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quarta-feira, 14 de março de 2012

Os Tucumanus - Regional Experimental

Há quem ainda duvide do potencial de criatividade do rock amazonense.  Aqui está a resenha do debut, lançado em 2007, de uma banda apta a sanar essa dúvida berrante nos aculturados.  Os Tucumanus surgiram da necessidade de expressão de descendentes diretos da miscigenação indígena e ribeirinha.  Uma geração que cresceu escutando Chico Science, fazendo download em cyber café e matando a larica com churrasquinho de esquina.  A propósito, o mangue beat aqui se faz muito influente.  Porém, em vez de caranguejo, o protagonista agora é o Jaraqui.
Capa de Regional Experimental da banda Os Tucumanus
A musicalidade de “Regional Experimental” transita entre o rock setentista, o mangue beat, a música folk amazonense e a MPB com pitadas de punk rock.  Contudo, a miscelânea de poesia marginal, gíria urbana, lenda regional e sarcasmo ilustram as letras bem sacadas que são cantadas com bastante backing e clareza na dicção sem perder o sotaque nortista.
O disquinho abre com uma citação à capela do vocalista Maurício Pardo, vulgo Jabá, que hoje já não faz mais parte da banda, somente com acompanhamento de backing vocals.  “Caboco Ôco” remete diretamente ao “Monólogo ao Pé do Ouvido” do já citado Science e dá uma mostra do que virá no restante do CD.  Denúncia, poesia cabocla e reivindicação com estilo, swing e bom humor.  A segunda faixa “Boi Voador” exibe o enorme poder de criação explorado.  A letra é de um lirismo nortista único e a progressão para o refrão torna a canção grudenta na memória.  A terceira “O Jardim” apresenta a poesia boêmia do segundo vocalista Clóvis Rodrigues, que também é vocalista da divertida banda Platinados.  Em seguida vem “Faz o Certo”, também de autoria de Clóvis, vulgo Cachorro, é tão bukowiskiana quanto a anterior, sendo que nesta o coadjuvante principal é uma fogosa mulher.  “Acari Bodó” joga um forte tempero da culinária manauara no prato swingado com letra simplista.  A sexta faixa “Vô Mermo” se não for a mais divertida, sem sombras de dúvidas que é a que mais exemplifica a malandragem.  Quem nunca desejou ver o enterro daquele marginalzinho do bairro que cobra pedágio pra te deixar passar?  A melodia casada com o nome dessa música, convida qualquer ouvinte ao canto.  Na sequência a malandragem continua com “O Boto”.  Nesta, fica explícito o cativo pop das composições.  Forte candidata para sucesso de rádio.  “Na Rede” é outra com pegada pop dançante que vai no embalo (sem trocadilho nenhum com o título da canção) com a anterior.  “Palafitas” também tem levada dançante e exibe a problemática do comércio de grilagem em sintonia com a ausência de saneamento básico.  A penúltima “Carapuça” talvez seja a melhor do CD.  Extraída diretamente do repertório da banda Platinados.  Um rockão adulto que começa sutil e cresce em sua cadencia.  A letra pode parecer uma junção de frases soltas e desconexas, mas o intuito de pintar um quadro humano, é perceptível na imensa e bizarra diversidade citada.  Fechando o disco o hit do grupo “Churrasco de Gato”.  O balanço desta música é suave com um ritmo agradabilíssimo e melodia que fica na mente mesmo depois de horas findado o som.  Incrível como o empresariado do mainstrem fonográfico ainda não descobriu isso.
Além do talentosíssimo Clóvis e de Jabá, este disco também contou com a participação dos excelentes músicos Denilson Novo com sua guitarra reggae, Daniel Valentim na marcação precisa do baixo, Luis Pepê com uma bateria perfeita, Ricardo Mota (vulgo Ricardinho) na enriquecedora percussão e ainda com a participação de Carol Queiroz nos sempre libidinosos backing vocals femininos.
Em suma, “Regional Experimental” é um álbum marco na história do rock, e porque não, da música amazonense?  Depois desse registro, que evidentemente poderia ter sido melhor produzido, mas mesmo assim, ainda é de enorme valia, principalmente no tocante a criatividade, a banda Os Tucumanus acabou, retornou reformulada com novos integrantes e ainda continua fazendo shows pela cidade de Manaus.  Já chegaram inclusive a fazer apresentação em São Paulo.  Para os mais interessados, é possível encontrar cópias de uma gravação pirata de uma apresentação dessa molecada no Teatro Amazonas.  Quem ainda não conhece e pensa não existir mais fronteiras para a criatividade na música do novo milênio, eis um som digno a ser buscado.  Mas não esqueçam a farinha do Uareni.

Um comentário:

  1. CONCORDO COM TUDO, SOU FÃ PRIMEIRAMENTE DA PLATINADOS, COMO ÓRFÃO DESTA, PASSEI A CURTIR TUCUMANOS, A QUAL ACHEI DE EXTREMA CRIATIVIDADE E INTELIGENCIA, POSTO QUE NÓS AMAZONENSES POUCO EXPRESSAMOS NOSSA CULTURA PROPRIA, SEMPRE ESTAMOS INUNDADOS DE COISAS NORDESTINAS, SULISTAS OU PARAENSES E O QUE É NOSSO DE FATO FICA ESQUECIDO. VIDA LONGA AOS TUCUMANOS.

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