Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Filme e o Vinil

Segundo disco da banda manauara Chá de Flores, “O Filme e o Vinil...” (assim mesmo com reticências no final do nome), foi lançado no ano de 2006 e é um álbum interessante com bons momentos e resquícios de amadurecimento de quem insiste no amadorismo independente.

Capa do segundo CD da Chá de Flores
A bolachinha abre com a ótima homônima ao disco que tem uma introdução forjando uma agulha analógica num disco de vinil.  Rockão básico com letra juvenil, cadência cativante e refrão pegajoso.  Em segundo vem “A Chave do Seu Coração”.  Um punk rock que mostra o ponto forte e o ponto fraco do grupo.  Respectivamente: refrão convidativo e letra quase infantil.  Contudo, um excelente traço já é evidenciado, o domínio no instrumento tocado pelo guitarrista Jean Carlos, também guitarrista da banda Zona Tribal.  Em terceira posição está “Cordel Verde” onde Jean explora melhor os efeitos que casam perfeitamente com a letra que mantém o espírito juvenil, mas ilustrado com características amazônicas.  Um breque no meio da canção ajuda destacar alguns ruídos de estúdio.  A quarta faixa é “Geração Fumaça” que abre com uma divertida introdução que tem diálogo sugestivo do vocalista Bosco Leão e do guitarrista Jean.  A canção em si não mostra nada apenas do que mais do mesmo da juventude exaltada em punch.  Em seguida vem “Doutor Banzeiro” que tem como destaque o contra tempo do excelente baterista Augusto Nunes, também baterista da banda Underflow.  Nesta composição o que parecia impossível acontece: o teor adolescente das letras consegue ser interessante.  A analogia dos impactos ambientais com as consequências maléficas das drogas, foi uma sacada genial e mostra que pode haver amadurecimento nas composições, sem perder esse apelo adolescente.  A próxima é “Close-up” que reforça as qualidades de Guto como baterista, que não precisa de uma música complexa para mostrar sua competência como músico.  Mais uma vez, uma letra boa que foge um pouco da pegada juvenil.  Na sequência vem uma conhecida “Algemas Malditas”, que é um punk rock que consta no primeiro disco da banda e apesar de ser uma boa música, poderia dar lugar a uma inédita.  A desculpa para a repetência é da indignação com o cenário político brasileiro, visto que a letra expõe uma dura crítica ao tema.  Mas se levarmos em consideração esse argumento, a música será reproduzida em toda e qualquer gravação que fizerem no decorrer de décadas.  A última faixa é a chata balada “Bossa Nova Atual”.  Típica música “mamãe, quero ser famoso”.  É a apelação pra tocar na rádio que não acrescenta nada de muito criativo com exceção de Jean que mostra suas influências de blues nos solos de fundo dos arranjos.  Pra fechar a bolachinha vem uma curiosidade, um dion de rádio que acaba por revelar uma suposta radialista biografando a banda.
A arte gráfica, como é costume nas produções manauaras, deixa a desejar e tem direção artística bem fraquinha.  A Chá de Flores hoje encontra-se no quase ostracismo com shows esporádicos e formação incerta com Bosco se aproveitando de seu carisma e da acessibilidade da mídia digital para produções de vídeos caseiros que buscam a auto promoção.  Em suma, “O Filme e o Vinil...” não é nenhuma obra prima e é bem inferior ao debut da banda no tocante à criatividade.  Porém, vale audição e pode ter momentos excelentes se buscar-se apenas diversão descompromissada.