Os dois irmãos gostavam de explorar a
floresta enquanto os pais preparavam o almoço na cabana de veraneio. Estavam
acostumados a fazer isso toda temporada de férias que passavam em contato
direto com a natureza. A floresta Amazônica em sua exuberante biodiversidade,
sempre lhes mostrava algo novo ou, no mínimo, curioso para os dois adolescentes
acostumados apenas com a teoria das aulas de ciências na escola em que
estudavam.
Não se afastar, era a regra básica que
a mãe repetia em cada caminhada que eles começavam. Já sabiam que a ordem
maternal seria repetida a ponto de nem darem muita atenção para o seu intuito
de alerta. Aquela área não era muito distante da cidade de Presidente
Figueiredo, então não oferecia grande risco em encontrar uma onça patrulhando
em busca de alimento. Esses grandes felinos se afastavam cada vez mais,
evitando contatos com seres humanos, conforme as cidades expandiam seus
perímetros. O máximo que encontrariam seria uma cobra ou algum outro animal
peçonhento que eles saberiam manter distância.
Resolveram sair da trilha, adentrando
um pouco na mata fechada, por pura curiosidade juvenil. Renato, o mais velho
com quatorze anos, sempre ia na frente, desbravando a mata com um cajado
improvisado, menor que o cajado de Renan, equivalente ao tamanho de alguém da
sua idade de doze anos.
O terreno ficara tortuoso e complexo
fazendo os garotos reduzirem a velocidade da exploração.
Esperto, Renato não tinha medo de
perderem-se, porque orientava-se pela posição do sol, que não era muito
visível, pela densidade da copa da floresta, mas a iluminação revelava a
localização, quase que exata, do astro mor orientador.
Com cerca de dez minutos de exploração
mata adentro, visualizaram o que parecia a entrada de uma caverna. O mato
entrelaçado e teias de aranha no percurso, indicavam que a entrada, que media
por volta de dois metros de circunferência, não era utilizada. Porém, a
escuridão em seu interior aguçava ainda mais a curiosidade dos rapazes que
ficaram excitados com a descoberta.
O cajado executaria perfeitamente a
tarefa de abrir passagem para os exploradores mirins que começaram a adentrar
no fascinante desconhecido, que era gradativamente iluminado pela lanterna
portátil de Renan, que nunca esquecia de trazê-la consigo.
Após ultrapassarem a entrada camuflada
da gruta, o interior mostrou-se mais receptível, por ter um piso plano, apesar
de estar coberto de fezes de morcegos e apresentar um odor pútrido do metano
proveniente de matéria orgânica em decomposição. Caminharam por uns três
minutos, naquela ambiente sombrio e resolveram voltar, logo que perderam a
claridade da luz externa. O interior era convidativo para continuarem
adentrando, mas sabiam que já tinham ido longe demais e não queriam abusar do
desconhecido encantador.
No retorno perceberam que o cenário
parecia totalmente diferente do trajeto que haviam traçado na entrada.
Definitivamente as características eram de outra gruta. O piso já estava
rochoso e a temperatura caíra bruscamente. Porém, o detalhe que deixou ambos
pasmos, era que não estavam mais visualizando a claridade da luz solar, mesmo
na medida em que avançavam para a já visível saída.
Assim que chegaram na saída, ficaram
estarrecidos com o que encontraram no lado externo da caverna, que parecia
outra. Era um outro local, totalmente diferente daquele em que estavam. No
lugar da floresta, agora existia uma savana com árvores de médio e pequeno
porte, num capinzal que sumia de vista em um gigantesco vale. Mas o que mais
chocou os meninos, era que agora estava noite.
Impossível ter anoitecido tão
rapidamente, visto que ainda era manhã quando deixaram a cabana para se
aventurarem na mata. A exploração, até aquele determinado momento, não havia
demorado mais que quarenta minutos. Nada explicaria aquele anoitecer imediato.
Também não chegaram a entrar em bifurcações, dentro da caverna. Logo, não
entendiam como haviam saído em outro lugar totalmente diferente.
Se entreolharam perplexos e
imediatamente Renan começou a lagrimar soluçando.
Para tentar acalmar o irmão, meio que
sem saber como, Renato abraçou-o. Chegaram a se apalpar pra perceberem se
estariam sonhando, mas o que estavam presenciando era horrivelmente real.
Antes que tomassem alguma atitude,
escutaram vozes.
Desesperadamente procuraram na
escuridão a localização dos sons que haviam escutado e conseguiram enxergar à
distância, a silueta e várias pessoas que caminhavam em suas direções.
Focaram a lanterna, gesticularam os
braços e gritaram por socorro, agora já bastante aliviados por terem sido
notados. Chegaram a correr um pouco pra encontrarem logo seus salvadores, mas
suas surpresas estavam apenas começando.
Os dez homens que os encontraram eram
nativos com vestes diferente de qualquer indígena amazônida e portavam armas
que pareciam uma mescla de lança com espada. Eles falavam uma língua estranha, incompreensível
e eram totalmente hostis.
Assim como eles, os nativos também estavam
surpresos com os estranhos descobertos e apontaram suas armas, fazendo-os
prisioneiros.
Pegaram em suas roupas, em seus
calçados, puxaram seus cabelos, mas o que mais chamava a atenção dos selvagens,
era a lanterna que fora imediatamente tomada de Renan, trocada de mão em mão e
ostentada como um artefato divino.
Neste contato de reconhecimento,
Renato sentiu medo ao notar que esses estranhos não possuíam pelos em nenhuma
parte de seus corpos, seus dentes pareciam apenas uma peça óssea única, não
tinham lábios, suas orelhas eram pequenas como uvas, tinham uma pele que
parecia espessa como crosta e o que era mais impressionante, todos possuíam apenas
quatro dedos em suas mãos e pés. O polegar e mais três adjuntos.
Nesta altura dos acontecimentos, ambos
os rapazes choravam e se abraçavam, mas foram separados e começaram a ser conduzidos,
cercados pelos estranhos que conversavam entre si num bizarro linguajar.
Em meio a confusão, Renato percebera
que apesar de noite, a escuridão não era total e no instinto de olhar pro céu
procurando orientação, viu o que lhe arregalou os olhos.
Não havia uma lua no céu, mas sim,
três. Três luas distintas entre si em forma, tamanho e distância.
Definitivamente, eles estavam em um planeta estranho.
Quando terá um fim para história dos garotos?
ResponderExcluirThiago,
ExcluirMe surpreendeste. Por muitas vezes penso que ninguém lê meus escritos, porque poucos são os retornos. Ainda mais os contos.
Quanto a aventura dos irmãos, sei que a história instiga continuação, mas o meu intuito era apenas de mostrar o drama da transição que eles sofreram. Todos os anos desaparecem milhares de pessoas no mundo todo. Então, porque não criar uma hipótese surreal pra um desaparecimento fictício?
Te agradeço com sinceridade a postagem e principalmente pela leitura.
Fique na paz!
Mário Orestes.