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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entrevista Com A Banda Soda Billy

Banda manauara com estilo peculiar.  Rock and roll básico, mas com forte influência de surf music, jazz, soul, blues e afins, a Soda Billy acaba de lançar seu primeiro CD.  Sem medo nenhum de explorar elementos das big bands, um naipe de metais consta em quase todas as apresentações.  Bom gosto pode ser o resumo para uma súmula resenha do som.  Abaixo, uma entrevista cedida gentilmente por Matheus Gondim (guitarrista vocalista da banda).
 
Orestes: Quando e como surgiu a Soda Billy?
Matheus Gondim: Em meados de 2003, quando começamos a tocar com o nome de Soda Billy, antes disso (fase pré-natal) chamava-se "Betty Rocker" numa alusão à musa dos anos 50 e ícone pin up Bettie Page, chegamos a fazer alguns shows com esse nome.  A idéia era montar uma banda que tocasse rock n roll, rockabilly, surf music e blues para agitar nas noites fazendo o povo dançar.  Isso foi obtido de certa forma e foi nessa época inicial que surgiu a musica "Surfando No Igarapé Do 40" que é basicamente um riff de guitarra de rock n roll e surf music.  Queríamos uma banda de rock n roll anos 50 sem "xorumelas", sem aquela coisa saudosa de "éramos todos jovens", uma referência muito boa pra gente nessa época foi a banda texana Reverend Horton Heat, que fazia um som mais pesado que o Stray Cats, mas mantendo as  fortes influências do old rockabilly (alguns os classificam como uma banda de psychobilly, mas há controvérsias), então pensamos que era possivel uma banda de rock n roll clássico soar como atual e se manter contemporânea.
Nessa época eu não sabia o significado do conceito "vintage" e que me ajudou muito a explicar o porquê da Soda Billy, pois vintage é aquilo que não fica ultrapassado.  É velho, mas é atual e se faz presente na cultura tal como tênis "All Star", o "Fusca", o próprio futebol é vintage (tirando alguns jogadores mercenários e toda essa podridão que é a FIFA), pois é um esporte que ganhou popularidade no pós-guerra, justamente nos 50 e hoje esta mais vivo que nunca.  Há varias coisas "vintage" presentes na cena contemporânea, se você for observar na moda, na arquitetura, na cultura, culinária, na política e até na medicina, onde alguns parâmetros que norteiam procedimentos médicos como transfusão de sangue e usos de drogas como morfina são também oriundos do pós-guerra.  A Soda é isso.  Uma forma de apresentar às novas gerações elementos musicais ainda vivos que são a base que conhecemos hoje, do pop ao metal.
Muita gente pensa que o rock surgiu com os Beatles, muita gente pensa que o metal veio do nada com o Black Sabbath, muita gente pensa que Lady Gaga veio da Madonna e que essa veio da disco music anos 70, esquecem que Beatles ouviam Buddy Holy e Everly Brothers, que Black Sabbath chegou a gravar Carl Perkins (Blue Suede Shoes) e que essas duas nem o Michael Jackson não existiriam se não houvesse uma gravadora negra chamada Motown que  absorveu todos os artistas de soul music e doo wop remanescentes dos anos 50 e primeira metade dos anos 60.  A Soda tenta, dentro do possível contribuir musicalmente com essas informações em suas apresentações pra romper com elos da desinformação que ainda é muito presente.

O:Soda Billyé alguma bebida patenteada ou um nome divertido que exprime a cultura rocker?
MG: O nome veio de uma idéia contrária a de que "nome de banda tem que trazer uma mensagem".  Na época pensamos em algo que não significasse absolutamente nada, mas que soasse legal.  A rigor deveria se chamar Soda Blues, mas isso iria fechar ao invés de abrir nossas possibilidades musicais. Sempre tive e sempre terei respeito ao blues, já que minha formação musical passa toda por ele, mas definitivamente não me interessava em fazer uma banda só de blues.  Contudo, as pessoas sempre perguntavam: o que é Soda Billy?  Bem, dessa ampla possibilidade musical vintage que optamos acabou surgindo o significado-resposta pro nome Soda Billy, pois, assim como um drink é formado pela combinação de alguns ingredientes.  Pensamos que Soda Billy poderia ser um drink formado por blues, rockabilly, jazz, surf rock, rock n roll, latin, etc.  Então Soda Billy não é um refrigerante novo como perguntam pra mim, por aí quando vêem minha kombi preta pelas ruas com o logo da banda, que é um copo com um liquido.  E sim uma banda com conteúdo de várias vertentes musicais que não são peças de museu.

O: Qual a atual formação da banda?
MG: A banda está com 7 integrantes: eu na guitarra e vocal, o Ricardo Peixoto no baixo, o Igor Saunier na batera, Daniel Jander no sax, Neoverton Rodrigues no trombone, Vanei Valois no trompete e Kamila Guedes no vocal.  Mas de certa forma todos que participaram da banda fazem parte de uma família chamada Soda Billy.

O: Vocês acabaram de lançar um CD.  Como foi o processo de produção e gravação?
MG: A parte da gravação foi tranquila, com dificuldades básicas enfrentadas por todos em estúdios, mas a atuação do Roberto Montrezol foi definitiva pra fazermos algo bom, sobretudo em relação aos timbres e afins.  A mixagem também foi show de bola.  O problema maior ficou na masterização e, sobretudo, na prensagem, pois envolveu uma parte burocrática cujo nosso conhecimento era zero, isso fez atrasar muito o lançamento.  Uma coisa que eu não posso deixar de falar é que o nosso CD não foi só fruto do trabalho da banda e sim de vários amigos como Deco Salgado (design) e Eric Quesado (fotos) além do próprio Beto que, além de curtirem nosso som, nos deram essa força.  Isso sem contar com o patrocinadores: All Night, Chefão, Vicaz, Estúdio de Fotografia Daniel Cruz e Cultura Inglesa.  Foi um trabalho conjunto.

O: Qual a receptividade que o disco está tendo e o que esperam dele?
MG: Estamos recebendo muitos elogios com esse trabalho e no geral está tendo uma boa saída nas lojas disponíveis (Saraiva e Bemol).  Esperamos que do reconhecimento do nosso trabalho, surjam convites para nos apresentarmos em outros estados ou, quem sabe, em países vizinhos.  Acredito que isso irá ocorrer ao longo desse ano.

O: Além do CD, a banda está lançando uma série de outros souvenirs pra venda.  Fale um pouco sobre isso.
MG: Sim, isso é uma idéia antiga.  O logo da banda (criado por Alírio Castro, ex-baixista da banda em seu início) é show de bola.  Logo surgiram idéias de transformá-los em itens para nossos fãs.  Por isso fizemos um numero limitado de  chaveiros, bottons, adesivos, camisas e canetas.  Que estão disponíveis na forma de kits, mas em breve essas peças poderão ser compradas individualmente a preços bem acessíveis.

O: A Soda Billy é basicamente uma banda de rock and roll, mas com influências de jazz, blues, surf music e outros estilos afins.  Há público pra esses estilos em Manaus, ou ainda está em processo de formação?
MG: A palavra "responsabilidade" soa pesada em nossa consciência.  Sempre parece mais um "fardo" do que algo prazeroso.  Mas no nosso caso trouxemos para si a responsabilidade de, sem apoio direto do Estado, promover uma mudança do cenário cultural da cidade pelo menos naquilo que está ao nosso alcance.  Hoje em Manaus, ainda mais com esse lance de Copa, você tem em toda esquina um discurso que nos coloca como metrópole, como uma cidade cosmopolita.  Bem, eu discordo disso enquanto não houver uma mudança na cultura também.  Não adianta uma cidade cheia de shoppings, viadutos, metrôs de superfície e prédios se a cultura continuar provinciana, pois você tem forró em Manaus de segunda à segunda e isso limita as possibilidades de uma metrópole, pois, ao meu ver, uma metrópole deve oferecer não só forró e brega, mas jazz, música latina, dance, rock (muito rock e de vários estilos. risos), blues, metal, música erudita etc.
Há muita coisa sendo criada aqui.  Temos ótimos intelectuais, ótimos escritores, um dos maiores matemáticos do mundo é comedor de jaraqui (risos), o Dr. Renato Tribuzzi, temos ótimas bandas, nossa culinária é bem rica, nosso pólo industrial ainda é um pólo mais de montagem do que de criação, mas isso pode mudar se houver interesse político.  Enfim, Manaus precisa dar um salto de mentalidade e para isso não precisamos de uma "Revolução", mas talvez de pequenas revoluções e hoje há vários meios pra isso, e respondendo sua pergunta, hoje há sim público pra tudo em Manaus, e ficamos orgulhosos de saber que a nossa parte está sendo feita e já mostrando tímidos resultados, pois eu soube recentemente, que já existe um público bem jovem sabendo da nossa existência e curtindo nossa música.  Ou seja, jovens na faixa dos quinze que, além de Restart, ouvem também Soda Billy.

O: As covers sempre foram um ponto forte nos shows da Soda Billy e colocam o público pra dançar.  Vocês estão tendo a mesma reação com as músicas próprias ou isso é um fator que dependerá de mais tempo de divulgação do CD?
MG: Sim, músicas como "Vou Pegar Aline", "Surfando No Igarapé Do 40" e "Go To The Boogie" têm agitado sempre nos shows.  Lembrando que nossos covers não são nunca meros covers.  Sempre tentamos fazer releituras das músicas que tocamos de outros artistas.  Raramente tiramos uma música de alguém igualzinho como está no CD, isso nos possibilita interpretar a música do nosso jeito, ao nosso estilo.  Mais ou menos como as versões da Mona Lisa que fizeram Andy Warhol e Botero.

O: Esta pergunta eu faço pra toda banda manauara que eu entrevisto:  O que falta para o rock local ganhar projeção nacional, visto que aqui há tantas bandas de qualidade?
MG: A mesma coisa que falta não só para o rock, mas para a poesia, para a arquitetura, para a gastronomia, para as ciências e por aí vai: uma mudança de mentalidade, que incluiria, entre outras coisas, com a ruptura desses estereótipos do "regional exótico" que nos faz tanto mal, desse museu anacrônico que é coisa pra turista ver.  Me refiro a essa mentalidade turística que fica presa entre a La Bella Époque e o exótico do caboclo, cujo  próprio caboclo não aguenta mais e, por fim, dessa idéia de quintal de mundo, onde nada é produzido.  Tudo é implantado aqui vindo de fora ou extraído daqui naturalmente.
Há coisas sendo produzidas aqui sim.  Há muita gente criativa (outro dia eu provei um sushi feito com ingredientes da região, feito por um sushi man daqui, um sabor único no mundo, não é mesmo?).  Mas enquanto houver uma mentalidade hegemônica negando constantemente isso, vamos ficar renegados a essa condição periférica.
No caso especifico do rock, bastava algum empresário da noite investir (de forma planejada) em bandas locais com seus trabalhos próprios, pois há um enorme público carente de bandas com músicas próprias.  Ao passo que o mercado de bares covers está saturado, pelo menos em Manaus.

O: Deixe os contatos da banda e um recado final para nossos leitores.
MG: Nossos contatos estão todos disponíveis no site www.sodabilly.com. Agradeço a atenção e o espaço para divulgação de nossa música e de nossas idéias aqui neste blog.  Esperamos que o leitor goste do nosso trabalho musical e ajude a divulgá-lo.  Isso irá contribuir não só conosco, mas também com a cena cultural de nossa cidade.  Abraços e let´s rock!

2 comentários:

  1. Matheus Gondim, esse é o cara! Um pensador da cena cultural. Soda Billy é um diferencial na cena musical, e os caras são músicos de primeira qualidade! Concordo plenamente com esta visão sobre a cultura local,e acho que o Matheus deve lembrar o que significa VARIZES NA BOCA, hehehehe. E lembrar que tive o privilégio de estar com o cara numa banda chamada SUTÍFERA NAVIS, no final do século passado! Entrevista nota 1000!

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  2. Se há uma coisa que me deixa com o pé atrás é essa praga de saudosismo, sobretudo musical. Música é - e deve sempre ser - atemporal; a única regra que deve valer é a da qualidade. Embora minha praia seja o Rock, fico feliz em juntar Duke Ellington, Deep Purple e Luiz Melodia numa sequência de discos em meu cd player, e com direito a repeteco.

    A Soda Billy não precisa provar mais nada a ninguém, afinal, só quem faz bem o que gosta pode fazer um trabalho de primeira qualidade. O cd da banda já está nos meus planos.

    Parabéns pela entrevista.

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