Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Em Ribeirão Pires

No ano de 1990, numa de minhas viagens a São Paulo, fiquei hospedado na casa de Fernando Aveiro (tecladista e baterista da banda Pax).  O cara fazia a proeza de tocar bateria e teclado ao mesmo tempo.  Pouca gente acreditava quando era falado isso, mas ao vê-lo tocando nos palcos, todos se calavam e ficavam boquiabertos.  Com a mão direita ele executava o teclado e com a esquerda fazia a marcação na bateria.  Evidente que o teclado não era constante, mas assim mesmo chegava a impressionar.  Compondo a banda Pax, Mauro Mak na guitarra e Klinger A.S.M.A. no contrabaixo (ex Platinados, ex Anestesia).  Uma curiosidade é que a banda chegou a tocar em Manaus (como dupla, pois Mauro Mak não pode vir) num dos Festivais de Verão do Parque 10, quando este ainda era prolífero em sua diversidade musical.  Ainda hoje guardo uma rara gravação de duas músicas ao vivo da banda (em Ribeirão Pires-SP) em fita K7.
Fernando Morava em Ribeirão Pires e quase não nos encontrávamos, porque ele trabalhava no terceiro turno e quando estava em casa, quase sempre estava dormindo.  Deste modo, eu passava boa parte do dia sozinho quando estava na casa.  Durante a semana eu saia atrás de emprego pela parte do dia (sempre sem sucesso, devido ao maldito Plano Collor) e pela parte da noite, eu vadiava com os punks da região.  Certo dia, Fernando me disse que Klinger viria a Sampa passar uns meses e ensaiar com a banda.  Certamente que seria interessante revê-lo e matar um pouco a saudade de minha terra natal.  Numa tarde de fim de semana eu estava sozinho (como sempre), curtindo o frio e o som do vinil, quando Klinger chegou.  Foi uma alegria vê-lo entrar pelo portão carregando sua mala.  Fumamos alguns baseados, trocamos muitas idéias e demos algumas voltas pela cidade.  São Paulo sofria com o excesso de chuvas (pra variar) e Ribeirão Pires teve uma ponte, que ligava o bairro em que morávamos ao centro, destruída pela força das águas.  Construíram uma passagem provisória para carros e uma passarela de madeira para pedestres.  Numa determinada madrugada onde eu e Klinger estávamos pelo centro vadiando com uma garrafa de bebida e um violão, ao voltar para casa, paramos nesta passarela pra curtirmos um pouco o visual da linha de trem a distância ao som do violão.  Ao terminar nossa garrafa de bebida, resolvemos ir embora, mas percebemos que a passarela tremia com nosso peso.  Com o teor de álcool elevado na mente, começamos a pular na passarela incentivando o tremor.  Ambos seguramos os corrimãos, de modo a aumentar nosso impulso nos pulos, e passamos a dar pulos cada vez mais alto.  Cerca de 10 metros abaixo de nós, corria um igarapé de águas poluídas, que encontravam-se bem violentas devido às recentes chuvas.  Nossos pulos eram sincronizados, tornando assim, forte o balanço da passarela que a qualquer momento cederia.  Ficamos por volta de 10 minutos no ritual estúpido e já desejávamos a inevitável queda da passarela no igarapé, quando um solitário carro parou na passagem improvisada, paralela à passarela.  Dele desceu um homem anabolizado que gritou furioso para que parássemos nosso ato de vandalismo.  Como estávamos embriagados e longe de alcance do brutamontes, não devíamos ter parado, mas tivemos um lapso de bom senso (ou talvez medo) e obedecemos a ordem.  O homem esperou nos distanciarmos para entrar no carro e ir embora.  Saímos dando risadas da proeza adolescente.
No dia seguinte, ressaqueados, refletimos sobre o que havíamos feito na noite passada.  Demos algumas gargalhadas, mas concluímos que foi algo bem ignorante de nossa parte e que poderia resultar numa tragédia que certamente poderia nos machucar bastante, talvez até ser letal para um de nós, senão, para ambos.
Hoje, de volta a Manaus, não tenho mais contatos com Fernando nem com Mauro Mak, mas de vez em quando encontro Klinger pelas ruas e trocamos cumprimentos e conversas de bons amigos que não se cansam de ser saudosistas.

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