Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

It's Not a Love Story - Parte 1

Já a conhecia de vista. Ela vagava em alguns bares, meio que sem rumo. Exatamente como eu. Porém, havia alguns diferenciais. O principal era que, de vez em quando, ela sorvia um gole de algum copo de bebida ou portava um cigarro. Eu já não bebo e não fumo. Sendo que naquela época, ainda “puxava Mary Jane” esporadicamente. Cheguei a vê-la um dia, em um desses bares, dando uns tragos num desses cigarros proibidos, que sempre rolavam livremente no entorno dos lugares undergrounds. Meu primeiro pensamento foi “Que pena! Tão nova, tão bonita e já perdida nestas armadilhas notívagas”. Puro engano meu, porque se trata de uma garota extremamente inteligente e que dificilmente se deixa derrubar por fraquezas carnais, salvo os, ainda presentes nela, tabaco e bebida alcoólica. Seu físico me atraiu logo na primeira vez que a vi. Ela não possui as formas de uma modelo fotográfica, mas seu estereótipo é exatamente o que me cativa. Os longos cabelos escorridos, negros, contrastavam perfeitamente com a pele pálida de um rosto de traços finos e expressão serena. Não tinha como eu não olhar, quando a figura se presenciava.
Passaram-se alguns anos e um amigo me convida para a ingestão, em sua residência, do tão agradável “vinho da alma”. Ayahuasca, para quem não está familiarizado com o termo. Ao chegar na casa, tamanha foi minha surpresa em notar que ela lá estava, juntamente com outros convidados. Desde então, nascia uma amizade forte, honesta e de uma confiança mútua de respeito e admiração. Ela também era integrante de um dos grupos voluntários que atuo, o que aumentou mais ainda os contatos, conversas e risadas que sempre trocamos juntos.
A cada diálogo, mais afinidades eram percebidas, sendo que algumas são simplesmente incríveis, de uma coincidência lógica, que somente duas peças de um quebra cabeças possuem para se juntarem formando um só ponto em comum. Temos exatamente o mesmo gosto musical, com uma pequena diferença em minha natural tendência acentuada ao punk-rock. Literatura, cinema, quadrinhos, religião, política, filosofia e até mesmo o vestuário revela hegemonia entre eu e ela. Recentemente descobrimos que temos exatamente o mesmo tipo sanguíneo.
Num determinado momento, tivemos a oportunidade de tomarmos ácido juntos. Fomos para o sítio de um primo meu, pela parte da noite, quando o clima era mais agradável e o fim de semana convidativo. Durante o efeito lisérgico, nossa sintonia permaneceu ativada. Por mais que eu estivesse com os sentidos totalmente alterados, fiquei todo instante atencioso para o estado dela. Minha preocupação talvez fosse desnecessária, mas tive a atenção de atinar se estava tudo bem, se ela desejava algo, se alguma coisa incomodava e principalmente se ela estava bem de saúde. A experiência foi agradabilíssima e depois dessa sucederam outras mais.
Saíamos juntos constantemente para procurarmos o tão desejado estado alterado da mente. Não demorou a nos trancafiarmos em meu quarto, ao som de meus discos que eram de mesmo gosto dela. Passávamos madrugadas inteiras juntos. Assistindo vídeos, escutando música e com muita conversa, sempre com teor interessante e que proporcionava sorrisos constantes, às vezes gargalhadas. Numa dessas noites, Coloquei pra tocar a trilha sonora do clássico filme Blade Runner. Disse a ela que esta era a trilha sonora mais executada em motéis, mais especificamente a faixa Love Theme, que possui um solo de sax um tanto sensual. Num lapso de criatividade, convidei-a para dançar esta música comigo. Sem algum tipo de rejeição, ela sorriu. Abraçamos-nos e dançamos abraçados como um perfeito casal de amantes. Nunca havia tido um momento tão singelo e tão íntimo com ela. Sentir o seu corpo colado ao meu, juntos na cadência de um mesmo ritmo, com o cheiro de seu pescoço invadindo deliciosamente minhas narinas, espontaneamente me despertou o desejo. Antes que a música terminasse, eu segurei o seu rosto e procurei um beijo. A princípio ela tentou recusar, espantada pela minha reação inesperada. Chegou a perguntar: O que é isso? Mas não demorou pra se entregar ao inevitável. Talvez ela também tenha tido o mesmo desejo, mas por uma série de motivos óbvios, não teve a iniciativa que eu tive, e já não podia mais conter.
Os beijos tornaram-se calorosos e ardentes como a explosão de um vulcão adormecido por muito tempo. Tiramos nossas roupas e nos amamos na fome de quem precisa do alimento para manter sua vida. Ela teve alguns orgasmos e no final confessou que, como o coito foi muito bom, porque não repeti-lo outrora? Várias outras noites de amor aconteceram, e praticamente em todas, o prazer foi recompensador para ambos.
Algumas semanas atrás, estávamos num quarto de motel gozando o efeito psicodélico do ácido, ao som de um pequeno aparelho de micro system que eu havia levado para não cairmos na rotina de praxe desses ambientes artificiais. Tu ainda escutas fitas cassete? Foi a pergunta que ela me fez ao ver o artefato no primeiro momento eu que eu coloquei pra funcionar. Dentre as várias fitas que rolaram durante aqueles momentos maravilhosos, houve uma que reviveu a lembrança dela. Justamente a trilha sonora de Blade Runner. Ela lembrou imediatamente da fatídica dança em meu quarto. Com toda a sinceridade, nosso primeiro momento de prazer sexual me é inesquecível, bem como cada um deles, contudo, eu não me recordava de nossa dança de casal. Um sorriso me surtiu um efeito maravilhoso em reconhecer que o momento ficou guardado em sua memória. Como algo marcante de uma benevolência gratificante e simplesmente inesquecível.
Ainda comigo, a certeza de que muitos e muitos outros momentos inesquecíveis nos virão ao longo dos anos.

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