Desde 2016 que começaram a “pipocar” as graphic novels autorais na cidade de Manaus, sendo que algumas mostram qualidade de nível internacional, não devendo absolutamente nada para alguns grandes clássicos da nona arte produzidas neste formato mundo à fora. Pois bem, “A Última Flecha” é um destes exemplos, que apesar de suas falhas, nos traz o melhor do que é produzido de histórias em quadrinhos na capital amazonense.
Escrita brilhantemente por Emerson Medina (ex-membro do Clube dos Quadrinheiros de Manaus), a história é contada exatamente como melhor agrada o leitor, com poucos textos, personagens bem construídos e roteiro que mostra, sem delongas, a saga se arrastando através dos tempos. A questão temporal é realmente bem administrada no contexto da história, tornando a compreensão facilmente assimilável pelo leitor.
A
trama gira em torno da vingança que é buscada por um indígena que
teve sua tribo dizimada por saqueadores em busca de uma bebida que
promove a longevidade. Busca esta que se arrasta entre passado e
presente, justamente pela dádiva proporcionada na ingestão do
sagrado elixir. O roteiro só não explica como uma das personagens
traz ao presente, para o sintético ambiente de um quarto de hotel,
uma clava utilizada no passado em plena selva. Provavelmente um outro
objeto tenha servido como alusão a arma do passado, mas isso teria
de ficar evidente, no último quadro da sequência, para evitar o
questionamento.
Os desenhos são um show à parte. Com
riqueza de detalhes, feitos por Rogério Romahs (ex-membro
do Clube dos Quadrinheiros de Manaus), a
fotografia cinematográfica mostra como este rapaz, que atua como
roteirista dos estúdios MSP, seria um ótimo diretor de
filmes. O traço suave na anatomia perfeita (não apenas humana,
mas animal também) cativa qualquer público que se aventura na
leitura da obra. Porém, mesmo em seu perfeccionismo, aqui o riscado
de Romahs mostra alguns detalhes que poderiam ser melhorados. O mais
notório é a ausência de onomatopeias na cena inicial do comic
book. Uma sequência fantástica de genocídio em batalha com
tiros, machadada e similares, não poderia ser silenciosa e tirou
muito da dramaticidade demandada. Outras falhas que são evidentes no
decorrer das páginas, está na brancura total dos céus amazônicos,
absurdamente sem nenhum tipo de nuvens em todos os quadros que se
ilustra o natural, mesmo nas diferentes temporalidades da história,
e a silhueta totalmente vazia do que seria um automóvel em um dos
quadrinhos. Estas observações certamente são creditadas a Jahn
Cardoso (também ex-membro do Clube dos
Quadrinheiros de Manaus) que assina como Design de Ambientes.
Estes
detalhes observáveis não tiram, em nenhum momento, o brilhantismo
de A Última Flecha que já figura como uma obra prima dentre
todos os trabalhos lançados até agora, no âmbito das histórias em
quadrinhos, feitas na cidade de Manaus. Não deixe de adquirir! É
arte refinada e digna de premiação.
Editora Monomito;
São Paulo; 2019; 56 páginas.
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