Os dilemas
mais desconcertantes provocados pela paixão, em seus mais
inesperados resultados, ainda assim parecem inócuos estacionários
em comparação aos extremos alcançados pelo amor. Eis a questão
que mais incomoda o existencialismo humano, na ópera rock
manauense A Sombra de Monalisa, emanando inspirações que
vão de Leonardo da Vinci a Carl Jung. Rafael Rebelo
e Norcirio Queiroz são os pais da criatura que traz uma série
de músicos convidados com seus talentos inquestionáveis em suas
interpretações exponenciais. Tudo ambientado num requinte classudo,
que chama atenção pelo expressionismo poético de um contexto quase
gótico.
A Musa (Eva Basile) abre o espetáculo
para apresentar a história de Monalisa. “A Escuridão” na
perspectiva ambivalente toma conta do ambiente com introdução dos
teclados de Breno Fragata (Moovee). Queison Alves
(Alados) e Aline Fagan conduzem as falas enquanto o
ótimo Leonardo Lima (Pacato Plutão) e o próprio
Rafael Rebelo dividem os solos das guitarras. O estilo é de um rock
pop com pitadas de alternativo/hard rock/emo/jazz
fusion que delimita as músicas até o final da obra.
A Musa
então apresenta o coadjuvante principal, o Malandro, que terá
seus princípios colocados em xeque pela força do amor.
“Desejo
em Conflito” vem com uma interpretação louvável de Clóvis
Rodrigues (Platinados/Os Tucumanos) que encarna o próprio
Malandro, como se fosse o mesmo. E a sensualidade da Musa
dita o dilema.
“Vinho Seco” exala pétalas de rosas
com Queison e Clóvis dividindo os vocais e expressando a negação e
a confusão que Monalisa proporcionou.
“Três
Natais” nas perspectivas do Malandro, de Ela, de
Ele e da Sombra, tem uma forte marcação do
contrabaixo de Luiz Roberto Góes (O Tronxo) em sua
primeira parte. O peso não dura, porque em seu meado a canção
relaxa num piano bem R&B e traz as vozes de Queison,
Clóvis, Aline e Gabriele Lins. A cadência segue alternando
entre peso e swing, culminando num solo dobrado com teclado e
guitarra. Arranjos perfeitos!
A Musa entra no segundo
ato, o arco de Ela. Monalisa está exposta em sua
atitude egoísta em “Adeus Amor” e Aline assume belamente
o microfone. Aqui os arranjos ganham um requinte a mais com um
quarteto de cordas sublime formado por José Jonas Jr.,
Bárbara Soares, Alex Teixeira e Elieziel Lourenço
dos Santos. Vale até citação a Cazuza.
Com sua
sensualidade marcante a Musa introduz “O Abismo do
Infinito”, que traz exatamente o mesmo time da canção
passada, sendo agora uma balada de colapso. O Ele desespera na
confusão causada pelo amor à Monalisa.
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