Após ter sua imagem estigmatizada como
“o ditador da banda” por sua austeridade rígida, quase para militar, eis que
com a publicação de “Commando – A
Autobiografia de Johnny Ramone”, este guitarrista que fez história, junto
com os demais Ramones, apresentando
uma peculiaridade reconhecida em suas palhetadas,
tem a oportunidade de justificar a infâmia e traz seu próprio testemunho a
público, como prova incontestável de sua eficiência, não apenas como músico,
mas também como um dos mentores e dirigentes de uma banda que tinha tudo pra
dar errado e acabou se transformando uma das maiores referências da música
contemporânea.
|
Capa da recomendada auto biografia
de Johnny Ramone |
É óbvio, mas cabe dizer que, como a
maioria das autobiografias, esta também obedece uma cronologia da vida do
retratado, começando na sua infância com os primeiros contatos com o rock, passando por sua adolescência
conturbada nas deliquências urbanas, até conhecer seus colegas que montariam a
banda, da trajetória de sucessos e fracassos que duraram décadas, findando a
escrita com sua aposentadoria, após o final da banda e o indispensável registro
de sua doença que fulminou em sua morte, com direito a fotos do funeral e da
estátua erguida em sua homenagem no cemitério. Porém, este livro contém alguns
diferenciais. Temos uma grande quantidade de fotos raras, não só de eventos e
pessoas, mas também de memorabília que inclui manuscritos originais, cartões
autografados, ingressos de shows etc.
Há também uma avaliação álbum a álbum dos Ramones,
no parecer do próprio guitarrista e listagem “os 10 mais”, em seu gosto
particular para beisebol, rock and roll,
filmes de terror, de ficção científica, livros, televisão, dentre outros.
Voltando às justificativas ditas no
início deste texto, encontramos uma que explica a maior desavença na história
da banda. A ruptura que Linda Marie
fez no romance com Joey Ramone para
se casar com Johnny. Temos a
perspectiva de quem realmente foi personagem central, de um modo que provoca
compreensão no entrave que causou mal estar diário por décadas nestes músicos.
Sobre a postura para militar, deve-se
ao fato de que Johnny queria fazer
da música o seu sustento, no afã de construir uma banda de rock que se destacasse dentre as demais, criando um estilo único e
conseguisse um sucesso grandioso almejado. Claro que para que isso funcionasse
efetivamente, era preciso que alguém impusesse uma disciplina eficaz em rapazes
semi delinqüentes que esbanjavam bebidas, drogas diversas, rebeldia e crises
existencialistas. Como Johnny já
havia tido em seu passado uma certa formação militar e acreditava convictamente
na dedicação ao trabalho, a fórmula acabou dando certo, mesmo que lhe rendendo
inimizades.
Ao folhear a obra encontramos prefácio
de Tommy Ramone, epílogo de Lisa Marie Presley, posfácio de John Cafiero que também fez a edição
com Steve Miller e Henry Rollins, e na contra capa
depoimentos de Kirk Hammett e Chris Cornell. Um detalhe que faz valer
a aquisição está no acabamento gráfico. Capa dura com miolo em papel couchê.
Indispensável para qualquer um que
deseja entender todo o desajuste de uma banda que, apesar de tudo, se tornou
grande na história do rock and roll,
“Commando – A Autobiografia de Johnny
Ramone” merece atenção e leitura.
Tradução de Edmundo Barreiros e Lúcia
Brito. Editora Leya, São Paulo,
2012, 176 páginas.