Realizando festas hi-fi, eventos tributos e shows
com várias bandas ao vivo desde há década de 1990, Douglas Lima, mais conhecido como DJ Mandrake, conta também com uma ampla popularidade, conseguida
através da apresentação do programa de web
rádio “Mandrake.com”, e com um
indiscutível conhecimento de rock
alternativo, indie music e suas
ramificações. Além do intenso convívio diário com a música, o promoter também
possui uma intensa atividade virtual através de redes sociais e um apurado
senso crítico que acaba por garantir alta qualidade em seus eventos. Aqui ele
cede gentilmente uma entrevista exclusiva para o blog Orestes.
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Cartaz da lendária festa "The Cult". |
Orestes: Qual foi a sua
primeira promoção de evento público e desde quando você percebeu que isto seria
empreendimento seu por muitos anos?
DJ Mandrake: A primeira se chamou “Midnight”. Realizada em abril de 1992, foi uma festa hi-fi bem comum pra época. Tocava de
tudo. Punk, pop, new wave, hard, metal.
Nesse período o mundo estava conhecendo
o movimento grunge, ainda modesto, e
o Brasil se desprendendo do bumm que foi
o rock nacional dos anos 80. Era bem
legal. Praticamente não haviam bandas e as poucas que existiam eram de metal cover.
Cara! Percebi que tinha tino para produção
com outra festa, a “The Cult” de
1993. Essa foi muito doida. Realizada no Espaço
Cultural A Casa de Luz, na área
externa, que ao redor tinha umas ruínas muito loucas. Era gente pra tudo que é
lado. Totalmente underground, essa
festa conseguiu a façanha de reunir tanto a moçada que curtia o pop quanto a do metal. Tinha umas 700 pessoas, entre pagantes, convidados e
penetras. Acho que até hoje foi o segundo maior público que já tive em um
evento. Rolou do new wave dos B-52’s ao thrash do Sepultura. Inesquecível!
A “The
Cult” marca dois lances bacanas. Minha primeira parceria com os amigos de
coração Jonas e Marilia da Bip Top (bar mais louco que Manaus já teve) e minha
primeira homenagem aos Ramones. Insanidade
total na pista de dança. Eram os playbas,
bangers e punks se debatendo numa
gigantesca roda de pogo. Tava todo
mundo louco. Era chapação total. Tinha aquela máxima do sexo, drogas e rock’n’roll. O povo ficava possuído.
Quanto ao empreendimento, até hoje encaro as
produções como um hobby. Como ainda
não ganhei dinheiro, também não encaro como empreendimento, mas é um passo para
alcançar outros objetivos. Faço por que gosto e faço o melhor possível, mas
pretendo ir bem longe. Quem sabe a insistência acabe se tornando um negócio
rentável no futuro?
O.: Qual evento você
considera o seu melhor trabalho, aquele que até hoje as pessoas comentam e
trazem boas recordações?
DJ M.: Cara, eu curti vários. Cada um tem sua
importância. Acho que, só pelo fato de você concretizar o lance, já se torna um
dos seus melhores trabalhos. Mas aquele que as pessoas comentam até hoje, foi o
show de retorno da banda “Espantalho”, no pub Casa Blanca. Pra mim
foi surreal, ver um banda de rock
autoral com apenas um disco gravado, há mais de 10 anos na época, e a pelo
menos 7 anos sem se apresentar, conseguir a façanha de lotar um espaço enorme
do Casa Blanca, com quase 1000
pessoas e as mesmas cantarem, em um coro só, todas as canções da banda. Como
produtor foi sensacional, mas como pessoa, prefiro esquecer. Foi ingrato e humilhante.
Quanto às boas recordações, como já disse, “The Cult” sempre será a maior, mas o
primeiro Ramones Day foi insano. A
porra do Nativos lotado. Bandas fudidíssimas subiram no palco com sangue
nos olhos. O público parecia estar possuído pelo demo. Porra! Ouvir quase 100
canções dos Ramones em suas
vertentes, hora Loco Live, hora It’s Alive e poder cantar parabéns a Joey Ramone. Foi algo que só me trás
coisas boas. A dedicação de como foi construída por mim e pelas bandas é algo
inesquecível. Carinho, empenho, dedicação, diria até amor, pelos Ramones. Foi o
toque de Midas no evento. Ramones Day
surgiu sem grandes pretensões e hoje é um dos meus maiores projetos. Aquele que
acaba hoje, no dia seguinte eu fico pensando como realizar um melhor que o de
ontem. Um dia quem sabe traremos um Ramone,
pra fazer um grande espetáculo com a gente. Ramones Day eu guardo no coração com muito carinho.
(Ramones Day inicialmente foi criado para comemorar o aniversário de Joey Ramone, mas hoje tem a alcunha de
homenagear a todos ex integrantes).
O.: E qual seu maior
fracasso, aquela produção que você teve prejuízos diversos e que não repetiria
de forma alguma?
DJ M.: Tive alguns tropeços, mas com certeza o meu
maior fracasso, por incrível que pareça, foi o evento que teve até hoje, a
maior e mais cara produção que já fiz. Tudo pra dar certo,. Em si, o espetáculo
foi sensacional, mas a escolha do local comprometeu o evento.
“Uma
Outra Legião” homenagem a Renato
Russo. Talvez pelo seu excesso de pompa, meio que elitizou a parada. A
escolha do Eleven Bar no bairro Dom Pedro, foi errada. Meio que exigiu que
o público tivesse automóvel pra chegar até lá, e isso comprometeu e muito a
bilheteria. Apesar de um público entre 300 a 350 no geral, não rendeu o
esperado. Quanto a não repetir, isso não rola. Acredito que a partir da queda é
que você aprende a levantar. Fiz e farei outras homenagens ao Renato e a Legião Urbana. A festa Geração
Coca Cola é a prova disso, já estamos na 3ª edição.
O.: Em todos esses anos
realizando eventos pelas noites manauaras,
lógico que houveram muitos momentos engraçados e inesquecíveis. Relate um fato
que lhe foi cômico e hilário o suficiente para ficar guardado na memória.
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O DJ/Promoter Mandrake em pleno trabalho |
DJ M.: Porra, essa pergunta é foda! Cômico não
lembro, mas hilário foi uma festa que fiz no Luso Sporting Club. Pode-se dizer que esse foi a primeiro evento
fora do eixo, amigos do Mandrake. Foi
o primeiro em um clube. Primeiro a ter cartaz e a cobrar ingresso. O lance
aconteceu logo após o lançamento de Nevermind
do Nirvana. Nas rádios só tocavam Guns ’n’ Roses e R.E.M. e eu tava na transição do metal para o alternativo.
A festa bombando geral, quando os seguranças do evento resolveram intervir em
uma briga de casal que rolava ao lado do clube. Após o cara dar uns socos e
umas bicudas na mocinha, os seguranças salvaram a vadia e deram umas tapas no
meliante. Só que ninguém contava que o tal carinha (Felipe que hoje é amigo meu), fosse um dos
lideres da maior e mais temida galera de Manaus, a “Selvagens da Noite”. Os Selvagens
frequentadores assíduos das famigeradas danceterias Bancrevea e Cheik Club,
que se localizavam ambas no centro de Manaus,
há duas quadras do Luso. Resumo da
obra, o carinha jurou vingança e cumpriu. 5 Minutos após o ocorrido, um milhão
de galerosos, apareceu quebrando tudo
que tinha pela frente, querendo invadir o clube e destruir os seguranças. Caralho!
Era muita gente. Por sorte os portões suportaram os coices dos animais, que
estavam furiosos e que em sua maioria nem sabia o porquê. O hilário é que existia
uma rixa entre as danceterias. Como não conseguiram entrar, começaram uma
pancadaria generalizada entre si. Coisa de filme. Uns 300 cabocos brigando. Até a policia que, havia chego minutos antes,
levou porrada. Mas foi muita porrada. Foi foda! Nesse dia tive medo. Se os
caras entram, a gente ia morrer. O fantástico da história, é que não houve
tempo de por pra dentro a mesa da bilheteria. Quebraram tudo ao redor, menos
ela. Detalhe: toda renda estava dentro da gaveta e nada foi levado. Sorte ou
azar definem essa noite. Já ia esquecendo, lembra da primeira pergunta? Pois é
foi a “Midnight” (o nome dado à festa Midnight, foi uma homenagem a banda australiana “Midnight Oil”).
O.: Como se dá a sua
metodologia de trabalho para uma produção, do planejamento, da divulgação, até
a sua execução final?
DJ M.: Cara é bem simples. Acreditar no projeto
é o primeiro passo. Formar boas parcerias, ter e passar credibilidade aos
apoiantes e participantes do evento. Ter uma boa equipe de trabalho, realizar
os eventos da melhor forma possível, escolher um titulo bacana e criar um
cartaz maneiro. Saber vender teu espetáculo, isso é fundamental. Criar uma
mídia virtual e impressa sem ser cansativa e piegas. Outro fator importante é
ser detalhista. Pensar em tudo, saber coordenar o evento sem se tornar um
tirano. Um mandão, faz isso faz aquilo, enfim, o lance é deixar fluir que no
final tudo vai dar certo.
O.: Quem são seus
maiores parceiros de trabalho, aquelas pessoas físicas ou jurídicas que lhe
apóiam em qualquer empreendimento?
DJ M.: Parceiros são muitos. Nesse ponto, sou bem
promiscuo. Cara, citar nomes é foda! Vai que esqueço de alguém. Então vou citar
os amigos... diversos amigos, produtores, donos de lojas, donos de casas
noturnas, membros de bandas, blogueiros,
jornalistas, web rádios, família e
afins. No jurídico tem a moçada da Riffs
Intrumentos Musicais, Escola
Academia de Música, Estúdio de
Tatuagens Leo Tattoo e Kleber Lobão
Auto Peças. São empresas que depositam suas marcas. Acreditam e apóiam o rock amazonense. Aliás, aproveito pra
agradecer a todos.
Meu muito obrigado!
O.: Qual banda você mais
gosta de trabalhar?
DJ M.: Com as que têm respeito pelos projetos
e por si mesmas. As que encaram como um espetáculo para o público e não como showzinho sem compromisso. No meu ponto
de vista, tem que vestir a camisa e não ser só um nome no cartaz de um evento. Tendo
50 ou 500 pessoas no evento, o show tem
que ser o melhor que essa banda fez na vida. Essas são as bandas que eu gosto. Quero,
e vão sempre trabalhar comigo.
O.: Qual o seu maior
sonho como promoter?
DJ M.: Ahhh! Sonhos são sonhos, né bicho? Sempre
algo surreal. Difícil! Impossível de alcançar, mas eu te diria fazer um show com os Ramones. Mas isso não vai rolar. Então um show com o Iron Maiden. Isto
realmente seria um sonho de uma vida.
O.: Quais suas metas,
seus próximos projetos, para curto e longo prazo?
DJ M.: A curto prazo, continuar com os projetos
musicais Confraria dos Hereges, Ramones Day, Geração Coca Cola, Mandrake Rock
Festival, voltar com meu programa na rádio, o Mandrake.com.
A longo prazo, criar minha própria web radio “Mandrake.com” e concretizar um desejo antigo que é ter um pub. Uma casa noturna, algo do gênero. “Bauhaus” esse seria o nome.
Falando nisso tem um projeto de médio prazo
que é gravar um CD, com as bandas
que participam da Confraria dos Hereges,
que consiste em fazer uma compilação de canções dessas bandas. É um projeto
audacioso, por ser demonstrativo e gratuito. O objetivo é fazer uma amostra dos
trabalhos musicais feitos aqui em Manaus,
distribuir para diversas vertentes de mídia no território brasileiro e
adjacentes, sejam blogs, web radios,TVs, zines e revistas online ou impressas que possam de alguma
forma ajudar na difusão da musicalidade das bandas daqui.
O.: Deixe seus contatos
e um recado para os leitores do blog
Orestes.
DJ M.: Cara, sou figurinha
fácil no Facebook. É só digitar Douglas Mandrake.
Meu recado é... conheça as bandas, ouça suas
músicas, compre seus CDs, suas camisetas,
vá aos shows, apresente as bandas aos
seus amigos. Tem muita coisa boa sendo produzido aqui, no quintal da Zona Franca de Manaus. É isso ai! Sorte sempre!