Auto biografia artística virtual. Registros de eventos, resenhas, desenhos, crônicas, contos, poesia marginal e histórias vividas. Tudo autoral. Quando não, os créditos serão dados.

Qualquer semelhança com a realidade é verdade mesmo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Espantalho - Volver

Com seu auto intitulado debut lançado no ano de 2003 (ver resenha deste álbum neste blog – procurar “Espantalho” no espaço de busca do blog), pelo projeto Valores da Terra, a banda manauara Espantalho, lança seu segundo disco dez anos depois. “Volver” faz o que muitos desejavam e nem todos acreditavam, manter a qualidade de seu excelente rock alternativo cantado em português, com produção melhorada e bom gosto apurado.
Capa de "Volver", segundo CD da banda manauara Espantalho
A bolachinha tem sua abertura com a música “Corpo Fechado”, tendo um bom pique e uma letra em parceria com Bosco Leão (vocalista da banda Chá de Flores. Ver entrevista neste blog) que externaliza a vontade de todos nós, mais ainda nestes tempos de manifestações através de mobilizações sociais. A canção é uma referência direta à “Algemas Malditas”, contida nos dois CDs da Chá de Flores. A segunda é “Fogos de Artifício” que mantêm o ritmo acelerado e também refrão com apelo popular. Esta música já ganhou um vídeo clip (ver no You Tube) que exalta muito bem esta questão das reivindicações públicas. Em terceira posição está a excelente “Reconquistar” que dá aquela vontade de cantar junto, mais ainda seu refrão. Incrível a capacidade de hitmaker do guitarrista/vocalista Marcos Terra Nova (ver entrevista neste blog). A quarta faixa quebra o pique por começar com um dedilhado e uma levada bem Legião Urbana. “Bang Bang” pode parecer uma balada chinfrim, mas é de uma composição perfeita por ter encaixe de tempo, letra e arranjos simplistas, mas magnificamente combinantes. Em seguida está “100% Algodão”. Melodia grudenta, como a maioria das canções. Destaque para subida de tom do vocal principal no final. Na sequência, a primeira boa surpresa do disco. “Tempo de Despedida” é um hit inquestionável. Originalmente lançado na coletânea virtual “A Casa da Árvore”. Grande música. Letra filosófica, refrão poderoso e arranjos perfeccionistas. Na metade do CD está “Aeroportos”. Uma balada que não chega a ser formidável como a última, mas ainda assim, também é uma ótima música. A oitava faixa é nomeada como “Felicidade”, retomando o peso que costuma levantar o público. Posteriormente, a faixa título do CD. Teoricamente uma balada, mas em sua metade, parte para o peso, dando um gás na cadência até seu final. A décima volta para o dedilhado com “Rosas Roubadas” e mais outro refrão de fácil assimilação. Posteriormente vem “Foxtrote”. Outro rockão que convida ao canto coletivo. Destaque para a bateria precisa de Augusto Nunes (Guto). Depois da metade, a música tem um break que muda a levada para recitação da última parte da letra, até seu final. Na décima segunda posição encontra-se “Magnólia” que mostra um pouco da influência grunge da banda, tanto nos arranjos quanto na letra. Depois aparece “Como Pinturas de Van Gogh” que começa somente com voz e uma batida tribal, mas logo entram os demais instrumentos em outra composição bem trabalhada. A penúltima é a segunda surpresa. “Fronteira Norte” é uma linda e antiga canção, na época em que o grupo se chamava Scarecrow. Gravação certeira e merecida para os fãs que acompanham a banda desde seu início. Pra fechar a bolacha, a última surpresa. Uma versão acústica da bonita música “Lágrimas das Nuvens”, do primeiro disco da banda. Curiosamente esta versão consta até com uma gaita um tanto blues, para o estilo vigente deste power trio. A propósito, além dos músicos já citados, Mario Ruy continua no contrabaixo, desde os primórdios dessa história. Ainda temos a presença dos convidados Márcio Denis (ex-guitarrista da Espantalho) tocando em várias músicas, Amarildo Cerdeira, teclados/acordeom e o grande baterista China, em algumas músicas.
Em suma, “Volver” é um disco à altura do primeiro da banda Espantalho, se não for melhor. Possui uma bonita arte gráfica com letras das músicas e ficha técnica. Desde já, o melhor lançamento do ano de 2013 no cenário manauara de música.
Compre sem medo, porque será uma ótima aquisição.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Tardio Despertar de Manaus

            Como sempre atrasada, Manaus finalmente “acorda” para as manifestações que tomam toda a nação. Depois das cidades do norte do país, Belém, Macapá, Porto Velho e Rio Branco, finalmente a capital do Amazonas vai às ruas e se junta a dezenas de outras cidades do Brasil que se manifestam publicamente, reivindicando melhorias no transporte público, na saúde, na educação, pelo fim da corrupção e outros temas mais levantados pela multidão.
Manifestação emocionante, mas tardia em Manaus
As características provincianas de Manaus, neste fenômeno histórico do país, não se fizeram notáveis somente no atraso de seu acontecer, mas na própria reunião de organização do fato. Sinceramente, este que vos escreve, não participou desta reunião, mas com amigos participando, a triste realidade foi testemunhada. Partidários do PMDB, do PSTU e do PCdoB, trocaram “farpas” entre si e quase saem na tapa, literalmente, nesta reunião onde ficou clara a intenção de confronto direto com a polícia e promoção oportunista de vandalismo. Comprovando esta afirmação, a inteligência da Polícia Militar já identificou alguns partidários que fomentaram a bagunça depredadora, realizada na sede da Prefeitura da cidade, no término da manifestação.
Contudo, o que fica registrado, é o já percebido neste tipo de ato: em todo grande aglomerado, sempre haverá vândalos e criminosos esperando as oportunidades, para praticarem seus atos inconsequentes. Quanto maior a massa popular, maior a chance disso acontecer e maior o número de delinquentes envolvidos. Pra isso há estatísticas sociológicas que quantificam os dados. Vale lembrar que atos isolados de violência, sempre serão foco das lentes da imprensa, ávida por sensacionalismo e doutrinada para a deturpação da informação por interesses maiores.
Bela imagem de momento histórico na capital do Amazonas
Como remediação ficam as dicas: 1) nunca vá sozinho a uma manifestação popular em massa. Quanto mais conhecidos, familiares, amigos com você, mais seguro você estará; 2) evite ir de carro. Ele pode ser alvo de depredação. Procure transporte público, transporte alternativo ou mesmo ir a pé; 3) não vá de roupas sociais. Se por acaso for preciso correr ou alguma outra movimentação inesperada, roupas esportivas serão mais adequadas. Sapatos de salto são mais propícios para acidentes, nestes casos. Terno e gravata pode causar má impressão e fazer com que você seja confundido com um político ou empresário mal avisado, prováveis alvos de agressões; 4) evite levar objetos cortantes como garrafas de vidro, estiletes, canivetes e afins. Numa revista, você pode ser dado como agitador; 5) fique sempre esperto para o que está acontecendo a seu redor. A qualquer momento algo de ruim pode acontecer por perto. Se você estiver atento, mais fácil você escapará para manter sua integridade física; 6) afaste-se se perceber algo estranho. Uso desenfreado de bebidas, grupos caracterizados como gangues, correria etc. Se ver algo parecido, mantenha distância.

Finalizando, é bom dizer que toda manifestação pública é Direito Constitucional, saudável em seu exercer e dever para a saída do conformismo. A grande maioria é pacífica, deseja melhorias e tem de procurar a prática do amor incondicional, independente de partido político, opção sexual, diferença religiosa, raça etc. Somente com a manifestação é que você pode ser escutado, e já está mais do que evidente que você pode ser atendido.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

It's Not a Love Story - Parte 1

Já a conhecia de vista. Ela vagava em alguns bares, meio que sem rumo. Exatamente como eu. Porém, havia alguns diferenciais. O principal era que, de vez em quando, ela sorvia um gole de algum copo de bebida ou portava um cigarro. Eu já não bebo e não fumo. Sendo que naquela época, ainda “puxava Mary Jane” esporadicamente. Cheguei a vê-la um dia, em um desses bares, dando uns tragos num desses cigarros proibidos, que sempre rolavam livremente no entorno dos lugares undergrounds. Meu primeiro pensamento foi “Que pena! Tão nova, tão bonita e já perdida nestas armadilhas notívagas”. Puro engano meu, porque se trata de uma garota extremamente inteligente e que dificilmente se deixa derrubar por fraquezas carnais, salvo os, ainda presentes nela, tabaco e bebida alcoólica. Seu físico me atraiu logo na primeira vez que a vi. Ela não possui as formas de uma modelo fotográfica, mas seu estereótipo é exatamente o que me cativa. Os longos cabelos escorridos, negros, contrastavam perfeitamente com a pele pálida de um rosto de traços finos e expressão serena. Não tinha como eu não olhar, quando a figura se presenciava.
Passaram-se alguns anos e um amigo me convida para a ingestão, em sua residência, do tão agradável “vinho da alma”. Ayahuasca, para quem não está familiarizado com o termo. Ao chegar na casa, tamanha foi minha surpresa em notar que ela lá estava, juntamente com outros convidados. Desde então, nascia uma amizade forte, honesta e de uma confiança mútua de respeito e admiração. Ela também era integrante de um dos grupos voluntários que atuo, o que aumentou mais ainda os contatos, conversas e risadas que sempre trocamos juntos.
A cada diálogo, mais afinidades eram percebidas, sendo que algumas são simplesmente incríveis, de uma coincidência lógica, que somente duas peças de um quebra cabeças possuem para se juntarem formando um só ponto em comum. Temos exatamente o mesmo gosto musical, com uma pequena diferença em minha natural tendência acentuada ao punk-rock. Literatura, cinema, quadrinhos, religião, política, filosofia e até mesmo o vestuário revela hegemonia entre eu e ela. Recentemente descobrimos que temos exatamente o mesmo tipo sanguíneo.
Num determinado momento, tivemos a oportunidade de tomarmos ácido juntos. Fomos para o sítio de um primo meu, pela parte da noite, quando o clima era mais agradável e o fim de semana convidativo. Durante o efeito lisérgico, nossa sintonia permaneceu ativada. Por mais que eu estivesse com os sentidos totalmente alterados, fiquei todo instante atencioso para o estado dela. Minha preocupação talvez fosse desnecessária, mas tive a atenção de atinar se estava tudo bem, se ela desejava algo, se alguma coisa incomodava e principalmente se ela estava bem de saúde. A experiência foi agradabilíssima e depois dessa sucederam outras mais.
Saíamos juntos constantemente para procurarmos o tão desejado estado alterado da mente. Não demorou a nos trancafiarmos em meu quarto, ao som de meus discos que eram de mesmo gosto dela. Passávamos madrugadas inteiras juntos. Assistindo vídeos, escutando música e com muita conversa, sempre com teor interessante e que proporcionava sorrisos constantes, às vezes gargalhadas. Numa dessas noites, Coloquei pra tocar a trilha sonora do clássico filme Blade Runner. Disse a ela que esta era a trilha sonora mais executada em motéis, mais especificamente a faixa Love Theme, que possui um solo de sax um tanto sensual. Num lapso de criatividade, convidei-a para dançar esta música comigo. Sem algum tipo de rejeição, ela sorriu. Abraçamos-nos e dançamos abraçados como um perfeito casal de amantes. Nunca havia tido um momento tão singelo e tão íntimo com ela. Sentir o seu corpo colado ao meu, juntos na cadência de um mesmo ritmo, com o cheiro de seu pescoço invadindo deliciosamente minhas narinas, espontaneamente me despertou o desejo. Antes que a música terminasse, eu segurei o seu rosto e procurei um beijo. A princípio ela tentou recusar, espantada pela minha reação inesperada. Chegou a perguntar: O que é isso? Mas não demorou pra se entregar ao inevitável. Talvez ela também tenha tido o mesmo desejo, mas por uma série de motivos óbvios, não teve a iniciativa que eu tive, e já não podia mais conter.
Os beijos tornaram-se calorosos e ardentes como a explosão de um vulcão adormecido por muito tempo. Tiramos nossas roupas e nos amamos na fome de quem precisa do alimento para manter sua vida. Ela teve alguns orgasmos e no final confessou que, como o coito foi muito bom, porque não repeti-lo outrora? Várias outras noites de amor aconteceram, e praticamente em todas, o prazer foi recompensador para ambos.
Algumas semanas atrás, estávamos num quarto de motel gozando o efeito psicodélico do ácido, ao som de um pequeno aparelho de micro system que eu havia levado para não cairmos na rotina de praxe desses ambientes artificiais. Tu ainda escutas fitas cassete? Foi a pergunta que ela me fez ao ver o artefato no primeiro momento eu que eu coloquei pra funcionar. Dentre as várias fitas que rolaram durante aqueles momentos maravilhosos, houve uma que reviveu a lembrança dela. Justamente a trilha sonora de Blade Runner. Ela lembrou imediatamente da fatídica dança em meu quarto. Com toda a sinceridade, nosso primeiro momento de prazer sexual me é inesquecível, bem como cada um deles, contudo, eu não me recordava de nossa dança de casal. Um sorriso me surtiu um efeito maravilhoso em reconhecer que o momento ficou guardado em sua memória. Como algo marcante de uma benevolência gratificante e simplesmente inesquecível.
Ainda comigo, a certeza de que muitos e muitos outros momentos inesquecíveis nos virão ao longo dos anos.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Poema para Orestes

          O poema abaixo é de autoria de uma ex-namorada minha, chamada Isabela Lillo. O escrito foi feito para mim e refletiu com muita sinceridade tudo o que vivemos na época. Particularmente eu adorei, não só por ter sido o primeiro poema escrito para minha pessoa, mas também porque as palavras são muito realistas para o meu sex appeal e toda a experiência inesquecível que passamos.
           Depois de passados alguns anos de término do namoro, eu ainda tentei retomar contato com essa mulher adorável, mas infelizmente sem sucesso. De qualquer forma, espero que ela esteja bem, com saúde e vivendo muitas felicidades, exatamente como ela merece.
                Mantive a mesma grafia escrita por ela, para não modificar absolutamente nada.



Nos teus gestos a sede insaciável
dos suores do meu corpo
cada poro, um copo que transborda
embebido tuas mãos do meu prazer

A cor indefinível
destes olhos me confunde
ternura que contradiz
malícias que teu corpo diz

Me deleito em teus lábios
carne macia pros meus beijos
duas línguas se misturam
entre sopros de desejo

No balanço de uma dança
minhas pernas te envolvem
nosso canto involuntário
os gemidos abafados