Tudo
que ela desejava era que aquele pesadelo terminasse o mais rápido
possível. Já tinha perdido a noção de tempo e não sabia quantos
dias estava cativa, mesmo porque também não sabia por quanto tempo
havia ficado desacordada, desde que fora abordada. A desorientação
lhe era tão pavorosa quanto a violência a que fora submetida
Sua
mão enfaixada com o curativo imundo, já não doia tanto. Tinham-lhe
cortado um dedo mindinho, para comprovar a seus familiares a
seriedade daquele sequestro. Havia sido estuprada por várias vezes e
abalada com tudo, já não passava horas chorando, como no primeiro
dia da tragédia que estava vivendo. Aquele terror era real,
inimaginável antes, mas surpreendentemente real.
O
cativeiro era escuro, com apenas uma fresta no teto brotando
iluminação natural do céu. Só através deste orifício de
centímetros é que tinha noção de ser dia ou noite.
Quando
a porta se abria, era pra receber água ou comida de seus
sequestradores que, devido a sua higiene precária, já não
levantavam interesse em outros estupros. Por isso, tinha um certo
gosto pelo fedor e não se limpava mais, de suas necessidades
fisiológicas realizadas num dos cantos do ambiente.
Suor encharcante; ceroto preto espalhado por toda pele que estava salpicada com ferradas de muitos insetos; coceira constante; unhas quebradas; cabelo embaraçado recheado de pulgas e piolhos; dores nas articulações; alguns hematomas nos membros; fome ininterrupta; sensação febril e a forte enxaqueca completavam aquilo que contrastava inquestionavelmente com a sua outrora pacata e divertida vida de shopping, faculdade, carro e iphone.
Suor encharcante; ceroto preto espalhado por toda pele que estava salpicada com ferradas de muitos insetos; coceira constante; unhas quebradas; cabelo embaraçado recheado de pulgas e piolhos; dores nas articulações; alguns hematomas nos membros; fome ininterrupta; sensação febril e a forte enxaqueca completavam aquilo que contrastava inquestionavelmente com a sua outrora pacata e divertida vida de shopping, faculdade, carro e iphone.
Baratas,
ratos e diversos outros bichos nojentos eram tão presentes, que já
não causavam mais repulsa. Não conseguia dormir direito, porque
tinha que ficar espantando estas mazelas que teimavam em tentar
mordiscar sua mão, atraídos pelo odor do sangue coagulado.
Ainda
tinha esperanças de sair dalí, porque na realidade fincanceira de
seus pais, sabia que qualquer quantia poderia ser paga, por sua vida.
Tinha fé em Deus e rezava em voz baixa, constantemente, desde que
fora jogada alí naquele inferno fedido e sombrio. A reza alí, por
mais ingênua que possa lhe parecer, lhe confortava num placebo
consolador.
Pela
fresta no teto, sabia que era manhã, pois não havia muito que
estava escuro.
Com
muita sede, estava sentada no chão, encostada na parede, no meio de
uma reza, quando escutou baruho da porta destrancando. Viu ela se
abrindo e recebeu a iluminação externa em sua face.
Antes
de seus olhos se acostumarem com a claridade, percebeu um homem
corpulento caindo em sua frente, por ter sido empurrado, por alguém
mais, atrás dele.
O
homem gemia sem parar, devido a um ferimento a bala em seu joelho
direito, e falou entre seus gemidos:
-
Pronto! Tá aqui ela! Não me mate! Por favor, não me mate!
Em
seguida, adentrou-se a outra pessoa, que era outro homem corpulento,
todo trajado de preto, com capuz na cabeça e empunhava uma pistola
automática com silenciador.
-
Ei, você está bem? - Perguntou ele, sem deixar de apontar a arma
para o sequestrador caído.
Ela
só confirmou positivamente com a cabeça, enquanto brotavam em seu
rosto lágrimas e um sorriso, por ter sido agraciada em suas preces
pela salvação eminente.
Enquanto
o homem caído gemia com as mãos sobre o joelho o outro disse a ela:
-
Tudo bem! Vamos já sair daqui! Fique tranquila que você vai pra
casa agora!
Assim
que terminou de falar isso, sua cabeça explodiu em sangue, junto com
o estrondo ensurdecedor de um tiro. Seu corpo balanceou e ele caiu no
chão, sem nenhum vestígio de vida.
Ela
perdeu o sorriso e seu choro aumentou, com um grito entre soluços:
-
Nããããooo!
Enquanto
ela chorava compulsivamente, um terceiro homem entrou no ambiente com
uma arma em punho, soltando um pequeno fio de fumaça do cano. O
homem era muito mal encarado, mal trajado, magro, com barba por fazer
e olhos esbugalhados. Logo que adentrou totalmente no recinto, disse
para o primeiro caído:
-
Esse mercenário deve ser muito burro, pra pensar que só uma pessoa
faria o sequestro. Levanta, S4! Vai cuidar do teu joelho. Deixa que
eu me livro do corpo desse filho da puta. Vamos ter de sair daqui
logo, porque se esse otário descobriu a gente, não vai demorar pra
aparecer outro aqui. A família dessa vagabunda tem grana pra pagar
um exército de mercenários, mas tá enrolando pra pagar pela filha.
Desesperada,
a garota começou a se levantar na direção do homem armado,
gritando em seu pranto:
-
Nãããoooo! Me deixa sair daqui!
Antes
que ficasse totalmente em pé, o homem mal encarado mirou sua arma
pra cabeça da moça e atirou.
Outro
estrondo ensurdecedor, calou de vez a rapariga que caiu sem vida no
chão, faltando um pedaço de sua cabeça.
-
Essa puta, bem que podia ficar quieta. Agora vamos ter que manter ela
no gelo, pra ir cortando os pedaços dela, até que paguem o resgate.
-
Levanta logo, S4! Temos muito trabalho a fazer. - Terminou de falar,
colocando a arma na cintura, pegando um dos cadáveres pra carregar.
Moral
da história: por pior que seja a situação, sempre haverá a
possibilidade de piorar mais ainda.