No final dos anos 80 eu comecei a explorar a minha coleção de discos de forma a ganhar dinheiro divulgando o material. Passei a vender fitas k7 com gravações. Como sempre tive bons contatos (colecionador conhece colecionador), geralmente eu tinha novidades, piratarias e raridades que dificilmente se encontravam, ainda mais na época em que não tínhamos as facilidades de contatos proporcionadas hoje pela Internet. Fui indicado a um rapaz que só curtia fitas cassetes. Rildo trabalhava como responsável na lanchonete da extinta escola “Einsten” (localizada na rua 7 de setembro, centro da cidade de Manaus). O cara se satisfazia comigo, chegando ao ponto de me encomendar caixas de fitas gravadas, e eu me satisfazia com ele, que pagava tudo a vista e sem pechincha. Com algum tempo ele me indicou para aparecer em outra lanchonete e bar de um irmão dele. Era o “Bip Top Batidas” localizado na rua Ramos Ferreira, ao lado do Sheick Club. Jonas e Marília formavam o casal que administravam o lugar. No balcão de atendimento, eles colocavam um aparelho toca fitas, suficiente para sonorizar todo o pequeno interior do local. Gostavam do bom e velho rock and roll e como não tinham nenhum “fornecedor” de cassetes no estilo, começaram a encomendar algumas de mim. Elas eram tocadas no aparelho do balcão e chamavam atenção dos transeuntes. Passei a frequentar o local por causa de minha freguesia com eles e por causa da excelente batida de mangarataia que era feita com muito carinho pelo casal. Não demorou pro público do rock adotar o lugar como point. De quinta a sábado o bar passou a lotar. Em algumas semanas eu aparecia no ponto desde a segunda-feira. Vários foram os excessos etílicos e alguns nunca sairão de minha memória. Num desses, cheguei a desmaiar em baixo de uma das máquinas de fliperama do lugar. Acordei com Marília me cutucando com uma vassoura.
Eles possuíam dois filhos que eram bem crianças na época. Rafael e Rafaela. Hoje Rafaela é uma apetitosa espécie fêmea, infelizmente casada. Rafael já faz faculdade e é um grande amigo junkie. Com o ambiente familiar e tranqüilo pela própria índole de Joninhas e Marília, conseguiram o carisma do público rockeiro e viraram referência na cidade. Dorsal Atlântica, Sepultura, Viper e Ratos de Porão foram algumas das bandas que passaram pelo bar pra experimentar a lendária batida de magarataia. São até citados nos agradecimentos de discos do Dorsal Atlântica e do Sepultura. Carlos Lopes (do Dorsal Atlântica, se apaixonou pela bebida).
Depois de alguns anos, o bar mudou de endereço pra rua, perpendicular, Ferreira Pena. Lá tinham espaço físico pra colocar bandas tocando ao vivo. Dezenas de bandas locais tocaram no espaço reforçando mais ainda a lenda do bar.
Como tudo que é muito bom não dura, em alguns anos o lugar foi fechado por acaso do destino. Jonas havia passado no concurso do Banco do Brasil para a pequena cidade de Boca do Acre. Esgotados pela vida notívaga que desgasta com os mais resistentes donos de bar, juntaram as coisas, pegaram as crianças e se mudaram de vez, deixando órfãos dezenas e dezenas de amantes do rock.
Hoje mantenho contato virtual com o amigo Rafael e de vez em quando, o casal Jonas e Marília voltam à cidade de Manaus curtir umas férias com os grandes e numerosos amigos que eles fizeram, sem querer, com um trabalho que nos proporcionava uma saudável diversão.
Esta parte memorialística do blog do orestes é muito legal, lembranças voltam mesmo com força, das poucas vezes que estive no local, as recordações são as melhores. Recordar é viver!
ResponderExcluirjorge bandeira
Estamos sempre recordando e vivendo, amigo.
ExcluirAdorei essa blog..que tempo bom que nao volta mais,eu chegei em 1989 e agora tenho meus amigo posso dizer uma grande familia que ficou e continua na memoria..valeu Oreste
ResponderExcluirSaudades de ti. Faça contato quando voltares por aqui.
ExcluirBeijos!
Que bela crônica Orestes, parabéns!
ResponderExcluirElogio vindo de mestre é sempre bem vindo.
ExcluirAbraços, amigo!
Parabéns, mano...
ResponderExcluirQueria encomendar umas fitas...
abs,
Batman
Pô, Batman. Agora a reprodução de som se dá apenas por MP3. Ainda tenho um monte de fitas cassetes, mas não tenho mais aparelho pra escutá-las. Escuto os bons, velhos e novos vinis, mas meu aparelho não tem como gravar cassetes.
ExcluirSou eu mesmo... Abs, Batman.
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