Desde criança eu fui desenhista autodidata, mas tenho orgulho de dizer que fui aluno de Desenho Artístico do mestre Anísio Mello. Olhar enigmático de expressão instigante, Anísio Thaumaturgo Soriano Mello era um multi mídia carismático. Desenhista, artista plástico, escultor, compositor, escritor, poeta, jornalista, professor e boêmio, Anísio era membro da Academia Amazonense De Letras, foi um dos fundadores do lendário Clube Da Madrugada e chegou a participar de uma Mesa Redonda num dos Encontros do Clube Dos Quadrinheiros De Manaus, o qual ele estava sempre me perguntando a respeito. No ano de 1976, chegou a lançar um disco de composições próprias onde canta e toca violão. Em 2003 eu apareci em seu Liceu De Artes para solicitar autógrafo em um livro de poemas seu, dentre os vários lançados, bem como no disco. Fiquei lisonjeado e sem palavras ao ler a dedicatória no autógrafo do livro que diz: “Ao amigo Mário Orestes Silva, inteligência viva, com admiração de Anísio Mello”. Ao ver o vinil em ótimo estado de conservação, me questionou imediatamente: “Onde você conseguiu isto? Nem eu tenho um exemplar deste!”. Senti vontade de lhe presentear com meu exemplar, mas vontade maior mesmo de guardar a sete chaves, como o faço hoje com muito carinho e respeito. É dessa raridade da música manauara que falarei agora.
A produção é independente e poderia ter melhor acabamento na parte técnica da gravação. O mestre também não tinha o potencial vocal de Ney Matogrosso, mas não há dúvidas quanto ao peso lírico e poético da obra. Anísio faleceu em abril de 2010, mas seu legado é gigantesco quanto a tamanho, diversidade e significado para o Amazonas e para o Brasil. Lembro que no ato do autógrafo, ele me revelou que uma de suas metas era digitalizar esse álbum. Sei que esse trabalho já deve ter sido feito e tal merecimento tem de ser imediato para o registro histórico de nossa cultura. Pois “A Amazônia Canta Com Anísio Mello” é uma pérola rara esquecida pela maioria e lembrada por poucos.
Meus olhos se encharcam de lágrimas nessas últimas palavras, não só de saudades do mestre, mas também em gratidão a lenda que me ensinou a ter naturalmente visão crítica sobre desenhos e pinturas.
São artigos essenciais como este que fazem deste blog especial,o que mais visito de todos os blogs desta net! Se pudesse contribuiria com milhões de reais para a campanha Não Deixe M.O. parar. Infelizmente meu parco salário de professor estadual não permite tal empreitada!
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