Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

sábado, 30 de agosto de 2014

Eu Dormi com Joey Ramone

Dentre todos os livros escritos sobre os Ramones, “Eu Dormi com Joey Ramone” é o que mais se aproxima da histórica irmandade, sem perder fidelidade. O motivo é o mais justificável possível, foi escrito por Mickey Leigh, ninguém menos que o irmão sanguíneo de Jeffry Ross Hyman, vocalista mundialmente conhecido como Joey Ramone. Logicamente que o foco está diretamente em Joey, com os outros Ramones, a história da banda, os sucessos e insucessos e tudo mais do universo ramoníaco girando em torno da narrativa, mas isso é de extrema importância para a compreensão da personalidade, da filosofia e até da abatida fisionomia do Ramone mais carismático e mais querido pelos fãs.
Um outro diferencial deste livro, está na ótima escrita. Leigh já atuava como jornalista e cronista quando se deu o trabalho de começar a labuta do registro. Então percebe-se na leitura, um discorrer profissional, quase lírico, que não perde sua simplicidade. Prova disso, está na humildade de Mickey em convidar Legs McNeil (co autor do divertido e clássico “Mate-me Por Favor) para dividir esta autoria.
Capa do livro muito bem escrito pelo irmão de Joey
Logo na apresentação da infância dos irmãos, vem a tona a problemática de Joey com sua estranha anatomia que viria lhe render bullying na escola, nas ruas, na vizinhança, na adolescência, até a consagração de sua fama. Este certamente foi o fator predominante para o desencadeamento na vida de baixo estima, depressão, abuso de drogas, rejeição amorosa, surtos psicóticos, doença sobre doença e prevalecimento do câncer. Apesar de todos os pontos negativos e que levariam qualquer um a uma vida totalmente errante e sem nenhum tipo de legado digno, desde cedo, também havia o acesso à música e à arte. A mãe, Charlotte Lesher (a quem o livro é dedicado), era curadora de sua própria galeria de arte. O pai, Noel Hyman, sempre foi apreciador de música, e proporcionou aos filhos os primeiros contatos com rádios, vitrolas e instrumentos que levaram os garotos ao incentivo necessário. Futuramente o pai chegaria a gravar uma canção natalina com ambos, mas esta nunca chegou a ser lançada por ser considerada um verdadeiro “mico” familiar. Ao sair da adolescência, vem a amizade com os outros rapazes que viriam a montar os primeiros projetos de banda. Após consagrada a formação inicial dos Ramones, a cooperativa com os conhecidos era óbvia, visto a falta de recursos para financiamentos e remunerações. Com isso, Leigh participou gratuitamente da gravação vocal do hino “Blitzkrieg Bop”. Isto nunca veio a ser reconhecido por Johnny e chegou a ser motivo de processo judicial e um dos fortes pontos de desavenças entre os irmãos Mickey e Joey. Ainda na carência cooperativa, Mickey que já tinha a amizade de Johnny, naturalmente entra para a equipe técnica da banda, trabalha e viaja por anos com o grupo, ajudando nos bastidores, dando idéias nos moldes que caracterizariam o todo e até ajudando Joey em várias de suas composições. Johnny que queria Mickey como um eterno servidor dos Ramones, fazia de tudo pra sabotar qualquer ascensão de Leigh como músico e chegou a pedir que ele esquecesse a demissão declarada. Mesmo após consegui sair da equipe técnica, o drama de ser irmão de Joey Ramone ainda iria acompanhar Mickey por anos e anos lhe trazendo todo tipo de infortúnio indesejado. A descoberta do câncer linfático de Joey foi o início de um suspense que viria a ser tornar um verdadeiro terror com o seu agravamento. As passagens onde as internações são detalhadas, chegam a dar o sentimento de pena pelo sofrimento injusto que o querido enfermo amargou. Os últimos momentos de vida, que fulminaram na morte, chega a ser tão emocionante que provoca lágrimas nos leitores mais sensíveis. Incrível também como uma pessoa tão querida, não teve o carinho de quase ninguém, salvo pelos familiares mais próximos e de uns poucos amigos justamente citados. Vale ressaltar que Mickey fez questão de que este livro fosse publicado no Brasil, devido ao leal carinho dos fãs a Joey.
Mais do que um livro biográfico, “Eu Dormi com Joey Ramone” é de uma fidelidade extraordinariamente detalhada, só como alguém da família e realmente próximo a este ícone pode descrever. Mickey Leigh foi feliz nesta labuta e se hoje goza dos direitos deixados pelo famoso Ramone, é mais do que justo, por todo apoio, amizade e amor que um irmão pode oferecer em sua vida. Tradução de Hilton Lima; Editora Dublinense, Porto Alegre; 2013; 360 páginas.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Rock e Literatura

Que a relação entre música e literatura é fato, isso é inegável. Para não se alongar muito, nos foquemos no rock, pois se partirmos para outros estilos, teríamos assunto e citações infinitas. São dezenas de grupos que se inspiraram em obras literárias, em escritores, poemas e prosas para comporem suas canções, seus álbuns conceituais, seus próprios nomes de bandas, seus visuais e seus espetáculos. Lógico que não há condições de se citar todos, mas abaixo segue uma modesta sequência desta admirável relação que une as artes literárias e musicais.
Dante XXI” da banda Sepultura foi lançado no ano de 2006 e é baseado numa obra prima da literatura universal chamada “A Divina Comédia”, escrita pelo italiano Dante Alighieri e lançada entre os anos 1304 e 1321. Na obra, o autor descreve uma épica jornada sua até o inferno, passando pelo paraíso e pelo purgatório, em busca de sua mulher amada. A característica principal do escrito está na ironia em locar personagens políticos e celebridades, além de conhecidos, de sua época em seus devidos lugares. Este mesmo livro inspirou capa e título do disco “A Divina Comédia, ou Ando Meio Desligado” dos Mutantes, lançado no ano de 1970.
Animals” do Pink Floyd foi lançado no ano de 1977 e é baseado no livro “A Revolução dos Bichos” do escritor inglês Geroge Orwell. Com uma bucólica sátira à sociedade moderna, Orwell retrata metaforicamente políticos como porcos, policiais repressores como cães que, obedecem cegamente aos porcos e populares como ovelhas, prontas a seguirem ordens sem contestação. A publicação do livro se deu em 1945.
Contra capa e capa do álbum 1984 de Rick Wakeman, baseado na obra de
George Orwell
1984” de Rick Wakeman foi lançado em 1981 e também é baseado em obra do inglês George Orwell. O livro, também chamado de “1984” foi lançado no ano de 1949 e apresenta um chocante drama em um país fictício onde não existe cultura, senão aquela imposta pelo Estado (daí surgiu o termo “Big Brother”) que se faz onipresente através de câmeras, controlando toda a população, punindo severamente qualquer tentativa de subversão e impondo um regime totalitário de medo e submissão ferrenha onde até as crianças são doutrinadas a vigiarem seus pais. Até hoje a obra impressiona e causa uma estranha sensação de que já vivemos isso. O mesmo autor também foi a inspiração para David Bowie lançar seu disco “Diamond Dogs” em 1974 e para o Radiohead lançar “2+2=5” em 2003.
Tales of Mystery and Imagination” é o primeiro álbum do ótimo The Alan Parsons Project lançado no ano de 1975 e não é baseado apenas em um livro, mas sim, em toda a obra do escritor norte americano Edgar Allan Poe. Considerado um dos pais da literatura de terror e suspense, Poe serviu de inspiração para muito do que é feito culturalmente hoje no gênero e já tem seu nome e sua obra na história acadêmica.
O segundo álbum do The Alan Parsons Project, “I Robot” do ano de 1977, também é baseado em literatura, desta vez, no livro homônimo de Isaac Asimov lançado em 1950. Trata-se de um livro coletânea de contos que já haviam sidos lançados anteriormente em revistas e que abordam em seus temas, a evolução progressiva e revolucionária dos robôs. Asimov é considerado um dos pioneiros da ficção científica.
Where Legends Began” é um disco de 1987 lançado pela banda inglesa English Dogs. Tidos como os criadores, do que o mundo viria a conhecer como movimento Crossover (a junção do punk com o heavy metal em prol de objetivos comuns e uma harmonia entre as partes), Os Dogs surpreenderam neste álbum, por abordarem em suas letras o fantástico universo do escritor inglês John Ronald Reuel Tolkien, mais conhecido por ser o criador da saga “Senhor dos Anéis”. Tolkien foi o escritor que mais influenciou bandas de rock, dentre elas, as mais famosas são Blind Guardian, Pär Lindh and Björn Johansson, Led Zeppelin, Nightwish, Running Wild, Rush, Summoning, Marillion, Unleashed, Black Sabbath, dentre outras mais que se forem citadas transformarão este texto numa extensa lista.
Como sempre Iron Maiden apresenta belíssima arte em suas capas.
Aqui a capa do citado Brave New World
Brave New World” do Iron Maiden foi lançado no ano 2000 e tem sua faixa título inspirada no livro “Bravo Mundo Novo” do escritor inglês Aldous Huxley. Lançado no ano de 1932, o livro demonstra um futuro fictício onde a sociedade é condicionada à imposição cultural subserviente com valores morais indignos, onde toda e qualquer reflexão é dissipada por drogas obrigatórias. O Maiden ainda usou inspiração literária para várias outras músicas como por exemplo: “Phanton of the Opera” baseada no livro “O Fantasma da Ópera” de Gaston Leroux, “Seventh Son of Seventh Son” baseado no livro “The Tales of Alvin Maker” de Orson Scott Card, “Murders in the Rue Morgue” baseada no conto “Os Assassinatos na Rua Morgue” do já citado Edgar Allan Poe, “To Tame a Land” baseada em “Duna” de Frank Herbert, “Flight of Icarus” baseada na mitologia grega, “Lord of the Flies” baseada no livro “O Senhor das Moscas” de William Golding, “Rime of the Ancient Mariner” baseada no poema de Samuel Taylor Coleridge, “The Trooper” baseada no poema de Alfred Tennyson e “Children of the Damned” baseada na obra de John Wyndham.
Sudamerica Suda” da banda chilena Sexual Democracia foi lançado no ano de 1993 e é baseado no livro “Cem Anos de Solidão” do escritor colombiano Gabriel García Márques. A obra foi lançada no ano de 1967 e relata a trajetória de gerações de um vilarejo que tem como objetivo, decifrar os enigmas dispostos em pergaminhos, que possivelmente curarão o carma da doença da Insônia Familiar Fatal que atinge toda a população ali vivente.
Aurora Consurgens” lançado pelo Angra no ano de 2006 é baseado em um tratado de alquimia medial homônimo de autoria desconhecida e muitas vezes atribuído a São Tomás de Aquino. Além de ser um manuscrito tido como “iluminado”, o texto traz trinta e oito pinturas em aquarela.
Os Meninos da Rua Paulo” do Ira! foi lançado no ano de 1991 e é baseado no livro homônimo do escritor húngaro Ferenc Molnár. A obra literária foi originalmente lançada no ano de 1907 e conta a história de um grupo de garotos que fazem de tudo pra defender uma área de terra batida, que eles usam como palco para seus lúdicos passatempos.
Capa do clássico The Idiot do mestre Iggy Pop, lançado em 1977
The Idiot” lançado por Iggy Pop no ano de 1977 é inspirado no livro homônimo do escritor russo Fiódor Dostoiévski que teve sua publicação em 1869. Na história temos a vida conturbada de um jovem príncipe que busca tratamento para sua epilepsia e acaba se encontrando totalmente disperso socialmente, dentre suas crises existenciais. Alguns críticos colocam o personagem central deste livro como a declaração de um alter ego do autor.
Monte Castelo” é uma canção da Legião Urbana, do álbum “As Quatro Estações” lançado no ano de 1989, que tem em sua letra um trecho de um poema do poeta português Luís Vaz de Camões. Na mesma letra também há um trecho de Coríntios, um dos livros que compõem a bíblia sagrada dos cristãos. Também referenciado pela bíblia dos crentes, mais especificamente o Salmo 69, temos o álbum “Psalm 69: The Way to Succeed and The Way to Suck Eggs” do ano de 1992 da banda Ministry.
The Mission” é um disco da banda Royal Hunt lançado no ano de 2001 que tem seu conceito baseado no livro “The Martian Chronicles” do escritor norte americano Ray Douglas Bradbury. O livro foi lançado em 1950 e tem sua estrutura formada por contos de ficção científica, onde o tema principal é a colonização de Marte pelos terráqueos.
Um Messias Indeciso” é uma canção de Raul Seixas lançada no álbum “Metrô Linha 743” do ano de 1984. Esta música é inspirada no livro “Ilusões – As Aventuras de um Messias Indeciso” do autor norte americano Richard Bach e foi originalmente lançado em 1977. Raul também citaria, na letra da canção “As Minas do Rei Salomão”, a saga de Dom Quixote, do livro “Dom Quixote de La Mancha” do escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra. A obra literária é tida como um dos melhores livros já escritos até hoje e foi lançada no ano de 1605. Dom Quixote também foi tema e título de uma canção dos Mutantes em seu segundo LP lançado em 1969.
Todo Futuro é Fabuloso” é um disco do ano de 2012 da banda Bazar Pamplona e teve seu título inspirado na epígrafe do livro “Jangada de Pedra” lançado em 1986 do escritor português José Saramago. O texto, no caso, foi escrito pelo músico e escritor cubano Alejo Carpentier.
Don’t Stand so Close to Me” é uma música do The Police lançada no álbum “Zeniattà Mondatta” no ano de 1980. Inspirada declaradamente no livro “Lolita” do ano de 1955 do escritor russo Vladimir Vladimirovich Nabokov. A história narra um polêmico drama de um romance praticamente pedófilo.
Acredite, esta lista é praticamente interminável, visto a relação ser muito comum em, sem exagero nenhum, todo o mundo. Impossível citar todos e absolutamente humano que tenhamos deixados vários nomes de fora. Lembrando que este contexto só aumenta com o passar do tempo. Vale o conselho para que o ouvinte da banda, siga a dica e procure se interar não apenas da canção ou do disco, mas também da sua fonte de inspiração.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Os Playmobils - Quero Ver Até Onde Vocês Vão

A banda os Playmobils é um power trio amazonense, da capital Manaus, que escreve sua história no rock local desde o ano de 2001. E vem escrevendo muito bem, diga-se de passagem. Já possui em seu currículo um CD demo lançado em 2006, homônimo à banda, um EP oficial de 2011, chamado “3x4” (infelizmente esgotado, mas com previsão pra uma segunda edição em breve), um segundo EP oficial parido em 2013, com o nome “Quero Ver Até Onde Vocês Vão”, e até mesmo um livro autobiográfico produzido em 2012 pela Editora Controle Gabiru da Bartlebee, escrito pelo baixista e vocalista da banda Albenízio Júnior e recebeu o título de “Recortes Ácidos – O Rock dos Playmobils”. Aqui teremos uma sucinta resenha do segundo EP destes músicos que fazem parte de um grupo social rockeiro manauara conhecido como “Mama na Onça”, que agita a cena musical autoral na cidade do Teatro Amazonas apoiando várias bandas como uma verdadeira irmandade, mas sem matar ninguém, apenas litros e litros de cerveja.
Capa do segundo EP da banda amazonense Os Playmobils
A bolachinha abre com a faixa que nomeia o disco “Quero Ver Até Onde Vocês Vão” é um petardo que resume bem o estilo punk rock do trio com uma direta para uma outra banda homônima que teimou em roubar o nome “Playmobils”, mas afundou em sua medíocre falta de criatividade. A segunda faixa “Banda de Mentira” também pode ser dita como mais uma direta a outra banda sem muitos escrúpulos. Seu refrão é pegajoso e sua pegada bem marcada. Em terceiro lugar vem “Ode e Cirrose” que já tem uma levada mais cadenciada e mais uma vez traz uma letra que parece ter sido feita para alguns pseudo artistas da cidade de Manaus que usam seus nomes e seus coleguismos para conseguir serviços gratuitos e se promoverem em eventos culturais de quinta categoria com estrutura precária. Alguns detalhezinhos nos instrumentos de cordas dão um certo diferencial na faixa. Na quarta posição está “A Outra” que, diferente das anteriores, possui letra focada em uma crise de relacionamento. Esta já recebeu um tratamento mais atencioso em vocais dobrados e backings. Pra fechar o disquinho vem “Fim Por Fim” que expressa em sua letra a influência ramoníaca de relacionamentos protagonizados por personagens que apresentam resquícios psicóticos. Ótimo refrão.
A sonoridade crua sem uma produção muito virtuosa pode até ser usada como argumento pra acusação de amadorismo iniciante, mas o que os Playmobils demonstram neste grande EPQuero Ver Até Onde Vocês Vão” é uma sinceridade fria, direta, sarcástica e digna de quem faz a coisa com paixão, humildade e rocker em seu estilo de vida.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Página do Programa Toca Vinil

      Meio que contra meu gosto, abri uma página na porcaria do Facebook do programa Toca Vinil. Mal abri e já começaram um monte de briguinhas virtuais, fofoquinhas, indiretas, comentários impertinentes e outras besteiras mais que não existem no G-plus. Imediatamente criei antipatia por essa rede desgraçada do povão e cheguei a conclusão que deveria encerrar a página. Nunca precisei de Facebook pra ficar atualizado ou em contato com as pessoas que eu realmente quero. Ao contrário, muita coisa eu sei bem antes de acontecer, pelos meus próprios meios. Porém, uma luz ofusca no fim do túnel, parece dar resquícios que através da configuração, posso interditar o indesejado e deixar a página exatamente como quero. Limpa e sem a baixaria característica dessa moda virtual. Apesar da já conhecida censura austera. Em breve eu saberei se deixarei mesmo a rede ou não.
         Abaixo segue o link.