O universo dos Ramones é de um
punch que pode ser comparado com um orgasmo. Praticamente
impossível de se descrever sem ser poético. Precisa ser vivido e
sentido pra se conseguir um mínimo de compreensão. Não é apenas
uma banda de rock. É uma banda que criou um estilo de rock.
Após a criação disto, por Joey, Jhonny, Dee Dee
e Tommy, surgiu este universo. Várias bandas nascem a cada
geração com este mesmo punch. Atina-se para o dilema onde,
por um lado apresenta-se uma carga de adrenalina liberada por cerca
de uma hora e alguns minutos ou apenas meia hora (dependendo da
duração do show da banda tocando no evento). E num extremo
totalmente oposto uma inócua espontaneidade de alegria benevolente.
Este segundo é de experiência para qualquer ser que passa por uma
fase adolescente em sua vida. Repare que não se trata apenas de
humanos. Um evento nomeado de “Ramones Day” onde bandas
autorais se juntam pra tocar somente Ramones em uma noite. The
Mones abre a noite. Um fruto natural de tudo o que já foi dito
até agora. Nova formação, mas mesmo feeling. A
característica feel the fun nada mais é do que a evolução
da expressão corporal criada nos anos cinquenta e com maior
representatividade em Elvis Presley (the “Pelvis”).
Soma-se o grito alto pela liberdade de expressão, pela exigência
imediata de seus direitos, seus quereres na repetência do verbo em
primeira pessoa “I wanna”. Os Playmobils entram em
seguida. O clima é fraternal. A revolução está bem mais do que
estética e sonora. É cultural. A transcendência é visível e a
precisão inquestionável. A família se faz presente, não só nesta
noite, neste lugar, mas no mundo todo, desde quando isto começou no
longínquo ano de 1974. Let's Go sobe ao palco. Junção de
amigos somente para a ocasião festiva. Fórmula que vem dando certo
desde a primeira edição deste firmado em 2011. Os repertórios são
extensos e recheados não só de sucessos, mas também de músicas
esquecidas pelos players nos lados “B” dos discos. Pra
fechar a celebração vem Antiga Roll. As canções
praticamente coladas pelo curto espaço entre elas; a marcação no,
agora super popular, “1, 2, 3, 4...”; o jeans
rasgado e desbotado em consonância com um par de tênis surrado;
consumo constante de alguma substância entorpecente (lícita ou
não); o penteado desleixado; a tatuagem borrada; um chiclete
sendo mascado e várias outras marcas que, quando nascidas, eram
retratadas apenas por garotos, mas que agora já são adotadas por
uma variação significativa entre faixas etárias. Num resumo
direto: é chato crescer. Temos de curtir nossa vida. Apesar do
clichê de que “a vida é curta”, nada mais verídico e
urgente que isso. Na ocasião de catarse coletiva a impressão de
violência passada pela cena, atenuada pela dança punk
conhecida como “pogo”, nada mais é do que canalização
benevolente dos sentimentos ruins, que precisam ser exorcizados para
nos fornecer tranquilidade espiritual e, finalmente, melhor qualidade
de vida. Com a influência explícita de Saramago, a intenção
proposital de somente um parágrafo para transmitir exatamente o
efeito relâmpago de um punch, ou de uma blitzkrieg
sonora promovida por este universo conhecido como Ramones.
Vários convidados; muita bebida e fumaça; garotas e garotos
excitados; volume alto e muita, mas muita diversão mesmo que deixa a
eterna sensação de que Ramones Day é dia de festa
inesquecível.
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The Mones com Mário Orestes |
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Antiga Roll com Mário Orestes e Bruno Castro |
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