Uma das primeiras bandas de blues da cidade de Manaus, a Tulipa Negra cometeu erros e acertos que certamente indicaram o título de cult e a extinção do grupo. Um dos maiores erros, sem dúvida nenhuma, era o de não tocar suas músicas próprias nos shows e se limitar a ser uma banda cover pra servir de fundo musical de barzinho. O maior acerto (acerto marcante, por sinal) foi o lançamento de seu único CD no ano de 2000, “Na Estufa”. Primeiro disco de blues de uma banda de Manaus.
A bolachinha já abre com um puta rock and roll chamado “Razão De Um Blues”. Os arranjos são muito bem encaixados e a letra é digna do mundo rock and blues. Bares esfumaçados por cigarro, bebida em excesso, mulheres sedutoras e som alto. Simplesmente convidativo à dança. A segunda faixa já cai pra um blues roots. “O Velho” é nada mais e nada menos que um culto apaixonado ao blues com o clima noir da história de um homem idoso em sua decadência existencial. Poderia muito ter sido gravada por um dos grandes nomes do blues nacional como Baseado Em Blues, Blues Etílicos ou Celso Blues Boy. A terceira “Sangue A Mil” é um grande rythm blues. O bom solo de guitarra e o acompanhamento profissional de excelentes músicos chega a ser marcante. A seguinte “Miragem Sua” volta ao blues clássico. A influência de B.B. King é explícita. A letra desta faixa, bem como da anterior, não foge do clichê padrão de paixão por alguma musa qualquer. Nesta, há solos do guitarrista, do tecladista e do saxofonista. Na sequência vem a mais comercial e fraca do disco. “Amargo Âmago” cairia muito bem na voz da maravilhosa Ângela Rô Rô. Um blues pop, quase balada, que poderia estar incluso no “jabá” das rádios. Em seguida vem uma boa surpresa. “Fugindo Da Polícia” é um rock and rollzão com pitadas rockabilly instrumental que volta levantar o astral do disco e convida novamente à dança. Após o solo da guitarra, entra um solo de teclado, seguido de um sutil solo do contrabaixo e um pequeno solo de bateria que culmina no entrosamento cativante de todos os músicos. A penúltima música é a que dá nome ao CD. “Na Estufa” é um outro rythm blues muito bacana que em sua poética letra compara uma mulher, com seu perfume embriagante, a uma flor na estufa. Pra fechar o trabalho outra boa surpresa. “Rio Negro, Negro Blues” é um lindo jazz instrumental que deixa seu swing gravado na memória. Seu final também tem pequenos solos de contrabaixo e de bateria. Dois são os músicos em destaque desta formação no grupo. O ótimo guitarrista Matheus Gondim (atual guitarrista/vocalista da Soda Billy) e o saxofonista Milton Calvoso (que já gravou com Bocato). Nos créditos consta a participação de Helmut Quacken (baterista da Glory Opera), mas não se diz em que canção. Ausência de créditos mais detalhados e de letras das músicas é um paradigma nos discos das bandas manauaras, que ainda não atentaram a importância crucial da arte gráfica de um trabalho.
A banda já teve dezenas de formações, mas acabou se tornando patrimônio do front man Augusto Rocha que fazia os vocais e chegou a tocar bateria no disco e em shows. Se um dia voltar à ativa, a Tulipa Negra dificilmente reunirá essa formação ou contará com o grande baterista Voulner Sá (ex-baterista da banda que também integrou a Deskarados). Porém, este CD é um registro histórico e merece destaque na discografia de Manaus.
Este eu tenho, e me lembra muito o Maurício, o baixista, um super cara que não estámais em Manaus! Discão.
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