Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Trecho de Selva Viva

             Abaixo reproduzo o trecho de um conto meu chamado Selva Viva que está inacabado. Como o conto é longo, ainda está na página 43, e sua história encontra-se um pouco depois de sua metade. Bem provável que ele seja publicado em formato único como livro.
          O romance em si é uma ficção científica com um solitário ribeirinho em seu habitat natural, bastante influenciada pelo seriado Arquivo X, o qual sou fã incondicional.
          O maior problema para terminá-lo está na pura falta de tempo para me dedicar ao projeto que outrora me seria meta.



             Em outra parte do laboratório os homens de branco trabalhavam nos dados emitidos pelos computadores que analisavam sem parar o corpo moreno estendido no líquido oxigenado naquele enorme aquário e ligado a cabos, tubos e eletrodos.  Um dos homens foi abordado por um outro, que mostrando papéis com alguns dados e radiografias de uma cabeça, disse:
              - Jacob, veja o que acabo de descobrir!  Conforme o diagnóstico contínuo cerebral, a sensibilidade e a expressão temporal e local do “cobaia inconsciente” está desprovida de uma seqüência coerente! – disse apontando uma certa área do cérebro radiografado - Sabe o que isso significa? – perguntou.
               - Creio que sim, mas me diga! – disse o outro curioso.
             - Sua noção de espaço-tempo está em lapso!  Ele não vive uma cronologia lógica! – completou o primeiro.
               - Isso é um sintoma de alguma doença psiquiátrica! – afirmou Jacob.
            - Sim, mas conforme análise dos dados da rotina do “cobaia”, ele realmente não seguia uma cronologia seqüenciada.  Até a própria fisiologia apresenta discordância de estado de saúde, idade, alimentação etc. – houve uma breve pausa na conversa permitindo uma rápida reflexão entre os protagonistas.  Então, ambos se olharam e Jacob disse:
               - Isto é impossível!
          - Vou comunicar imediatamente o Dr. Kinsk! – concluiu o que fez a descoberta se retirando com os papéis em mãos.
             Aquele “cobaia” vivia isolado da civilização, solitário e sem família.  A espécie perfeita pra ser analisada em cárcere laboratorial.  Ninguém ia reclamar liberdade e nem sequer informações sobre suas condições e estado de saúde.  Depois de detido, junto com seu animal de estimação, sua vida foi revirada.  Seu habitat registrado e estudado com o intuito de captar todo e qualquer detalhe que levasse a alguma pista de anormalidade.  Seus vizinhos mais próximos, por mais que estivessem alguns quilômetros de distância, foram todos interrogados a respeito do personagem e de sua rotina.  Se tivesse um pouco de sorte, voltaria a sua residência e a sua vida pacata.  Caso contrário, estaria fadado à disposição da ciência.
              Drª Helena ainda tinha muito serviço a fazer e chegou a conclusão de que não poderia pedir licença no momento.  Ao menos até terminarem aquele caso, visto que ela era uma pessoa crucial e insubstituível em suas funções.  Ela até estava acostumada a passar por isso.  As vezes, passava meses sem ver a família e certamente a cadência de trabalho era o motivo dela ainda continuar solteira, apesar de sua encantadora beleza, imensurável inteligência e ótima estabilidade financeira.
            Uma certa vez no interior do Mato Grosso, em pleno pantanal, ela e a equipe, tiveram de passar dois meses monitorando uma onça fêmea híbrida de uma espécie desconhecida.  Foram meses de monitoramento a distância que lhe rendeu alguns quilos a menos e uma instabilidade no horário de sono.  O triste disso tudo é que em boa parte desse trabalho era perdido.  Tratavam-se de estudos com o desconhecido e nunca se sabiam as conseqüências ou os imprevistos.  Algumas vezes o “objeto de estudo” sumia misteriosamente, noutras se auto destruía.  Isso chegava a ser frustrante.  Todo o trabalho perdido, provas desaparecidas e muito dinheiro desperdiçado.  Os poucos casos de sucesso não ficavam para seu conhecimento.  De relatórios com registro de imagens, até espécies mantidas, tudo era levado.  Ela não sabia muito bem pra onde e nem por quem, mas aprendera, logo no começo, que essa era uma etapa de seu trabalho a ser cumprida e que não havia margens pra questionamento a respeito.  O maior motivo dela ser muito bem paga, não era suas habilidades inquestionáveis e seu conhecimento excepcional, mas sim a compra de sua fidelidade e de seu silêncio.

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