Um
dos indicativos de evolução de um povo, está na ampliação das publicações
de seus objetos de estudo. Como
o Brasil ainda é sub-desenvolvido em muitos aspectos, é normal que
nos falte estudos em muitas áreas. A nona
arte é um setor que amarga
essas deficiências. Podemos contar nos dedos os livros nacionais
publicados explorando o tema.
Lógico que já temos inúmeros estudos e teses acadêmicas, mas
poucos destes foram aprofundados e lançados em forma de livro para o
público em geral. “Quadrinhos
Através da História – As Eras dos Super-Heróis”
é um ótimo exemplo de seriedade no estudo das histórias em
quadrinhos. Possivelmente o inusitado se deve ao fato dos autores
Adriano Marangoni,
Bruno Andreotti
e Mauricio Zanolini
serem respectivamente doutor em História, mestre em Ciências
Sociais e Design; embasamento mais do que suficiente para uma
redação séria e de significância considerável.
Capa do livro fundamental como registro de estudo sério das histórias em quadrinhos |
Fazendo
jus ao título, o conteúdo tem seu foco nas ditas “Eras”
das histórias em quadrinhos de super-heróis. Um tema totalmente
dual porque, se por um lado, o universo dos super-heróis é amplo e
complexo, por outro lado é preso somente nisto, deixando fora completamente os outros estilos de histórias em quadrinhos. Isto é
inclusive exposto explicitamente pelos autores. Então se você curte
histórias em quadrinhos autorais, adultas, humorísticas,
independentes, infantis,
terror,
alternativas ou mangás,
você não irá gostar nem um pouco deste livro. Em contra partida,
se você for fã de super-heróis, provavelmente
terá esta obra como livro de cabeceira. A ampla abordagem das Eras,
também é um tanto limitada, visto que estas foram marcadas, quase
que exclusivamente, pelos super-heróis das duas grandes marcas
produtoras de quadrinhos “DC
Comics”
e “Marvel Comics”,
como bem ilustra a capa do book.
Como destas produtoras surgiram
os super-heróis mais populares que formataram as Eras,
até mesmo outros super-heróis não entram na discussão, com a
exceção da Era
de Ferro,
que tem todo um universo criado
a partir de um grupo de dissidentes da Marvel
Comics. Quadrinhos
brasileiros nem pensar e nem sequer citar. Simplesmente
está fora de questão no estudo.
A
explanação é tipicamente acadêmica formal e, apesar de algumas
insignificantes
falhas na redação (o que é
normal em 99,9% dos livros lançados),
apresenta todo um discurso
chato e
reticente, que poderia muito
bem caber em um impresso de 40 páginas ou menos. Contudo, Adriano,
Bruno e Mauricio, tiveram a sagacidade de engordar o todo com alguns
macetes editoriais. Páginas de grossa gramatura, dezenas de
ilustrações, sendo que várias ocupam páginas inteiras, largas
margens de bordas, no mínimo duas páginas separando cada capítulo,
páginas de prefácio, páginas
de introdução e páginas de interlúdio.
Isso acaba funcionando, pois torna a leitura acessível e um tanto lúdica, mesmo pra
quem gosta de histórias em quadrinhos menos fantasiosas. O
acabamento gráfico caprichado, completa o cativo.
No
interlúdio, um parecer psicológico deixa claro o por que do sucesso
dos super-heróis. Após a
divagação sobre as Eras, ainda há um capítulo onde se explica a
evolução das técnicas de colorização
e o papel usado nas impressões
das
histórias em quadrinhos. Pra
fechar, uma retórica filosófica da moral nas Eras dos super-heróis.
Em
suma, “Quadrinhos Através
da História – As Eras dos Super-Heróis”
pode não ser uma obra perfeita
e é plenamente tendenciosa aos universos juvenis e pops galgados por
DC
e Marvel,
mas é um livro fundamental no tocante ao começo dos estudos sérios
publicados no Brasil sobre a nona arte.
Editora
Criativo; São Paulo; 2017;
112 páginas.
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