Com uma
narrativa de fácil compreensão e sinceridade quase comprometedora, Marcos Valadão Rodolfo ficou mesmo
conhecido como Nasi, o vocalista que
se iniciou com o grupo Ira! no
início dos infames anos 80. Fez blues,
pós punk, rock flertando com rap,
apresentação de programas de televisão, comentarista e ainda hoje mantem suas
empreitadas artísticas no palco e na televisão. Com o auxílio de Mauro Beting e Alexandre Petillo, Valadão
discorre sua auto biografia com sugestivo título de “A Ira de Nasi”, onde conta histórias que variam de hilárias a
sinistras.
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Capa da ótima auto biografia com ar de best seller |
A infância
e adolescência foram bem vividas e ainda no ginásio colegial, fez amizade com Edgard Scandurra, com quem viria a se
tornar parceiro de composições, noitadas e brigas. O cenário musical brasileiro
não era tão fértil, mas começava a ficar promissor, devido a ascensão comercial
do mercado que exigia uma “nova tendência”
a ser inserida no viés fomentado em rádios, lojas de discos e programas de
auditório, mais conhecido como “jabá”.
Sobrou para o rock desfrutar dessa “abertura”. No ensejo, fervilhava no
exterior a fusão de new wave, pop e pós punk com o que havia restado do movimento punk. O paradigma foi absorvido com veemência por muitos dos que
estavam experimentando suas brincadeiras de garagem com bandas. Antes do Ira!, Nasi fazia parte do grupo Voluntários
da Pátria, com quem chegou a gravar disco, enquanto Edgard passou por Cabine C,
Smack e Ultraje a Rigor. Posteriormente com a banda definitiva, não
tardaram a fixar uma escalação de músicos, após tentarem com alguns nomes.
Começaram os primeiros shows, vários
porres, algumas situações surreais e a inclusão categórica do ponto de
exclamação no nome do grupo que ganhava cada vez mais e mais fãs. No lançamento
do primeiro LP, já vieram sucessos
derradeiros com status de hits e uma longa carreira que só
acumulou discos de ouro, paradas de sucesso, shows por todo o país, participações em programas de televisão (com maior ênfase para a MTV Brasil, nos anos 90) e muito mais. Um momento histórico do rock brasileiro, pouco conhecido, está
na fusão com o rap, iniciado, quase
que acidentalmente, por Nasi. Como
toda longa carreira com as mesmas pessoas, nos ambientes promíscuos,
logicamente que haveria brigas, discussões, amantes, drogas e outros fatores de
funções negativas. Na separação que ganhou os noticiários do país, na época,
mais devidamente aos processos jurídicos envolvidos, Nasi conta a sua versão e sua passividade para a reconciliação.
Outro ponto interessante do livro, está no fato deste ex-sex simbol não ter nenhum problema em falar abertamente de seu
envolvimento (desde infância, diga-se de
passagem) com a Umbanda. A propósito, o livro termina com uma ótima
história contada, em que Nasi perde
seu telefone celular e só consegue reavê-lo, tirando proveito deste seu lado
místico. A sessão de fotos traz uma coletânea de imagens raras que abraça desde
o protagonista bebê, até shows e
parcerias diversas.
O ótimo
acabamento gráfico emprega um ar de best
seller que fica mais atrativo para leitura por não possuir uma fonte tão
pequena.
“A Ira de Nasi” pode até ser taxada como
mais uma auto biografia de cantor de rock,
mas é um livro denso, divertido e honesto, onde se é possível compreender um
dos pontos de vista mais controversos e significativos da música brasileira.
Editora Belas Letras, Rio
Grande do Sul, 2012, 320 páginas.