Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Como Era Bom Ser Vagabundo

Quando criança, minha família era considerada “classe média”.  Deste modo, meu pai sempre dizia que eu tinha de me concentrar nos estudos para futuramente ter um emprego burocrático e não braçal.  Hoje em dia essa dita classe social, pressionada pela atual carga tributária e pelo aumento da cadência de trabalho, praticamente desapareceu, por seus representantes terem migrado, mesmo que contra vontade, para a crescente “classe baixa”.  Toda “moleza” que eu tinha antes, agora me faz falta, sendo que no momento, eu mal tenho tempo para ir ao banheiro.
Quando adolescente minha atenção era voltada apenas para a diversão, em todos os sentidos da palavra.  Aos quinze anos, eu até me empreitei num emprego de Office boy pelo extinto Banco do Estado do Amazonas.  Porém, a justificativa, era de apenas, ter dinheiro para comprar discos, camisetas de rock, bebida, cigarros e outros tipos de drogas.  Meu espírito subversivo, instigado pelo punk rock, fez com que eu não suportasse por muitos meses o capitalista ambiente bancário.  Cheguei a motivar uma greve de paralisação dos Office boys.  Por incrível que pareça, na época, não recebíamos vale transporte nem vale refeição.  Quando recebia meu salário, fazia a festa nas lojas de discos e estava sempre com cigarros no bolso, sob efeito de algo entorpecente e me satisfazendo com as garotas.  Podia acordar a hora que eu bem quisesse, passar vários dias fora de casa e cheguei a freqüentar todos os shows de rock que aconteciam na cidade.  Pelo fato de eu viver reclamando da vida (na utopia da belíssima filosofia punk), costumo dizer que eu era feliz e não sabia.
Alguns anos mais tarde, quando já havia saído da adolescência, não me prendia a um emprego fixo.  Fazia “bicos” manufaturando desenhos, colagens e pinturas, cartazes, folders e ilustrações pra camisetas.  Como na época não tínhamos ainda uma difusão massificada da computação gráfica, tudo era manual mesmo.  Nesta “liberdade”, eu tinha tempo pra pintar e desenhar bastante, ler muito, escutar música, assistir filmes em grande quantidade e também participar de vários acampamentos.  Fazia fanzines, participava de bandas, redigia poesias e textos diversos.  Era uma verdadeira máquina humana de produção e consumo de arte em geral.  Chegava a estar envolvido com vários projetos ao mesmo tempo, sempre me atualizando e em contato com pessoas do Brasil inteiro e até do exterior.  A internet ainda era coisa restrita, então tudo se dava via Correios.  Era motivador ter contato com pessoas estranhas dos mais longínquos lugares.  Cheguei a ganhar dois prêmios como roteirista, sendo que o segundo nós disputamos com trabalhos de vários países.
Mais recentemente eu entrei pra faculdade, me formei e voltei a ter carteira profissional assinada.  Trabalhei em agências de publicidade e empresas administrativas.  Quando sai de meu último emprego, por meu patrão, em declínio financeiro não ter condições de me pagar, fiquei um ano e meio desempregado.  Voltei a fazer “bicos” e como já tinha computador próprio com internet, deitei e rolei em algumas produções.  Cheguei a participar de cinco grupos de trabalho voluntário.  Destes, eu coordenei três grupos, palestrei várias vezes pelos diferentes grupos, realizei dinâmicas em grupo, instalações e projetos diversos.  Consegui colocar cinco blogs online, sendo que destes, dois tinham atualizações diárias, um deles com a média de cinqüenta visitas diárias e outro sendo mais visitado por norte americanos do que por brasileiros e ainda colaborava com mais dois blogs.  Abri oito contas de e-mails e participei de quatro mailists. Ainda tinha o luxo de me exercitar para manter a forma.  Apesar de estar desempregado, eu tinha o tempo bastante corrido e uma agenda muito apertada, inclusive nos finais de semana.  Podia estar praticamente sem dinheiro pra nada, mas sempre com responsabilidades e sérios compromissos agendados.
Contudo, na necessidade de uma estabilização financeira, tive de correr atrás de uma contratação efetiva.  Consegui a graça no último dia 12 de setembro.  Logo, minha liberdade acabou.
Veio-me o horário de expediente, o ponto eletrônico pra ser batido religiosamente na entrada e na saída, dez horas de jornada diária e expediente de segunda a sábado.  Ainda tenho os cinco blogs, mas as postagens são raras.  Ainda tenho as oito contas de e-mails, mas já não consigo responder a tudo.  Idem para os mailists.  Já não posso mais me comprometer com colaborações.  Não há mais disponibilidade para atuações voluntárias durante a semana e mesmo durante os finais de semana ou feriados, estou sempre sacrificando a participação em um grupo em prol de outro.  Um show, um teatro ou um cinema, nem pensar.  Por várias vezes é comum eu ir em casa apenas para dormir.  Fazer exercícios físicos nem em sonho.  Pior é que a empresa está investindo em mim, então já estou participando de cursos relâmpagos, palestras e até já estou sendo programado para viagens a trabalho.  Em suma, meu tempo acabou.  Tudo que eu tinha de planejamento voluntário teve de ser revisto e alguns projetos ficaram comprometidos.
Hoje meus familiares já me olham com um ar de mais respeito e até um pouco de admiração.  Já começo a fazer planejamentos financeiros de longo prazo.  Porém, de vez em quando me pego na saudade do tempo em que eu podia fazer o que quisesse, quando, como, onde e com quem quisesse, de poder dormir até tarde e ficar acordado a madrugada toda, de poder dedicar um dia inteiro somente pra leitura de um bom livro ou da ingestão de Ayahuasca, de passar dias na casa de alguém ou mesmo de viajar sem data certa pra volta.  Quem sabe um dia eu volte a viver essas regalias na preguiça do descompromisso.  Sem dúvidas que essa é uma meta futura.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Pintando Crianças na AMA

                Muitos anos que eu pratico trabalho voluntário.  Meio artístico e ambientalismo são as bases destes.  Porém, de um tempo pra cá eu experimentei alguma coisa no naturismo e na área social.  Sempre quis fazer algo no ramo da saúde e eis que na atual empresa na qual sou contratado, surgiu a oportunidade.

Todos os anos a organização faz duas atuações na entidade Associação de Amigos dos Autistas do Amazonas (AMA-AM).  O grupo de voluntários participa com leituras, canto, jogos, brincadeiras, além de sempre servir um lanche especial para esse tipo de criança que merece mais atenção e carinho do que qualquer outra.
Minha participação foi pintando rostos de crianças.  Uma idéia simples, barata e de muito agrado para a molecada.  Não demorou a se formar uma fila de candidatos a receberem as ilustrações em suas peles.  Em certo momento, até alguns adultos quiseram ter a pele pintada.
Vale lembrar que a tinta usada é específica para pintura corporal e totalmente inócua para a saúde.
Pode parecer um trabalho simples, mas em se tratando de crianças com necessidades especiais, é sempre mais difícil de lidar, pela evidente e natural inquietação delas.  Algumas chegavam a mudar de idéia sobre a escolha do desenho depois de iniciada a pintura.
Certamente que irei fazer algo mais no ramo, porque esse tipo de trabalho é uma espécie de terapia para mim também.  Não deixa de ser divertido, exercita nosso humanismo nos engrandecendo como pessoa, satisfaz espiritualmente e alimenta a paciência.