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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

2ª Moral

Segunda versão de conto que terá três versões com moral diferente.

Tudo que ela desejava era que aquele pesadelo terminasse o mais rápido possível. Já tinha perdido a noção de tempo e não sabia quantos dias estava cativa, mesmo porque também não sabia por quanto tempo havia ficado desacordada, desde que fora abordada. A desorientação lhe era tão pavorosa quanto a violência a que fora submetida
Sua mão enfaixada com o curativo imundo, já não doia tanto. Tinham-lhe cortado um dedo mindinho, para comprovar a seus familiares a seriedade daquele sequestro. Havia sido estuprada por várias vezes e abalada com tudo, já não passava horas chorando, como no primeiro dia da tragédia que estava vivendo. Aquele terror era real, inimaginável antes, mas surpreendentemente real.
O cativeiro era escuro, com apenas uma fresta no teto brotando iluminação natural do céu. Só através deste orifício de centímetros é que tinha noção de ser dia ou noite.
Quando a porta se abria, era pra receber água ou comida de seus sequestradores que, devido a sua higiene precária, já não levantavam interesse em outros estupros. Por isso, tinha um certo gosto pelo fedor e não se limpava mais, de suas necessidades fisiológicas realizadas num dos cantos do ambiente.
Suor encharcante; ceroto preto espalhado por toda pele que estava salpicada com ferradas de muitos insetos; coceira constante; unhas quebradas; cabelo embaraçado recheado de pulgas e piolhos; dores nas articulações; alguns hematomas nos membros; fome ininterrupta; sensação febril e a forte enxaqueca completavam aquilo que contrastava inquestionavelmente com a sua outrora pacata e divertida vida de shopping, faculdade, carro e iphone.
Baratas, ratos e diversos outros bichos nojentos eram tão presentes, que já não causavam mais repulsa. Não conseguia dormir direito, porque tinha que ficar espantando estas mazelas que teimavam em tentar mordiscar sua mão, atraídos pelo odor do sangue coagulado.
Ainda tinha esperanças de sair dalí, porque na realidade fincanceira de seus pais, sabia que qualquer quantia poderia ser paga, por sua vida. Tinha fé em Deus e rezava em voz baixa, constantemente, desde que fora jogada alí naquele inferno fedido e sombrio. A reza alí, por mais ingênua que possa lhe parecer, lhe confortava num placebo consolador.
Pela fresta no teto, sabia que era manhã, pois não havia muito que estava escuro.
Com muita sede, estava sentada no chão, encostada na parede, no meio de uma reza, quando escutou baruho da porta destrancando. Viu ela se abrindo e recebeu a iluminação externa em sua face.
Antes de seus olhos se acostumarem com a claridade, percebeu um homem corpulento caindo em sua frente, por ter sido empurrado, por alguém mais, atrás dele.
O homem gemia sem parar, devido a um ferimento a bala em seu joelho direito, e falou entre seus gemidos:
- Pronto! Tá aqui ela! Não me mate! Por favor, não me mate!
Em seguida, adentrou-se a outra pessoa, que era outro homem corpulento, todo trajado de preto, com capuz na cabeça e empunhava uma pistola automática com silenciador.
- Ei, você está bem? - Perguntou ele, sem deixar de apontar a arma para o sequestrador caído.
Ela só confirmou positivamente com a cabeça, enquanto brotavam em seu rosto lágrimas e um sorriso, por ter sido agraciada em suas preces pela salvação eminente.
Enquanto o homem caído gemia com as mãos sobre o joelho o outro disse a ela, abrindo um sorriso malicioso:
- Tudo bem! Vamos já sair daqui! Você vai me proporcionar muito mais dinheiro do que o Estado me paga como policial.
Ao terminar a fala, o homem de preto apontou a arma para o sequestrador no chão e atirou, matando instantaneamente o coitado. Logo em sequência, pegou o cabelo da garota, arrastando-a violentamente, provocando gritos de dores e choro nela.
Saindo do cativeiro e arrastando a moça, em direção à mata, disse finalmente:
- Cala a boca, vagabunda! Agora é entre eu e tua família.

Moral da história: o que aparenta ser sua salvação, pode ser apenas mais um infortúnio em sua vida.

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