No último fim de semana (dia 10 de maio) a cidade de Manaus
recebeu pela primeira vez a apresentação de Marky Ramone, com a banda Marky
Ramone’s Blitzkrieg que também conta com o ótimo vocalista Michale Graves (ex-vocalista de outra lenda do punk rock mundial, os Misfits). Vale ressaltar que cerca
de dez anos atrás, um show agendado,
divulgado e com ingressos antecipados vendidos de Marky foi cancelado na cidade, quando o próprio ainda trabalhava na
banda The Intruders. Então, a
expectativa para este de 2014 era mais do que esperado. Era desejado
apaixonadamente.
O ícone mor saudando o público sedento |
Após a abertura do festival Black River Rock Fest com as bandas The Mones e os Playmobils (ambas locais de
punk rock com músicas autorais), Seeds
of Mayhem (banda local de metal cover)
e a paulistana de metalcore Project46, anunciou-se enfim a tão
esperada apresentação da lenda. Passava das 22:30 quando as cortinas do palco
abriram-se e deu-se a introdução com “The
Good, The Bad, The Ugly”, que tornou-se clássica na abertura de shows dos Ramones por vários anos. Só esta introdução com os gritos da
platéia já era motivo de arrepio a todos os presentes que tiveram a adrenalina
elevada assim que o próprio Marky
apareceu, bem como o restante de seu grupo, e antes de posicionar-se por trás
de seu instrumento de trabalho, saudou a todos na frente do palco. O que
sucedeu em seguida foi algo inenarrável devido a avalanche do mais fiel a uma
apresentação dos Ramones que se pode
ter hoje.
Momento memorável para os fãs manauaras |
“Rockaway Beach” foi a música escolhida para abertura do evento que foi seqüenciada por “Teenage Lobotomy”. Logo neste início já eram notáveis lágrimas nos olhos de vários ramonemaníacos ali presentes, inclusive este que vos escreve que lagrimou por quase todo o show. O que se testemunhou na ocasião foi um set list repleto de clássicos eternizados pela família mais influente da música pop do século XX. “Psycho Therapy”, “Do You Wanna Dance”, “I Don’t Care”, “Sheena Is a Punk Rocker” “Havana Affair”, “Tomorrow She Goes Away”, “Commando”, “I Wanna Be Well”, “Beat on the Brat”, “53rd & 3rd”, “Now I Wanna Sniff Some Glue”, “Gimme Gimme Shock Treatment” (esta demorou para se iniciar devido a uma falha no amplificador do contrabaixo), “Rock ‘N’ Roll High School”, “Oh Oh I Love Her So”, “Judy Is a Punk”, “I Believe in Miracles”, “The KKK Took My Baby Away”, “Pet Sematary”, “Chinese Rock”, “I Wanna Be Sedated”, “Loudmouth”, “I Don’t Wanna Walk Around With You”, “Pinhead”, foram sendo executadas com a mesma característica do grupo novaiorquino enjaquetado, separadas apenas pela marcação gritada com “1, 2, 3, 4”. Por volta de uma hora de músicas, a banda sai de palco para a convencional volta do bis. Após alguns minutos, onde o público hesitou em clamar o grito de guerra “Hey, Ho, Let’s Go!”, todos retornam. Marky vai até o microfone central e pede desculpas pelas constantes falhas ocorridas com o amplificador do contrabaixo, que acabou sendo trocado para a continuação do espetáculo. Inicia-se mais uma sequência de clássicos. “Do You Remember Rock’n’Roll Radio”, “I Just Wanna Have Something to Do”, “She’s the One”, “California Sun”, “Have You Ever Seen the Rain”, Cretin Hop”, “R.A.M.O.N.E.S.”. Nova pausa. Todos voltam a sair de palco, ficando apenas Michale que é assessorado por um violão elétrico e inicia sua performance acústica solo. Com apenas duas músicas dos Misfits “Dig Up Her Bones” e “Crying on Saturday Night”. O suficiente pra que sejam expostas todas as qualidades vocais deste que já foi um Misfit. Qualidades reafirmadas por Marky no microfone, ao voltar pro palco. Algo que pode ser notado nitidamente, foi a mudança de Marky em algumas levadas, visto que este incluiu em várias músicas, viradas que não eram exercidas antes, seja em estúdio ou nas versões ao vivo. O que proporcionou execução fora do esperado para todos. De volta ao banquinho da batera, a última sequência de clássicos. “Life’s a Gas”, “What a Wonderful World” (que Marky gravou no primeiro disco póstumo solo de Joey Ramone), “Judy Is a Punk” e pra fechar a noite, a previsível “Blitzkrieg Bop”.
Michale Graves também teve seu destaque com suas qualidades vocais |
Lembram quando assumi no começo deste
texto ter ido às lágrimas? O que leva um homem, prestes a completar 42 anos de
idade, lagrimar por quase duas horas seguidas publicamente? Lembro que a morte
de meu pai foi a última vez disso. Contudo, ao contrário, nesta feita não houve
sensação de perda nem de tristeza. O que aconteceu foi exatamente o contrário.
Felicidade extrema e dádiva inimaginável. Estamos tratando aqui de uma
realização não pensada anteriormente. Com o falecimento de Joey, Dee Dee e Jhonny agregadas ao já citado
cancelamento da primeira vinda de Marky
à Manaus, esta realização parecia cada dia mais impossível. Alguns conhecidos
chegaram a exibir como prêmios as fotos tiradas com Marky nos bastidores, o que me fez refletir bastante. Pensei em
levar meus discos (ao menos as capas
deles) pra tentar autógrafos, como já fiz com inúmeros outros de minha
coleção. Mas o medo de essas capas não retornarem às minhas mãos, somado com a
idéia surreal de estar frente a
frente com um Ramone vivo, me
aquietou e me fez concluir que talvez eu não estaria preparado psicologicamente
para este contato. Me sentiria o próprio crente frente a seu Deus, na condição
plena de arrebatamento espiritual e físico. Alguns desses conhecidos que
tiraram fotos, nem possuem discos físicos, sendo suas posses limitadas ao
horrível formato do MP3. Para minha
condição de fã que tem todos os discos (vinte
e quatro no total, sendo alguns do formato de vinil, repetidos em formato de CD), os cinco livros sobre os Ramones já lançados no Brasil (lidos, evidentemente), ter incorporado a
filosofia do grupo como filosofia de vida e outras coisas menos irrelevantes, seria
mesmo surreal este encontro. Eu até
já saberia o que dizer a Marky, que atinaria
por ser algo realmente dito por um fã de tamanho amor. Sem dúvidas que me
emocionaria e talvez até meu debilitado coração emitisse algumas pontadas
peculiares de cancerianos. Numa
determinada crença indígena, o homem
quando encontra seu Deus, é levado pra não mais voltar. Um bom motivo de
consolo para o não acontecido encontro surreal.
Quem mais merece, é quem não terá.
Agradecimento especial a Deyse Sena pelas fotos desta postagem |
Após a apresentação de Marky, ainda subiu ao palco a Almah, paulistana de metal melódico lake em excesso e também
subiria a ótima Nekrost, autoral de metal extremo local, que teve sua apresentação cancelada por atraso
em toda a programação no local. Porém, este ramonemaníaco
aqui já havia se recolhido para sua sombra privada. O intuito maior já havia se
concretizado.
Não vou citar nomes, pra não excluir,
sem querer, aqueles que não vi neste ato comprobatório de amor a uma banda, mas
dedico esta postagem para todos os ramonemaníacos
que lagrimaram neste show. Só quem
realmente é fã que entenderá a profundidade da dádiva que foi a apresentação de
Marky Ramone’s Blitzkrieg em Manaus.
Inesquecível!
so uma correção: Seeds of Mayem é uma banda autoral, inclusive iniciaram o show deles com 2 ou 3 músicas próprias, pra depois levarem alguns covers (king diamond, iron, etc)
ResponderExcluirabraços!
Neto,
ExcluirEles podem até ter começado o show com músicas próprias. Porém, mais da metade do repertório deles era cover. Não podemos dizer que uma banda é autoral tocando em seu repertório poucas músicas próprias e a maioria de covers.
De qualquer forma, a banda é excelente tecnicamente e espero, com sinceridades, ainda assistir a um show deles no qual aconteça o inverso com suas músicas.
Obrigado pelo comentário.