Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Epílogo

A poesia abaixo eu escrevi em meados da década de 90 e foi publicada no fanzine da amiga Nara (Osga) “Universo Underground” Nº 01 no ano de 1997.


EPÍLOGO

Pensamentos voam na cidade
Uma essência contra castidade
Episódios de grande terror
Liberdade expande o condor
Passam-se os invernos
Assam-se nos infernos.

Os uivos ecoam na pastagem
Tomar pílulas para refletir
Horizontes de angústia
Maturidade simples de alcançar
Vive-se os costumes
Morre-se nas ideias.

Haja ansiedade
Pra todos os humanos
Conseguir felicidade
Então nós descansamos.

Pensamentos ecoam na pastagem
Uma essência para refletir
Episódios de angústia
Liberdade simples de alcançar
Passam-se os costumes
Assam-se as ideias.

Os uivos voam na cidade
Tomar pílulas contra castidade
Horizontes de grande terror
Maturidade expande o condor
Vive-se os invernos
Morre-se nos infernos.

terça-feira, 15 de março de 2016

Diomedes - A Trilogia do Acidente

No intuito de fazer uma graphic novel autoral com formato de 26cm e meio por 18cm e meio, dividida numa trilogia (a qual o terceiro livro acabou sendo dividido em dois, transformando assim o projeto em quatro álbuns), a história do detetive Diomedes foi lançada inicialmente no ano de 1999 por seu premiado autor Lourenço Mutarelli, através da Devir Livraria. O primeiro volume recebeu o título de “O Dobro de Cinco”, seguido pelo segundo volume “O Rei do Ponto” e o terceiro, fechando a saga “A Soma de Tudo” publicado em 2002. Dez anos após o planejado, a Editora Schwarcz (Companhia das Letras), numa ousadia surpreendente, lança em edição completa e volume único, no formato de 27cm e meio por 18cm e meio, que acabou recebendo o nome de “Diomedes – A Trilogia do Acidente”.
Capa do calhamaço que vale cada centavo por sua qualidade
O clima noir é transmitido perfeitamente pelo artista que consegue ilustrar num preto e branco sombrio, o suspense policial recheado de intrigas, enigmas e referências a cinema, música, poesia e histórias em quadrinhos. Aliás, as referências às histórias em quadrinhos são inúmeras e alcançam o seu ápice no episódio onde o protagonista principal tem de comparecer a uma convenção de “bandas desenhadas” na cidade lusitana de Lisboa. Personagens reais aparecem e protagonizam no decorrer de toda a história, inclusive o próprio Lourenço que tem uma participação fundamental no enredo. Quem conhece a obra de Mutarelli, sabe que ele sempre teve um traço peculiar onde as anatomias mesclam caricatura com cartum e os cenários estão entre o chapado simples e a hachura detalhada. Pois aqui, ele consegue manter esta sua “marca registrada”, mostrando um perfeccionismo digno de quem já pratica a arte há algumas décadas. Todo o texto da obra é feito manualmente, letra a letra. O que chega a ser impressionante, considerando-se as 430 páginas do todo, nos tempos em que, praticamente todo mundo, recorre ao computador para esta labuta. O único detalhe que parece estar deslocado do completo, é a quebra no roteiro da trama com um final totalmente filosófico. Infelizmente isso acaba passando a sensação non sense pra uma história de aventura policial. Contudo, o deslize é facilmente entendido no texto que segue pós HQ, onde o autor transparece o luto do falecimento de seu pai, que influenciou diretamente na criação do personagem e até lhe serviu de consultor conselheiro em algumas passagens. A dissonância no roteiro, facilmente percebível pelo leitor, acontece justamente no momento da perda do ente querido. Ressalta-se também o fato do roteiro ter sido escrito, conforme a história ia sendo desenhada. Rascunhos, textos e esboços não aproveitados fecham o encadernado com características de épico contemporâneo.
Ótima mostra do trabalho magnífico de Lourenço Mutarelli, o comic bookDiomedes – A Trilogia do Acidente” vale cada centavo do calhamaço, por ser também um grande exemplar de qualidade das histórias em quadrinhos autorais brasileiras.

sábado, 5 de março de 2016

A Ira de Nasi

Com uma narrativa de fácil compreensão e sinceridade quase comprometedora, Marcos Valadão Rodolfo ficou mesmo conhecido como Nasi, o vocalista que se iniciou com o grupo Ira! no início dos infames anos 80. Fez blues, pós punk, rock flertando com rap, apresentação de programas de televisão, comentarista e ainda hoje mantem suas empreitadas artísticas no palco e na televisão. Com o auxílio de Mauro Beting e Alexandre Petillo, Valadão discorre sua auto biografia com sugestivo título de “A Ira de Nasi”, onde conta histórias que variam de hilárias a sinistras.
Capa da ótima auto biografia com ar de best seller
A infância e adolescência foram bem vividas e ainda no ginásio colegial, fez amizade com Edgard Scandurra, com quem viria a se tornar parceiro de composições, noitadas e brigas. O cenário musical brasileiro não era tão fértil, mas começava a ficar promissor, devido a ascensão comercial do mercado que exigia uma “nova tendência” a ser inserida no viés fomentado em rádios, lojas de discos e programas de auditório, mais conhecido como “jabá”. Sobrou para o rock desfrutar dessa “abertura”. No ensejo, fervilhava no exterior a fusão de new wave, pop e pós punk com o que havia restado do movimento punk. O paradigma foi absorvido com veemência por muitos dos que estavam experimentando suas brincadeiras de garagem com bandas. Antes do Ira!, Nasi fazia parte do grupo Voluntários da Pátria, com quem chegou a gravar disco, enquanto Edgard passou por Cabine C, Smack e Ultraje a Rigor. Posteriormente com a banda definitiva, não tardaram a fixar uma escalação de músicos, após tentarem com alguns nomes. Começaram os primeiros shows, vários porres, algumas situações surreais e a inclusão categórica do ponto de exclamação no nome do grupo que ganhava cada vez mais e mais fãs. No lançamento do primeiro LP, já vieram sucessos derradeiros com status de hits e uma longa carreira que só acumulou discos de ouro, paradas de sucesso, shows por todo o país, participações em programas de televisão (com maior ênfase para a MTV Brasil, nos anos 90) e muito mais. Um momento histórico do rock brasileiro, pouco conhecido, está na fusão com o rap, iniciado, quase que acidentalmente, por Nasi. Como toda longa carreira com as mesmas pessoas, nos ambientes promíscuos, logicamente que haveria brigas, discussões, amantes, drogas e outros fatores de funções negativas. Na separação que ganhou os noticiários do país, na época, mais devidamente aos processos jurídicos envolvidos, Nasi conta a sua versão e sua passividade para a reconciliação. Outro ponto interessante do livro, está no fato deste ex-sex simbol não ter nenhum problema em falar abertamente de seu envolvimento (desde infância, diga-se de passagem) com a Umbanda. A propósito, o livro termina com uma ótima história contada, em que Nasi perde seu telefone celular e só consegue reavê-lo, tirando proveito deste seu lado místico. A sessão de fotos traz uma coletânea de imagens raras que abraça desde o protagonista bebê, até shows e parcerias diversas.
O ótimo acabamento gráfico emprega um ar de best seller que fica mais atrativo para leitura por não possuir uma fonte tão pequena.
A Ira de Nasi” pode até ser taxada como mais uma auto biografia de cantor de rock, mas é um livro denso, divertido e honesto, onde se é possível compreender um dos pontos de vista mais controversos e significativos da música brasileira.
Editora Belas Letras, Rio Grande do Sul, 2012, 320 páginas.