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Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

3ª Moral

Terceira e última versão de conto com três versões e morais diferentes.

Tudo que ela desejava era que aquele pesadelo terminasse o mais rápido possível. Já tinha perdido a noção de tempo e não sabia quantos dias estava cativa, mesmo porque também não sabia por quanto tempo havia ficado desacordada, desde que fora abordada. A desorientação lhe era tão pavorosa quanto a violência a que fora submetida
Sua mão enfaixada com o curativo imundo, já não doia tanto. Tinham-lhe cortado um dedo mindinho, para comprovar a seus familiares a seriedade daquele sequestro. Já não passava horas chorando, como no primeiro dia da tragédia que estava vivendo. Aquele terror era real, inimaginável antes, mas surpreendentemente real.
O cativeiro era escuro, com apenas uma fresta no teto brotando iluminação natural do céu. Só através deste orifício de centímetros é que tinha noção de ser dia ou noite.
Quando a porta se abria, era pra receber água ou comida de seus sequestradores. Tinha um certo desgosto pelo fedor e não tinha mais forças pra se limpar, de suas necessidades fisiológicas realizadas num dos cantos do ambiente.
Suor encharcante; ceroto preto espalhado por toda pele que estava salpicada com ferradas de muitos insetos; coceira constante; unhas quebradas; cabelo embaraçado recheado de pulgas e piolhos; dores nas articulações; alguns hematomas nos membros; fome ininterrupta; sensação febril e a forte enxaqueca completavam aquilo que contrastava inquestionavelmente com a sua outrora pacata e divertida vida de shopping, faculdade, carro e iphone.
Baratas, ratos e diversos outros bichos nojentos eram tão presentes, que já não causavam mais repulsa. Não conseguia dormir direito, porque tinha que ficar espantando estas mazelas que teimavam em tentar mordiscar sua mão, atraídos pelo odor do sangue coagulado.
Ainda tinha esperanças de sair dalí, porque na realidade fincanceira de seus pais, sabia que qualquer quantia poderia ser paga, por sua vida. Tinha fé em Deus e rezava em voz baixa, constantemente, desde que fora jogada alí naquele inferno fedido e sombrio. A reza alí, por mais ingênua que possa lhe parecer, lhe confortava num placebo consolador.
Pela fresta no teto, sabia que era manhã, pois não havia muito que estava escuro.
Com muita sede, estava sentada no chão, encostada na parede, no meio de uma reza, quando escutou baruho da porta destrancando. Viu ela se abrindo e recebeu a iluminação externa em sua face.
Antes de seus olhos se acostumarem com a claridade, percebeu um homem corpulento e muito mal encarado, entrando com uma arma na mão, que foi logo dizendo:
- Vamos ter que sair daqui, gracinha! Os homens da lei já sabem que estamos por essas áreas. - Levanta! Vamos dar uma volta.
Assim que terminou a fala, sua cabeça explodiu, juntamente com o ensurdecedor ruído de um tiro. O corpo cambaleou e caiu sem vida, espalhando sangue a seu redor.
Ela ficou atônita com os olhos arregalados e antes que falasse ou mesmo pensasse algo, teve sua atenção voltada para porta, com a entrada de um policial fardado, empunhando uma arma com fumaça saindo pelo cano.
A jovem abrindo um sorriso, levantou-se e começou a falar repetidamente:
- Graças a Deus! Graças a Deus! Graças a Deus!
Antes de continuar sua graça, recebeu uma coronhada do policial e caiu de cara no chão, desacordada. O policial guardou a arma no coldre e começou a tirar sua calça dizendo:
- Primeiro vou me divertir um pouco com tua buceta, depois vou levar teu corpo morto pra um laranja pegar o resgate com tua família. Nem pensa em acordar, senão tu vai apanhar mais ainda, vagabunda!

Moral da história: Aquilo que temos de mais sagrado, para uns pode ser plenamente descartável.

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