Criada com a intenção de fornecer um determinado reconhecimento a certos quadrinhistas autorais, a série de comic books “Maldito Seja”, seleciona apenas artistas independentes que nunca alcançaram o dito mainstream, mas ao mesmo tempo possuem uma obra peculiar digna de destaque, seja pela criatividade, pelo traço emblemático ou roteiros marcantes. O exemplar “Henry Jaepelt” traz uma coletânea de trabalhos deste autor catarinense, publicados, em sua maioria, em fanzines de 1993 a 2005. A antologia é impressionante e apresenta o melhor de Jaepelt que, sem dúvida nenhuma, deveria ter condições de dedicar seu tempo apenas em sua arte.
Capa do exemplar da série "Madito Seja" que traz Henry Jaepelt |
Ao todo são vinte e seis HQs que preenchem o livro (na verdade é um pouquinho mais, pois algumas histórias não tituladas, não são creditadas no sumário). A grande maioria é de poucas páginas, sendo várias de apenas uma página. Consideremos como justificativa que Jaepelt atua muito como ilustrador, e o motivo é bem simples: ele não vive exclusivamente de sua arte, mas sim, tem um emprego e precisa trabalhar para poder sobreviver. O que é uma pena, porque se analisarmos o seu desenho, percebemos um estilo que vaguei entre o terror/erotismo/ficção científica com textos filosóficos e non sense repletos de referências e quase sempre explorando a beleza do preto e branco. Sua anatomia é excelente, os cenários cósmicos e surreais, os contrastes de luz e sombra equilibrados numa harmonia linda, diagramação concisa e diversificada e o traço preciso e limpo. Todas as histórias do livro são excelentes, mas pra dar algum destaque podemos citar “Sundae, Bloody Sundae...” que tem várias referências nos detahes dos quadrinhos, “Lupita...” com sexualidade surreal, “Puls *” assim mesmo com o asterisco no título, é uma HQ psicodélica sem textos, “O Curioso Relato de Lumbrotelius (Da Antiga e Honorável Tribo dos Habrinoles)” que apesar do longo título, possui apenas duas páginas com roteiro de final intrigante, “Sebo do Beto” sobrepondo a audiofilia no romance, “Impulsos” uma crônica contemporânea e atemporal, sem textos e de apenas uma página, “Que Coisa!” com desenhos de Maria Jaepelt, “Estufa” de lisergia e expressividade magnífica nas hachuras, “Um Ensaio no Outono” também com colaboração de Maria e “Mutrus” que resume perfeitamente a peculiaridade dos quadrinhos deste mestre da nona arte.
A ótima série “Maldito Seja” está aí não apenas para divulgar nomes poucos lembrados das histórias em quadrinhos nacionais, mas também para levar aos leitores, a nata do que há de melhor fora do sacal eixo Marvel/DC que abunda os espaços de bancas e livrarias dedicados a nona arte, sem deixar espaço para alternativas independentes. “Henry Jaepelt” é um dos melhores nomes a exemplificar esta nata com eficiência e maestria.
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