No ano de 1992 surgiu uma banda no cenário rockeiro amazonense chamada Scare Crow. A proposta era apresentar uma sonoridade
próxima ao chamado indie rock. Com letras reflexivas e timbre grunge, não demorou muito para que o
grupo mudasse seu nome para Espantalho. Começaria então, uma ascensão, na carreira
dos jovens músicos, que ganharia o gosto do público e a crítica da mídia em
geral. Numa entrevista, exclusiva para o
blog Orestes, com o guitarrista vocalista Marcos Terra Nova, temos uma singela explanação desta banda
promissora do rock local.
Orestes: Como nasceu a banda Espantalho?
Conte um pouco sua história.
Marcos
Terra Nova:
Pode-se
dizer que a existência da Espantalho
se deu por um processo longo, ou melhor, por etapas que hoje conseguem ser
melhor avaliadas. A fase embrionária aconteceu no início dos anos 90. Naquela
época, Marcos Terra Nova (M.T.N.)
e Bosco Leão, amigos adolescentes
que moravam na mesma rua de um bairro de Manaus, compartilhavam gostos musicais
similares e resolveram montar uma banda, mesmo sem saber tocar qualquer tipo de
instrumento. Os gostos musicais eram diversos como Sepultura, Faith no More,
Ira!, Megadeath, New Model Army,
Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden,
Pearl Jam, Red Hot Chilli Peppers, Living
Colour entre outros. Para isso, escolheram seus respectivos
instrumentos e passaram a ter aulas de guitarra (Marcos) e baixo (Bosco)
com músicos que tocavam thrash metal
na cidade como Barrão, da extinta Numbness, e Eddie Souza (Júnior Cabeleira), da extinta Jack Danniel’s. Nesta época a cidade se
dividia entre o som pesado do heavy e
thrash metal e as ramificações dos pós-punk de duas décadas anteriores. Em
1992 Marcos propôs batizar o grupo com o nome “Scare Crow” inspirado em uma música de mesmo nome, de uma banda de metal industrial estadunidense, o Ministry. Em 1992 vários integrantes já
haviam passado pelo grupo, muitos na base da experimentação, sendo que outros
se destacaram por dominarem melhor seus instrumentos. Nesta fase passaram Mário Olinto que chegou a ser o guitarrista
e vocalista da banda além de Marvin,
Willian (Anjinho), Simão, Márcio, todos como bateristas. Ainda em 1992, depois de uma briga
entre os membros, Marcos resolveu se desligar do grupo. Até então a banda
tocava apenas covers como “Orgasmatron” do Motorhead, “Polícia” do Titãs e “Fade to Black” do Matallica,
em garagens. Em 1993 a banda havia se desarticulado quando então Bosco e Marcos
se reuniram novamente e resolveram convidar Tito Lívio (da extinta Atecubanos) para assumir a guitarra
base, Márcio Denis para assumir a
guitarra solo e Lauro Henrique para
a bateria, quando então fizeram a primeira composição denominada “A Criança
Negra”. Nesta época os ensaios aconteciam no estúdio Sauna (uma espécie de
cubículo que precisava ser evacuado ao final de cada música tocada, devido ao
calor exagerado que fazia no local) e que funcionava na casa de um amigo da
banda. Ao mesmo tempo, com o desejo cada vez maior de se desenvolverem músicas
próprias e um rendimento musical não satisfatório daquela configuração,
Marcos propôs em meados de 1993 que a banda fosse dividida para que formassem
dois novos grupos, sendo uma com Bosco e Lauro e a outra com Marcos, Márcio e
Tito. No entanto, nenhuma das duas formações logrou êxito. No início de
1994, Marcos musicou a poesia “Red” de Sandro
Nine, alterando parte de sua letra, que tornou-se análoga ao suicídio de Kurt Cobain. Passaram a tocá-la em
apresentações acústicas de voz e violão no Bar
do Barão e no Bip Top Bar, ambos
no centro de Manaus. Logo em seguida os dois convidaram Lauro Henrique para a bateria e Marco Alencar para o baixo.
Assim, após alguns ensaios, em
agosto de 1995 a “Scare Crow” se
apresentou no circo do SESC em
Manaus, em um show que surpreendeu a
plateia quando então executaram pela primeira vez (com todo seu arranjo e poesia) a composição “Red”, que veio a se
tornar, em marco inicial, tanto para o início da carreira do grupo como para
toda a cena autoral da cidade de Manaus, que naquele momento começava a
catalisar uma espécie de efervescência cultural pela qual bandas passavam a
tocar suas músicas alternativas em português. Vale destacar os trabalhos das
banda Charlie Perfume, Veneno da Madrugada, Cogumelo Blues Band, entre outras,
assim como de companhias de teatro como a “Rock me Medéia”. Ao mesmo tempo novos lugares como Ecos Bar, War Zone e Casa de Luz
abriam suas portas para aquela nova geração expor seus trabalhos para um
público cada vez mais sedento por expressões culturais reformuladas.
Neste cenário, a Scare Crow se diferenciava pela
suavidade e melancolia de suas letras e ao mesmo tempo pelo peso e
agressividade das melodias, sendo que muita das vezes a banda chegava a ser
taxada (talvez erroneamente) como um rock alternativo depressivo. Outras apresentações
vieram, quando então, em agosto daquele mesmo ano (1995), M.T.N. foi morar em Brasília, no Distrito Federal.
Em Outubro de 1996 M.T.N. voltou
à Manaus e juntamente com Márcio Denis, fizeram um acústico inusitado na Casa de Luz, como atração de uma festa
organizada por Douglas Mandrake e Bob Medina, onde o público foi
convidado para ficar no palco e os músicos na arquibancada. A decoração contava
com flores espalhadas pelo chão e luzes negras como fonte de iluminação. Os
ensaios aconteciam na casa de Márcio Denis.
A essa altura músicas como
"Qual é?", “Memórias de um Suicida” e “Lágrimas das Nuvens” já faziam
parte do repertório. Dentre as principais influências da época figuravam Superchunk, Sebadoh, Veruca Salt e Placebo. A banda ainda se
articularia para mais um show em
dezembro daquele mesmo ano, pouco antes de M.T.N. retornar a Brasília
novamente.
Em 1998, com o retorno definitivo
de M.T.N. para Manaus, a Scare Crow
se articulou novamente com a participação de Márcos Dennis na guitarra solo, Mário Ruy de Carvalho no baixo e Volner Sá na bateria. Essa formação se
articulou por alguns meses realizando alguns shows no Bar War Zone
até meados do ano seguinte. Depois a banda experimentou as passagens rápidas de
Larissa Batera, Fagner Vasconcelos e Augusto
Nunes, todos na bateria, sem que ninguém ficasse, e a banda ficaria
desfalcada por alguns meses. Neste período os ensaios aconteciam nos altos de
uma eletrônica, no centro da cidade.
Assim, em 2009, Mário Ruy de
Carvalho convida de forma informal Eric
Lopo para a vaga de baterista. Nesta fase Marcos e Márcio se afastam devido
a divergências musicais e a banda se transforma em um power trio. Os ensaios passaram a acontecer na
casa do baixista e em um centro social próximo.
Novas composições surgiram como
“Desde o Berço” e “Fronteira Norte” e em dezembro daquele mesmo ano a banda se
apresentou no antológico festival “Fronteira
Norte" na zona rural da cidade para uma plateia de mais de 5000
pessoas, quando então adotou o nome “Espantalho”
com o objetivo de ficar mais coerente ao repertório cantado em português.
O evento em si impressionou
bastante pela qualidade musical das bandas clima “Woodstock” com uma plateia ensandecida e performances inusitadas
como as feitas pela Monstro Lake
onde todos apareceram vestidos de colegiais e da própria Espantalho onde os seus três integrantes tocaram de saias. Nesse show canções como “Qual é?” e “Red” já
eram cantadas em coro pelo público.
Outros shows menores aconteceram
no ano seguinte, mas o destaque foi para a segunda edição do “Fronteira Norte” em outubro de 1999,
que reuniu um público de mais de 8.000 pessoas no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
e teve uma apresentação inusitada da Olhos
Imaculados, na qual o vocalista, Seta,
se jogou do palco e continuou sua apresentação correndo entre a multidão, fato
este que inspirou M.T.N. a compor a música “O Extraordinário”. Logo em seguida
Márcio Denis voltou à banda.
Em março de 2000, através de uma
parceria firmada com Gláucio Kaeli –
o qual detinha um crédito de 60 horas para gravação de material fonográfico no Estúdio HB (antigo “Espelho da Lua”)
em Manaus – e a Espantalho
viabilizou-se a tão esperada e sonhada gravação do primeiro álbum que à época
se intitularia “Atrás de Quê?” em
uma alusão à faixa “Qual É?”.
Os trabalhos de gravação foram
executados por Mauro Drummond e
Gláucio Benchaya, sendo este último
o responsável pela produção e mixagem final. No entanto, aquela quantidade
de horas seria insuficiente e logo a banda teria de fazer novas negociações se
realmente quisesse finalizar suas gravações.
Com poucos recursos a banda
passou a utilizar as chamadas “sobras de estúdio” durante várias madrugadas
subsequentes em finais de semana. E antes que a banda pudesse finalizar a
mixagem de suas gravações o estúdio fechou suas portas e a banda ficou com 11
faixas não mixadas debaixo do braço, sendo que destas apenas 07 seriam de fato
aproveitadas para o sonhado álbum.
No final daquele mesmo ano, a Fundação Villa-Lobos (FVL)
promoveu o evento denominado “Rock de
Ponta” na Ponta Negra em Manaus,
que contou com um público de mais de 4000 pessoas, quando então Eric Lopo fez
sua última apresentação com o grupo.
No mesmo ano, a FVL em parceria com a Prefeitura Municipal de Manaus (PMM)
convidou a Espantalho para
participar do álbum de coletânea musical “Além
da Fronteira Vol.1" com duas faixas. No entanto, considerando a
escassez de horas de estúdio para os processos de gravação e mixagem o grupo
optou por apenas inserir duas faixas já gravadas anteriormente utilizando o
tempo apenas para a regravação de vocais e mixagem.
A coletânea teve uma tiragem de
3000 cópias que foram rapidamente esgotadas e contava com a participação de
mais 15 bandas da cena local, sendo que naquele ano, as rádios locais passaram
a executar algumas daquelas composições em suas programações diárias. Parecia
que tudo daria certo!
No final de 2002, e uma nova
iniciativa a FVL em parceria com a PMM selecionou algumas bandas para
enfim, gravarem seus trabalhos individuais. A Espantalho foi uma delas. Todavia, considerando a escassez de horas
disponíveis para os processos de gravação e mixagem a banda optou por gravar
apenas mais três faixas (as
recém-compostas “Patchuli”, “Colar de Estrelas” e a regravação de “Desde o
Berço”, a qual foi anteriormente reprovada) e assim juntamente com as
demais 07 faixas, serem enfim mixadas e comporem o tão esperado primeiro álbum.
Nesta ocasião, a convite de Benchaya, China
(ex-baterista do grupo Carrapicho) participou da gravação
das três novas gravações nas dependências do Estúdio Dance Mix.
Neste mesmo ano as coletâneas “Além da Fronteira” volumes 1 e 2 já
eram os discos mais executadas em toda a cidade. Os shows da Espantalho, por
sua vez, eram um espetáculo à parte, com destaque para uma apresentação que
superlotou o bar MacIntosh, no
centro da cidade, quando Augusto Nunes (nessa
época integrante da Underflow)
fez sua primeira participação ao vivo como baterista.
Como a banda não possuía a figura
do baterista fixo, a foto oficial para o álbum agora denominado simplesmente de
“Espantalho”, contou apenas com Marcos Terra Nova, Márcio Denis e Mário Ruy de
Carvalho. Assim, em 13 de setembro de 2003, este álbum foi finalmente
lançado, em conjunto ao lançamento dos álbuns das bandas Chá-de-Flores e Zona Tribal
em uma noite chuvosa no Espaço Cultural
Usina Chaminé, com um recorde de público no local. Nesta ocasião a Espantalho se apresentou com o
baterista convidado Tiago Guelf que
ainda se apresentou com o grupo por mais uma vez naquele mesmo ano.
No ano seguinte este álbum foi
reconhecido como o “Melhor de 2003” pelo jornal de maior circulação local sendo
que passou a ser executado exaustivamente nas casas noturnas, bares e rádios
locais emplacando as músicas “Colar de Estrelas”, “Desde O Berço”, “Red”, “O
Extraordinário”, “Qual É?”, “Amanhecer Dirigindo” e a antológica “Patchuli” no
melhor estilo rock épico. Talvez por
isso, este trabalho tenha sido considerado pela opinião popular como um álbum
clássico.
Em janeiro de 2004, China foi
convidado para a vaga de baterista e a banda consolidou-se com esta formação
nos três anos seguintes. Em março daquele mesmo ano aconteceu a quarta
edição do festival “Fronteira Norte”,
na zona rural da cidade, quando então a Espantalho
fez uma performance espetacular para um público completamente extasiado.
Em julho do 2006 a banda realizou
um acústico no Largo de São Sebastião,
sendo que em outubro, fez um memorável show
plugado e agressivo no Absinto Pub,
superlotado onde o ar condicionado não vencia o calor e a euforia da plateia.
Ainda naquele ano, a Espantalho
gravou duas faixas para o projeto “A
Casa da Árvore” que contaria com a participação de mais 05 bandas locais e
teria o apoio da FVL. No ano
seguinte a banda fez poucas apresentações enquanto M.T.N. batalhava entre idas
e vindas burocráticas do projeto até o seu completo cancelamento em meados de
2007 e o extravio dos materiais de dentro da própria instituição. Neste período
os shows já contavam com as músicas
“Reconquistar”, “Fogos de Artifício” e “Magnólia” que então fariam parte do
segundo álbum sob a titulação provisória de “Em Busca de Uma Nova Atmosfera”.
Porém, neste mesmo ano, o
desgaste chegava ao seu ápice. O isolamento geográfico de Manaus mostrava suas verdadeiras
implicações. O cansaço natural somado ao arrefecimento da euforia criativa do
cenário autoral da década anterior, e extinção de algumas excelentes bandas,
além da concorrência canibalesca entre os artistas do momento, fizeram a Espantalho optar pela suspensão
definitiva de suas atividades, divulgada em outubro de 2007 em um jornal local.
Aquele mesmo isolamento que
parecia contribuir para a diferenciação sonora da musicalidade da cena local
era o mesmo que a enclausurava.
Com o tempo centenas de fãs
através de redes sociais passaram a pedir de forma insistente um retorno da
banda, atendido na forma de um revival dividido em dois dias
de casa lotada em plenas sexta e sábado de carnaval em 2010. Para este show a banda contou novamente com a participação
de Augusto Nunes nas baquetas.
Um ano e meio depois, os pedidos
voltaram a se tornar insistentes, quanto então a Espantalho resolveu se articular para um retorno definitivo, o qual
foi realizado no dia 1º de Setembro de 2012, em um show histórico em uma casa noturna de grande porte da cidade de
Manaus com uma apresentação de 2 horas de duração. Esta formação conta com Marcos Terra Nova na voz e guitarra, Mário Ruy de Carvalho no baixo, Augusto Nunes na bateria e David Henri na segunda guitarra.
Ainda que involuntariamente a Espantalho
talvez tenha optado por um caminho que ao final se mostrou favorável ao grupo,
uma vez que a parada de suas atividades funcionou como uma espécie de “câmara
do tempo” colocando-a em uma nova configuração do cenário musical bem mais
favorável.
Hoje a banda encontra-se mais
madura e em estúdio regravando o tão esperado segundo álbum que tem previsão de
lançamento para carnaval de 2013.
O.: Como foi o processo de
gravação, divulgação, venda e produção do primeiro CD da banda?
M.T.N.: O processo de gravação foi respondido na primeira
pergunta!
Quanto a distribuição, na época nos foi repassado
1800 cópias pela FVL, salvo engano.
Vendemos estas cópias na Bemol, em bancas de
revista, e nos shows ao vivo.
Demos muitos CDs também para donos de casas
norturnas e rádios da cidade.
Mandamos para redação de jornais também. Locais e
de SP e RJ.
Mandamos para emissoras de TV em SP e para as
gravadoras nacionais como Universal, EMI, Deck Disc,
entre outras.
Deixamos os materiais
nas próprias sedes das gravadoras.
Mas esta era justamente a época em que todas elas
estavam quebrando, quando o Napster e outros
compartilhadores de música estavam no auge!!
Chegamos a assinar um contrato com a MTV para uso
de nosso material.
A introdução de “O Extraordinário” ainda foi
usado em vinhetas da emissora.
Fomos escalados para o Banda Antes, mas depois
ficamos na geladeira.
O.: O grupo passou quase toda sua existência como power trio. Recentemente
adotou um segundo guitarrista. O que
levou à mudança e no que isso mudou no som?
M.T.N.: A
volta do segundo guitarrista, visa trazer de volta aos shows a riqueza dos arranjos presentes no álbum “Espantalho”, e também para as novas
composições. Agora estamos em uma fase mais madura e acredito que a convivência
entre quatro pessoas hoje pode ser melhor conduzida.
O.: A
Espantalho conseguiu algo, até então, inédito no rock manauara. Fazer o
público cantar, praticamente todas, as músicas próprias da banda, em todos os shows que vem realizando. Qual a justificativa desse fenômeno?
Augusto Nunes, Marcos Terra Nova e Mário Ruy |
M.T.N.: Para
isso não cabe falsa modéstia. Acredito que sejam pelas músicas mesmo, pelas
letras, ou melhor, pelo conjunto das duas! As músicas quando são escritas visam
oferecer o melhor de mim como autor, dentro de meu momento histórico,
procurando ter o cuidado de não cair nas armadilhas do deslumbre fácil, de
tentar ser igual a algum ídolo meu!
O.: O rock local não deixa nada a desejar, em
comparação com o rock nacional e até
mesmo internacional. O que falta pra se
conseguir o destaque merecido?
M.T.N.: Em primeiro lugar acredito que a
música fala por si só, independente de onde você mora, de sua religião ou de
sua cor. As notas musicais são as mesmas para todo o globo. Para mim, o segredo
do sucesso é ter qualidade musical em primeiro lugar e conseguir mostrar seu
material onde se deve mostrar. Ou seja, para o seu perfil de público que, por
fim, vai lhe aceitar ou rejeitar. E esse público pode variar muito, dependendo
de que tipo de trabalho você é capaz de desenvolver. Quanto à cena local, já
foi muito mais limitada que hoje devido ao isolamento geográfico da cidade e da
visão míope e provinciana de muitos agentes de entretenimento, que ainda
perdura, infelizmente. Poderia divagar milhares de coisas, mas acredito que
isso não tenha mais poder, uma vez que hoje temos todos os recursos para ir
mais longe e qual o melhor exemplo disso? Internet.
Porém, vale ressaltar que apenas
disponibilizar músicas, não resolve o problema. Tem que distribuir, fazer
barulho, estar presenta em milhares de canais pelo mundo afora, o que é difícil
porque não existe mais aquela meia dúzia de corporações musicais como antes
acontecia. Tudo está pulverizado e confusamente espalhado. São milhares de blogs, sites, comunidades, ONGs,
gravadores e etc., que se vendem como baluartes da música independente no
mundo. E o pior, é que todo mundo se mostra como a solução do sucesso. Mas, vez
em quando paro e observo muitos artistas de alguns poucos anos atrás e me
assusto como eles de uma hora para outra foram completamente esquecidos, de forma
assustadoramente efêmera. Por isso, tento me relacionar com o tal de “sucesso”
da forma que talvez ele deva ser visto: de forma relativa. Quem sabe se eu já
não estaria sendo um cara de sucesso, agora? Não sei! Mas o fato é que, se você
não se “antena”, amanhã já foi. E por mais que isso possa fazer parte de uma
lógica cruel, de certo modo traz um lado positivo, democrático, uma vez que
todos poderão ter direito aos seus 15 minutos de fama. É por isso que não
acredito nessa história de ficar tocando de graça o tempo todo ou de
disponibilizar álbuns inteiros de graça na web
(quando se tem rádios online e banda larga) como
fórmulas de divulgação. Para mim isso pode ser um desperdício de renda e uma
forma de desrespeito ao seu próprio trabalho. Já que você poderá estar gastando,
os tão sonhados 15 minutos de fama, da maneira mais equivocada possível. Ou
seja, em troca de tapinhas nas costas, ou melhor, de nada! Por outro lado,
existe a questão do tipo de música que você faz. Quanto mais universal ela
venha a parecer, mais ela estará enquadrada no padrão de concorrência externa,
e isso torna o cenário mais acirrado. Enquanto que, quanto mais regionalizada
musicalmente a banda ou artista for, talvez ele tenha mais atalhos de
potenciais mercados. Lembrando também que racionalizar demais processos de
composição pode incutir na perda da naturalidade da obra. De qualquer forma,
independente do caminho percorrido ou da característica musical adotada, nós
sempre estaremos submetidos ao fio da navalha do “talento”, e para isso não
importa o som que você faz. Se ele não for bom o bastante e não possuir certa
autenticidade, será mais difícil vingar, apesar de não achar isso impossível,
com tanto lixo por aí. Por isso, não acredito mais nessa história de oferta em
bloco do tipo “vários músicos da mesma região” vendendo uma nova sonoridade
regional ou coisas do gênero. Isso já foi feito e não deu certo. Muito pelo
contrário. Isso pode caricaturar bandas e artistas como coitadinhos que
precisam de ajuda para fazerem sucesso. Portanto, para mim a resposta está lá
no início. O que devemos apresentar é a música boa e trabalhar duro nos
processos de divulgação sem muitos deslumbres. O fato é que não estamos mais
tão desfavorecidos quanto antes!
O.: Quais
suas inspirações nas letras da Espantalho?
M.T.N.: Não
tenho uma fórmula. Tento deixar a emoção, inspiração, ou seja lá o que for,
ditar os rumos da composição. Também não sou nenhum literato. Leio pouco até.
Gostaria de ler mais. Por exemplo, tenho três obras da Lispector que quero terminar e não consigo. Gosto da Lya Luft, mas nem sei se de fato crio
alguma relação direta entre o que leio e o que escrevo. Acho inclusive que o
cinema termina exercendo mais influência em mim. Sou cinéfilo de carteirinha. Mas há também situações do dia a dia, às
vezes inusitadas como a que me fez escrever “O Extraordinário”, quando vi o Seta cair de um palco, levantar e
continuar no meio da multidão, cantando e cantando. Não sei. Espero que essa
anteninha não pare de funcionar tão cedo (risos)!
O.: É
notável uma grande influência poética nas letras. Quais as referências literárias latentes?
M.T.N.: Acho
que respondi essa sem querer. Faz outra!
O.: No
primeiro CD da banda consta uma música cantada em inglês (Overdrive). Outras virão ou
esta foi apenas um teste?
M.T.N.: Gostaria
de fazer mais letras em inglês sim. Talvez por questões de superar um desafio
em conseguir criar poesia em outra língua. Talvez eu me sentisse mais à vontade
se estivesse morando fora. Imerso em outra situação. Mas para o próximo álbum
não!
O.: Quais
as próximas metas da banda?
M.T.N.: Gravar
o próximo álbum com muito afinco. Fazer uma boa festa pra galera se divertir e
dar uma volta em outros lugares! Tá mais que na hora.
O.: Deixe
o contato da banda e um recado para os leitores desse blog.
M.T.N.: Ouçam
o novo trabalho da Espantalho e me
deem um retorno! E sejam felizes, livres de estereótipos e não acreditem
piamente nas suas instituições, sejam elas quais forem. espantalhobr@gmail.com
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