Por muitos anos o paraibano Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos era maldito por seus escritos. Ainda hoje tem gente que repele sua obra pela vulgaridade no linguajar sem reconhecer o verdadeiro valor literário do conteúdo. Alguns idiotas pensam fazer poesia diferenciada ao colocarem baixo calão, pragas verbais e violência entre seus versos, mas desconhecem que Augusto dos Anjos já fazia isso desde o início dos anos 1900. Motivo de chacota de seus companheiros que se reuniam pra gargalhar recitando suas poesias. Augusto exprimia justamente toda a sua angústia do mundo e do ser humano. A visão realista e trágica começou a ser percebida como arte de qualidade quando Manuel Bandeira reconheceu os valores poéticos de Augusto. Temas incomuns para a poesia do início do século passado, como prostituição, crimes hediondos, suicídio e a decomposição cadavérica, eram retratados com uma belíssima visão triste e lírica, que só mesmo alguém com uma percepção muito apurada da filosofia artística humana poderia compor. Negando Deus como se este fosse um traidor da vida, o misterioso escritor da obra prima “Eu”, mostra-nos um lado mais científico do existencialismo. A coerência no caos, a suavidade da morte e a beleza do absurdo, são finalmente revelados com uma poesia mestra que comanda o raciocínio para o que, até então, não havia sido atinado.
Aquela palavra feia, aquele termo pejorativo, aquele insulto solto num momento de raiva e outras coisas mais que não se imagina na poesia acadêmica, está contida com propriedades em seus versos. Augusto dos Anjos é obrigatório para que o leitor rompa o paradigma do romantismo sem perder qualidade da leitura, mesmo que pra isso, seja preciso baixar o nível.
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