Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O Primeiro Registro em Vinil do Rock Manauara

Um dos primeiros bares de rock da cidade de Manaus foi o Espaço Aberto.  Isto na segunda metade da década de 1980.  Localizado num mini shopping center num bairro, até então nobre, da cidade, o local era pequeno, mas aberto com boa ventilação e espaço para circulação.  Na época não tínhamos problemas com Internet, computadores pessoais, celulares, mídia digital e outros demônios que facilitam e dificultam nossa rotina de hoje.  Como a AIDS ainda não estava difundida, não precisávamos usar preservativos.  O movimento rock em Manaus era pequeno.  Logo, todos se conheciam e compartilhavam as drogas, as bebidas, as fitas K7 e o sexo.  As drogas eram de melhor qualidade e não tinham toda a arqueação que teem hoje.
O bar lotava e o clima era o de um micro festival rocker/junkie.  Mais outros dois bares abriram vizinhos no mesmo shopping em afã do público grande, aumentando mais ainda a diversidade e a diversão.  Os banheiros eram uma festa à parte.  Estavam sempre com várias pessoas.  Nas pias alguns usavam cocaína, nos vasos sanitários casais transavam e a fumaça de maconha e nicotina nublava o interior.
Após a sequência de mesas, havia um espaço livre com cerca de 5 metros de distância até um elevado baixo de concreto que servia de palco ao ar livre.  Os shows ao vivo geralmente eram aos sábados, e quase sempre tocavam duas bandas na noite.  “Torre Astral”, “Dix”, “Artânia”, “Estado De Coma” e “Enigma” eram alguns dos nomes que brilhavam como atrações que tocavam músicas próprias e covers em seus repertórios de gigantes como Iron Maiden, Deep Purple, Judas Priest, Black Sabbath, Whitesnake, dentre muitos outros.
Capa do histórico primeiro vinil de rock da cidade de Manaus
De uma leve reformulação da banda Enigma, nasceu o grupo Flash.  Se apresentava como power trio e tinha como destaque o ótimo baixista Beto Lee (provavelmente, o homônimo filho de Rita Lee ainda não tinha nascido) e o excelente guitarrista vocalista Beto Rock.  Com agudos em falsetes perfeitos, Beto Rock nunca perdia o timbre de sua guitarra base e solo.  A performance destes rapazes incendiava a platéia.  Aproveitando o relativo sucesso que faziam, no ano de 1988 conseguiram gravar um álbum em vinil chamado “Vozes Do Inferno”.  O disco é um EP de 12 polegadas com apenas 4 músicas.  A sonoridade em si vagueia entre o hard rock e o rock nacional dos anos 80, sinceramente sem muito diferencial do que se fazia no momento.  O destaque vai para a faixa “Quero Ser Eleito”.  Um rockão stoneano com letra irônica e já preventiva ao que encontraríamos nas eleições diretas, que surgiriam em seguida.  Como não houve grande aplicação de marketing e divulgação, a vendagem foi um fracasso.  Era possível se encontrar os discos encalhados nos balcões das lojas e sempre acabavam no meio de promoções em queimas de estoque.  Devido ao insucesso de vendas, o grupo se acabou.  Os músicos sumiram.  Beto Rock não mora mais na cidade e o nome Flash caiu no esquecimento.  Hoje em dia os colecionadores de vinil trocam a tapas exemplares dessa raridade que é um grande registro para a história do rock de Manaus.
Como sou um dos poucos sortudos que possuem um exemplar dessa peça de museu, disponho-me para veicular a digitalização do trabalho, caso alguém se prontifique em colaborar com o equipamento.  Interessados, façam contato.

3 comentários:

  1. Tenho algumas lembranças dessa banda. Na época, quase tudo era feito nas coxas. Quem quisesse levar o rock para a frente, tinha de carregar piano, abrir mão de muita coisa - dinheiro, inclusive. De fato, produzir rock em Manaus era tarefa quase quixotesca. Esse álbum é um dos raros testemunhos dessa época, e merece toda a deferência.

    Quanto às "festas" nos banheiros, elas vão bem, obrigado. Com ou sem rock.

    ResponderExcluir
  2. Yes, yes! Banda FLASH, cara, isso me faz voltar no tempo, precisamente ao festival de verão do parque 10, onde assisti a Flash, que levava inclusive um pink floyd sem macular o original. Banda boa, tempos idem!

    ResponderExcluir
  3. Cara... Que legal ler esse POST. Fiz uma busca no Google pelo nome Beto Rock e encontrei esse texto com comentários adicionados de pessoas que viveram essa época. Muito legal!!! Fiz essa busca porque conheci BETO ROCK em Brasília. E falar isso agora complementa um trecho do texto que diz que ele não mora mais em Mansus. Conheci BETO em meados de 89 já morando em Brasília numa cidade vizinha chamada Cruzeiro e o curioso de Brasília é que muitos moradores daquela cidade eram pessoas vindas de outros estados, inclusive do Amazonas. Eu conhecia algumas outras pessoas que vieram de Manaus e quando eu comentava que conhecia um cara que também era de lá chamado Beto Rock, todos diziam que conhecia o cara e que lá era "o cara". Nesse período que eu o conheci, ele dava aulas particulares de inglês e de vez em quando visitava o amigo Marshall Allen na 415 Sul do Plano Piloto em Brasília para "tirar uns sons" na sala do amigo que, aliás, também foi morador de Manaus e era um
    dos que disseram conhecer o cara assim que comentei. Sim... Por meu intermédio, eles se conheceram em Brasília porque na época de Manaus, todos conheciam o Beto, mas ele não conhecia todos. Allen sabia quem era Beto, mas Beto não sabia quem era Allen e eu, Glauber, os apresentei. Começou ali uma amizade entre eles porque Beto era professor de inglês e Allen tinha um inglês fluente por ser filho de norte americanos (observa-se em seu nome); Ambos viveram os anos 80 em Manaus; Ambos tinham o Rock na veia; Allen, além de dominar o inglês, era também um exímio guitarrista e professor de música. Com todos estes fatores em comum, só podia dar em amizade. Fiz esta busca no Google porque já fazem quase 30 anos que tive o privilégio de conhecê-los e vivenciar essa etapa de nossas vidas. Quando li esse texto, toda essa história me veio novamente à mente e gostei muito de saber um pouco mais sobre essa parte da história que de uma certa forma fiquei sabendo lá nos ares do Planalto Central. Hoje, 30 anos após ter vivenciado isto, moro no Rio de Janeiro e não sei do paradeiro deles. O Allen, pude reencontra-lo nas redes sociais e descobri que hoje ele mora nos EUA. Já o Beto Rock, não consegui encontra-lo e por isso fiz essa busca. Até onde sei, assim que fundou a década de 80 e entrou a de 90, ele ainda estava no CRUZEIRO em Brasília. Hoje eu não sei, mas creio que ele ainda deve estar por lá e foi muito bom saber de toda essa história. TMJ

    Glauber Fernandes Pimenta

    ResponderExcluir