Um dia desses um conhecido me perguntou porque que eu
nego tanto o título de artista, apesar de produzir arte em minhas horas vagas.
Esta é uma pergunta que, vez ou outra, estou respondendo e agora torno a
resposta pública, com o intuito de minimizar as vezes que terei de me submeter
a este desagradável.
Existe um determinado sebo na cidade de Manaus que foi montado por um famoso teatrólogo e
ator. Mantenho uma certa amizade com o proprietário, mas é triste que em todo
encontro com o tal, há demonstração de arrogância e pré potência de sua parte,
até mesmo para seus conhecidos e clientes de seu comércio. O recinto é
freqüentado por pessoas que se deixam vitimar dos comentários arrogantes, por
vezes humilhantes, numa passividade submissa pelo simples fato do proprietário
ser famoso, já ter lançado livros, ser referência nisso e naquilo. Como se
qualquer tipo de contestação fosse algo incabível devido ao nome do artista. E
aqueles que o enfrentam, são motivos de chacotas pelos admiradores do
teatrólogo ator.
Um certo músico de uma banda local underground, promove constantemente
eventos góticos com apresentações ao
vivo que já alcançaram alguma tradição notívaga. Num desses eventos, fui
chamado (eu e minha namorada) pelo DJ contratado, para prestigiarmos os shows. Fomos na tranqüilidade, da
garantia dada pelo amigo DJ, que
nossos nomes contavam na portaria como convidados. Como o amigo não estava
presente por motivos de saúde, acabamos sendo barrados na entrada, por pura
ambição deste músico promoter, que
deixou claro não haver entrada gratuita para convidados. Até mesmo pessoas que
ganharam convites, através de sorteio em webradio,
tiveram suas entradas barradas por este cover
aidético do Robert Smith. Eu e minha
namorada, também estávamos acompanhados de um casal amigo, até tínhamos
dinheiro para pagarmos nossas entradas e consumirmos bastante no recinto, mas
devido ao inconveniente, optamos por outra programação.
O Clube dos
Quadrinheiros de Manaus está sendo dirigido atualmente por um ótimo
desenhista que cresceu os olhos, frente ao fato da organização estar com CNPJ e desfrutar de uma inegável fama
no cenário artístico. Sendo que este virou um déspota, impondo suas vontades
com argumentos inquestionáveis e incompetência visível, inclusive no tratamento
com os próprios colegas, que vivem a mercê de seus deboches, comentários
machistas e destrato explícito. Neste clima indigno, muitos já se afastaram do
Clube, fechando assim o objetivo do ditador que quer manter com ele somente os
puxa saco e aqueles que teem parcerias em interesses obscuros (mais detalhes serão delatados num futuro
breve).
Uma dita revista independente de poesia e cultura underground, tem um editor chefe e
escritor (que se vê como vanguardista,
somente por ter seus textos boêmios, cheios de drogas e palavrões. Como se Bukowski não existisse) que por
algum tempo me cobrou um escrito para publicação. Como a cobrança foi
constante, acabei por satisfazê-lo produzindo um escrito de encomenda para a
revista. Por descuido não fiz back up.
Passei a encomenda para este editor escritor, com o alerta de que o escrito não
poderia sair em partes (ele era um tanto
extenso) que por sua natureza, perderia o sentido, caso fosse publicado em
separado. Minha surpresa foi colérica em ver que este meu escrito foi publicado
somente em sua metade, justamente perdendo seu sentido. O editor escritor se
desculpou e me prometeu publicar novamente o texto na íntegra, numa próxima
edição. Algo que nunca aconteceu em anos.
Reparem que citei exemplos da área do teatro, da
literatura, da arte plástica e da música. Em suma, este é o cenário artístico
local. Formado por pessoas mesquinhas, segregacionistas, reacionárias, falsas e
que ostentam o rótulo de “artista” usurpando o glamour e todas os privilégios que por ventura possam aproveitar.
Por incrível que possa parecer, essa espécie já tomou as classes artísticas,
formam suas panelas e dividem seus interesses somente com o que e com quem lhes
convêm.
Como posso ter interesse em fazer parte deste meio?
Não desejo mudar o mundo enfrentando cada um desses personagens medonhos, que
dominam com suas políticas e politicagens. Ao contrário, sinto necessidade de
manter-me afastado e muito bem diferenciado da corja.
Espero que ninguém vista a carapuça, pois nesta
crônica não me permito revolucionar e nem provocar, apenas só me resta o
desabafo e a justificativa de meu nojo assumido para os “artistas” e suas
“artes”.
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