Em
meio à indiscutível crise, que abalou todos os ramos contemporâneos
(e ainda abala muitos, diga-se de passagem),
surge num lançamento manauara, um almanaque de quadrinhos
autorais com acabamento de luxo e qualidade artística
impressionante. O detalhe: totalmente independente, sem editora, pelo
Studio House 137. “Zombie Side” é um álbum comic
book de terror, com temática zumbi, coletânea que
apresenta seis histórias em quadrinhos com autores de nomes, naturais da cidade
de Manaus e outros externos convidados ilustres.
Capa do luxuoso almanaque comic book independente de Manaus |
Após
uma sucinta apresentação de Mike Deodato, o trabalho abre
com “A Vila” de Paulo Yonami e Troy Brownfield.
De ambientação medieval, a história traz um trio de bruxas lutando
pra livrar um pequeno vilarejo da invasão de uma multidão zumbi. Na
arte há uma direção de fotografia cinematográfica, elementos de
mangá e uma riqueza de detalhes que convida os olhos a uma
apreciação mais demorada pelos quadrinhos. Em segundo lugar vem “O
Cerco” de Ronilson Freire e Fabian Iturri. Outra
HQ medieval, sendo que nesta, um reinado é cercado e invadido por
zumbis. A arte remete diretamente ao melhor de John Buscema na
fase de ouro da Espada Selvagem de Conan. O clima de suspense
é alcançado com o casamento da boa arte com textos bem colocados.
Na terceira posição está “Zumbis nos Palmares” de
Jucylande Jr. e Ananda Ramos. Esta é, sem cheiro de
dúvidas, a história em quadrinhos mais original de todo o
almanaque. No interior da caatinga nordestina, um grupo de
cangaceiros tenta se desvencilhar de zumbis que aparentemente
surgiram do nada e sem nenhum motivo. A arte final é magnífica com
traços que definem muito bem a profundidade. A diagramação é
simples, mas a riqueza das hachuras e os quadrinhos bem trabalhados,
cativam pra leitura. Na sequência “Em Nome do Pai...” de
Diego Medes e Jucylande Jr. mostra um padre, maduro e
sagaz que não se poupa nas armas pra enfrentar zumbis. Provavelmente
é uma referência ao filme hollywoodyano “Priest”
de 2011. Os desenhos são muito simples com traço que mais parece um
cartun alternativo. Em seguida “Impuros” de Vicente
Moavero e Gláucio Silva joga os zumbis pra atacarem um
legado viking. Fechando o álbum com chave de ouro “Protocolo
Terra Devastada” de Emanuel Braga e Rodrigo Monteiro
é o roteiro mais elaborado do livro. A ficção científica
tem uma abordagem mais realista da temática zumbi. O enredo adulto
tem a narrativa em seu diferencial. Os desenhos conseguiram expressar
fielmente os ótimos argumentos que promovem um final surpreendente.
A
produção tem todo o seu miolo em papel couchê. Todas as
histórias são em preto e branco, mas estão antecedidas por “capas”
coloridas. Como não há propagandas ou indicações de patrocínio,
fica a torcida pra que seja mantido este alto padrão de impressão.
Se a edição economizasse espaço em páginas desnecessárias como
sketches, capas e créditos em tamanho grande com fotos, uma
ou duas histórias poderiam ser acrescentadas. “Zombie Side”
poderia ter uma edição mais econômica, variar sua temática e
ampliar o número de histórias em quadrinhos, mas a coragem de um
lançamento gráfico tão luxuoso e independente, já vale a pena
cada centavo gasto na aquisição.
2017,
68 páginas.
Bom dia, Mário. Sou um dos escritores da Zombie[Side] e gostaria de agradecê-lo pelos elogios à nossa revista, ainda que tardios (só vi a resenha hoje). Um grande 2018 para você. :-)
ResponderExcluirRodrigo, eu que agradeço tua visita e teu comentário aqui.
ExcluirAbraços!