fórum de discussão e antes de receber a resposta, recebi a seguinte notificação abaixo.

Print da mensagem passada pela administração do G-plus
Logo em seguida um dito nik name Jeferson, que adota como imagem de perfil uma foto de Malcom Young tocando, me respondeu no fórum, informando-me que qualquer tipo de nudez corria o risco de ser barrada. Li a devida Política de Conduta e fiquei pasmo.
Como é público, qualquer pessoa pode constatar que o capítulo 9 desta Política diz “Não publique conteúdos que contenham nudez, atos sexuais explícitos ou material sexualmente explícito. Não redirecione o tráfego on-line para web sites pornográficos comerciais. A sua fotografia de perfil não pode incluir conteúdos adultos ou ofensivos. Por exemplo, não utilize uma fotografia que evidencia as nádegas ou o decote de alguém em grande plano”.
Antes de ponderarmos sobre a estupidez deste trecho da Política, esclareceremos algumas coisas: Sempre assumi que minha filosofia pessoal defende o sexismo (que pode até ser confundido com machismo, mas se passa bem longe dele). Sou fã de muitas atrizes pornô e cheguei sim a indicar home pages de algumas profissionais que são verdadeiras referências no estilo. Defendo ferrenhamente a liberdade de expressão, reconhecimento, respeito e atuação da classe das profissionais do sexo. Aliás o sexo em si, além de cientificamente ser uma condição necessária básica e estar diretamente ligado à saúde, é um vetor social que movimenta uma considerável fonte de tributos para economia, gerando empregos nos ramos de confecções, moda, entretenimento, educação, saúde etc. Apesar disto, nunca cheguei a postar fotos de sexo explícito na rede, mesmo porque o sexismo não carece de ser exibicionista. Contudo, ainda tenho o prazer e o orgulho de realizar ou estar envolvido, por ventura, com alguma coisa no ramo do nu artístico, seja através de sessão de fotos, de ensaios de desenhos, teatro alternativo, filmes etc. No total cheguei a postar algumas indicações de sites de atrizes e várias fotos pin ups.
Agora voltemos ao que diz a Política de Conduta do G-plus. Reparem que o texto coloca a palavra “nudez” antecedendo as palavras “atos sexuais explícitos” e “material sexualmente explícito”. Então podemos concluir que a simples nudez é equiparada ao sexo explícito. Não há nenhum tipo de distinção entre os termos. Todos são a mesma coisa e por isso não terão permissão para postagem. Isto acaba, nesta rede, com qualquer tipo de manifestação artística que contenha nu. Não interessa se for uma ilustração de Khalil Gibran, uma foto científica de anatomia, uma pintura corporal, um quadro de Salvador Dali ou qualquer outra obra. Se aparece um corpo nu, está impedido de ser postado porque fere a Política de Conduta.
Mais adiante o texto continua “...não utilize uma fotografia que evidencie as nádegas ou o decote de alguém...”. Isto é, nem mesmo uma foto com um simples decote, que mostre parte do corpo, tem permissão para postagem na rede. Neste tempo de Big Brother e novelas calientes, porque barrar isso em rede social?
Há uma explicação simples para a censura truculenta das estúpidas pessoas que formaram o texto da Política de Contuda. Essas pessoas fazem parte de um grande contingente de evangélicos (senão evangélicos, católicos radicais de direita) e/ou herdeiros de militares que atuaram na Ditadura. Pessoas ditas “de bem” que povoam o high society, com influências políticas e empresariais. Falsos moralistas de plantão que impõem diretrizes retrógradas que retardam o desenvolvimento cultural, inibindo o questionamento, a emancipação intelectual e o despertar reflexivo.
Vivemos um tempo caótico no qual o Legislativo, Judiciário e Executivo atuam sempre visando a passividade massiva para a perpetuação de seus interesses próprios, onde qualquer tipo de ameaça, é reprimido e vetado de modo efetivo; onde a dona Maria da esquina separa dez por cento de sua suada renda mensal para o pastor, porque esse é um decreto divino; onde casos policiais são arquivados por prescrição do crime; onde o aumento de certo imposto é aceito com reclamações que serão esquecidas logo no início da transmissão do futebol pela TV e onde o nik name que usa a imagem do guitarrista do AC/DC não questiona um resquício da Ditadura Militar porque é a Política de Conduta.
Abaixo publico a foto que foi censurada no G-plus com alegação de pornografia. No site americano que retirei a foto, não há créditos na fotografia.

O que há de pornografia nesta foto?

sexta-feira, 6 de março de 2015

Vossa Excelência

Tua presença se faz notória
Tergal de falsa glória
Aparência que frauda história
Engana nossa memória.

Na fala discurso ético
Pode até ser poético
Palavreado sempre tétrico
E caráter dialético.

Com assessores de plantão
Executa o seu vidão
Se impõe tão comilão
De seu luxo de montão.

Disfarça todo seu ato
Grande demagogo nato
Não lava nem o seu prato
Até lhe falta tato.