Segunda versão de conto que terá três versões com moral diferente.
Tudo
que ela desejava era que aquele pesadelo terminasse o mais rápido
possível. Já tinha perdido a noção de tempo e não sabia quantos
dias estava cativa, mesmo porque também não sabia por quanto tempo
havia ficado desacordada, desde que fora abordada. A desorientação
lhe era tão pavorosa quanto a violência a que fora submetida
Sua
mão enfaixada com o curativo imundo, já não doia tanto. Tinham-lhe
cortado um dedo mindinho, para comprovar a seus familiares a
seriedade daquele sequestro. Havia sido estuprada por várias vezes e
abalada com tudo, já não passava horas chorando, como no primeiro
dia da tragédia que estava vivendo. Aquele terror era real,
inimaginável antes, mas surpreendentemente real.
O
cativeiro era escuro, com apenas uma fresta no teto brotando
iluminação natural do céu. Só através deste orifício de
centímetros é que tinha noção de ser dia ou noite.
Quando
a porta se abria, era pra receber água ou comida de seus
sequestradores que, devido a sua higiene precária, já não
levantavam interesse em outros estupros. Por isso, tinha um certo
gosto pelo fedor e não se limpava mais, de suas necessidades
fisiológicas realizadas num dos cantos do ambiente.
Suor
encharcante; ceroto preto espalhado por toda pele que estava
salpicada com ferradas de muitos insetos; coceira constante; unhas
quebradas; cabelo embaraçado recheado de pulgas e piolhos; dores nas
articulações; alguns hematomas nos membros; fome ininterrupta;
sensação febril e a forte enxaqueca completavam aquilo que
contrastava inquestionavelmente com a sua outrora pacata e divertida
vida de shopping, faculdade, carro e iphone.
Baratas,
ratos e diversos outros bichos nojentos eram tão presentes, que já
não causavam mais repulsa. Não conseguia dormir direito, porque
tinha que ficar espantando estas mazelas que teimavam em tentar
mordiscar sua mão, atraídos pelo odor do sangue coagulado.
Ainda
tinha esperanças de sair dalí, porque na realidade fincanceira de
seus pais, sabia que qualquer quantia poderia ser paga, por sua vida.
Tinha fé em Deus e rezava em voz baixa, constantemente, desde que
fora jogada alí naquele inferno fedido e sombrio. A reza alí, por
mais ingênua que possa lhe parecer, lhe confortava num placebo
consolador.
Pela
fresta no teto, sabia que era manhã, pois não havia muito que
estava escuro.
Com
muita sede, estava sentada no chão, encostada na parede, no meio de
uma reza, quando escutou baruho da porta destrancando. Viu ela se
abrindo e recebeu a iluminação externa em sua face.
Antes
de seus olhos se acostumarem com a claridade, percebeu um homem
corpulento caindo em sua frente, por ter sido empurrado, por alguém
mais, atrás dele.
O
homem gemia sem parar, devido a um ferimento a bala em seu joelho
direito, e falou entre seus gemidos:
-
Pronto! Tá aqui ela! Não me mate! Por favor, não me mate!
Em
seguida, adentrou-se a outra pessoa, que era outro homem corpulento,
todo trajado de preto, com capuz na cabeça e empunhava uma pistola
automática com silenciador.
-
Ei, você está bem? - Perguntou ele, sem deixar de apontar a arma
para o sequestrador caído.
Ela
só confirmou positivamente com a cabeça, enquanto brotavam em seu
rosto lágrimas e um sorriso, por ter sido agraciada em suas preces
pela salvação eminente.
Enquanto
o homem caído gemia com as mãos sobre o joelho o outro disse a ela,
abrindo um sorriso malicioso:
-
Tudo bem! Vamos já sair daqui! Você vai me proporcionar muito mais
dinheiro do que o Estado me paga como policial.
Ao
terminar a fala, o homem de preto apontou a arma para o sequestrador
no chão e atirou, matando instantaneamente o coitado. Logo em
sequência, pegou o cabelo da garota, arrastando-a violentamente,
provocando gritos de dores e choro nela.
Saindo
do cativeiro e arrastando a moça, em direção à mata, disse
finalmente:
-
Cala a boca, vagabunda! Agora é entre eu e tua família.
Moral
da história: o que aparenta ser sua salvação, pode ser apenas mais
um infortúnio em sua vida.
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