Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Depressão

Aparência normal
Sorriso na face
Brincadeiras à parte
Bem estar teatral

Sem distinguir idade
Ou mesmo classe social
Presente em qualquer família
Dentro e fora da cidade

Afeta todo o ser
Transforma os ideais
Provoca o impenssável
Independente do querer

Sem sintoma corporal
Enfermidade contemporânea
Com intuito para o fim
De agonia sentimental

domingo, 16 de julho de 2017

50 Anos a Mil

Devido a seus comentários polêmicos, abordando política, filosofia, cultura ou sociedade, Lobão tem aparecido mais sob os holofotes, do que sua própria música. Isso tem colocado sua arte em segundo plano, trazendo críticas a sua pessoa e esquecendo um tanto a importância deste ícone que, indiscutivelmente, já faz parte da história do rock nacional, sem nos referirmos exlcusivamente aos anos oitenta. Talvez seja por isso que o Lobo quase não fala em política na auto biografia “50 Anos a Mil”, escrito com a parceria de Claudio Tognolli. Afinal, seu legado, já é um registro histórico musical.
Capa da ótima autobiografia de Lobão
O considerável calhamaço já abre com a letra de uma de suas músicas, dedicadas a Ezequiel Neves, Cazuza e Júlio Barroso, e a URL de sua disposição pra download gratuito (infelizmente não mais disponível), emendando com uma hilária ocorrência, na qual o protagonista principal, junto com Júlio Barroso, puxam algumas carreirinhas, em cima do caixão de Cazuza, em seu velório. A infância bem vivida, parece ter continuidade na adolescência que, é regada pelos excessos de uma época marcada por isso. Excessos estes que perduram por muitos capítulos no livro, acompanhando a vida adulta, sem censurar-se em nenhum momento no tema. O estigma explora as prisões, que lhe deram respeito com a marginália, consagrando o hino “Vida Bandida”, bem como, a intimidade criada com favelas e com a velha guarda da Estação Primeira de Mangueira. O acaso explica o seu desfile como percurssionista da Escola no carnaval, e a retribuição, com a participação de da bateria de sambistas completa, em gravação de disco e mesmo no show, em pleno “Rock in Rio”. Relembrar o lendário Vímana e sua passagem pela Blitz, é praticamente obrigatório. Também não poderiam faltar as inspirações e o processo de composição de seus maiores hits, bem como da criação e lançamento de seus discos. Não esquecendo inclusive do sucesso independente da revista “Outra Coisa”. A atuação na MTV Brasil como apresentador, comentarista e entrevistador, também é enfatizada, assim como atuação em alguns filmes e a parceria com dezenas de outros músicos consagrados. A sessão de fotos, no meio do livro, traz imagens raras, saudosistas e eternizadas. Pra encerrar, outra letra descrita também com a URL pra download gratuito da canção (infelizmente não mais disponível).
Depois de ler o relato memorável de inúmeros casos musicais, facilmente constatáveis, com a confirmação de ilustres testemunhas e do registro de discos de sucesso, esquece-se tratar-se de uma figura muito mais lembrada atualmente por suas polêmicas declarações, do que por sua arte musical. De qualquer forma, Lobão acertou com a publicação de sua ótima autobiografia “50 Anos a Mil”, que já tem continuação lançada no ano de 2015.
Editora Nova Fronteira; 2010; 593 páginas.

domingo, 2 de julho de 2017

Zombie Side

Em meio à indiscutível crise, que abalou todos os ramos contemporâneos (e ainda abala muitos, diga-se de passagem), surge num lançamento manauara, um almanaque de quadrinhos autorais com acabamento de luxo e qualidade artística impressionante. O detalhe: totalmente independente, sem editora, pelo Studio House 137. “Zombie Side” é um álbum comic book de terror, com temática zumbi, coletânea que apresenta seis histórias em quadrinhos com autores de nomes, naturais da cidade de Manaus e outros externos convidados ilustres.
Capa do luxuoso almanaque comic book independente de Manaus
Após uma sucinta apresentação de Mike Deodato, o trabalho abre com “A Vila” de Paulo Yonami e Troy Brownfield. De ambientação medieval, a história traz um trio de bruxas lutando pra livrar um pequeno vilarejo da invasão de uma multidão zumbi. Na arte há uma direção de fotografia cinematográfica, elementos de mangá e uma riqueza de detalhes que convida os olhos a uma apreciação mais demorada pelos quadrinhos. Em segundo lugar vem “O Cerco” de Ronilson Freire e Fabian Iturri. Outra HQ medieval, sendo que nesta, um reinado é cercado e invadido por zumbis. A arte remete diretamente ao melhor de John Buscema na fase de ouro da Espada Selvagem de Conan. O clima de suspense é alcançado com o casamento da boa arte com textos bem colocados. Na terceira posição está “Zumbis nos Palmares” de Jucylande Jr. e Ananda Ramos. Esta é, sem cheiro de dúvidas, a história em quadrinhos mais original de todo o almanaque. No interior da caatinga nordestina, um grupo de cangaceiros tenta se desvencilhar de zumbis que aparentemente surgiram do nada e sem nenhum motivo. A arte final é magnífica com traços que definem muito bem a profundidade. A diagramação é simples, mas a riqueza das hachuras e os quadrinhos bem trabalhados, cativam pra leitura. Na sequência “Em Nome do Pai...” de Diego Medes e Jucylande Jr. mostra um padre, maduro e sagaz que não se poupa nas armas pra enfrentar zumbis. Provavelmente é uma referência ao filme hollywoodyanoPriest” de 2011. Os desenhos são muito simples com traço que mais parece um cartun alternativo. Em seguida “Impuros” de Vicente Moavero e Gláucio Silva joga os zumbis pra atacarem um legado viking. Fechando o álbum com chave de ouro “Protocolo Terra Devastada” de Emanuel Braga e Rodrigo Monteiro é o roteiro mais elaborado do livro. A ficção científica tem uma abordagem mais realista da temática zumbi. O enredo adulto tem a narrativa em seu diferencial. Os desenhos conseguiram expressar fielmente os ótimos argumentos que promovem um final surpreendente.
A produção tem todo o seu miolo em papel couchê. Todas as histórias são em preto e branco, mas estão antecedidas por “capas” coloridas. Como não há propagandas ou indicações de patrocínio, fica a torcida pra que seja mantido este alto padrão de impressão. Se a edição economizasse espaço em páginas desnecessárias como sketches, capas e créditos em tamanho grande com fotos, uma ou duas histórias poderiam ser acrescentadas. “Zombie Side” poderia ter uma edição mais econômica, variar sua temática e ampliar o número de histórias em quadrinhos, mas a coragem de um lançamento gráfico tão luxuoso e independente, já vale a pena cada centavo gasto na aquisição.
2017, 68 páginas.