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domingo, 9 de agosto de 2020

A Última Flecha

 Desde 2016 que começaram a “pipocar” as graphic novels autorais na cidade de Manaus, sendo que algumas mostram qualidade de nível internacional, não devendo absolutamente nada para alguns grandes clássicos da nona arte produzidas neste formato mundo à fora. Pois bem, “A Última Flecha” é um destes exemplos, que apesar de suas falhas, nos traz o melhor do que é produzido de histórias em quadrinhos na capital amazonense.

Escrita brilhantemente por Emerson Medina (ex-membro do Clube dos Quadrinheiros de Manaus), a história é contada exatamente como melhor agrada o leitor, com poucos textos, personagens bem construídos e roteiro que mostra, sem delongas, a saga se arrastando através dos tempos. A questão temporal é realmente bem administrada no contexto da história, tornando a compreensão facilmente assimilável pelo leitor.

A trama gira em torno da vingança que é buscada por um indígena que teve sua tribo dizimada por saqueadores em busca de uma bebida que promove a longevidade. Busca esta que se arrasta entre passado e presente, justamente pela dádiva proporcionada na ingestão do sagrado elixir. O roteiro só não explica como uma das personagens traz ao presente, para o sintético ambiente de um quarto de hotel, uma clava utilizada no passado em plena selva. Provavelmente um outro objeto tenha servido como alusão a arma do passado, mas isso teria de ficar evidente, no último quadro da sequência, para evitar o questionamento.
Os desenhos são um show à parte. Com riqueza de detalhes, feitos por Rogério Romahs (ex-membro do Clube dos Quadrinheiros de Manaus), a fotografia cinematográfica mostra como este rapaz, que atua como roteirista dos estúdios MSP, seria um ótimo diretor de filmes. O traço suave na anatomia perfeita (não apenas humana, mas animal também) cativa qualquer público que se aventura na leitura da obra. Porém, mesmo em seu perfeccionismo, aqui o riscado de Romahs mostra alguns detalhes que poderiam ser melhorados. O mais notório é a ausência de onomatopeias na cena inicial do comic book. Uma sequência fantástica de genocídio em batalha com tiros, machadada e similares, não poderia ser silenciosa e tirou muito da dramaticidade demandada. Outras falhas que são evidentes no decorrer das páginas, está na brancura total dos céus amazônicos, absurdamente sem nenhum tipo de nuvens em todos os quadros que se ilustra o natural, mesmo nas diferentes temporalidades da história, e a silhueta totalmente vazia do que seria um automóvel em um dos quadrinhos. Estas observações certamente são creditadas a Jahn Cardoso (também ex-membro do Clube dos Quadrinheiros de Manaus) que assina como Design de Ambientes.

Estes detalhes observáveis não tiram, em nenhum momento, o brilhantismo de A Última Flecha que já figura como uma obra prima dentre todos os trabalhos lançados até agora, no âmbito das histórias em quadrinhos, feitas na cidade de Manaus. Não deixe de adquirir! É arte refinada e digna de premiação.
Editora Monomito; São Paulo; 2019; 56 páginas.


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